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Transversalidade & transdisciplinaridade,

visões poéticas1
Públio Athayde 2©

Transversalidade e transdisciplinaridade são


quesitos postos à visão de mundo como
necessidade de abrangência significativa e
expressão polissêmica sem as quais a
emulação se perde no vazio sensorial. Aqui se
reflete sobre a poética dessa multiplicidade.

A transversalidade como proposta de visão poética refere-se ao colateral, ao que


passa ou atravessa os objetos significativos. “Transversalidade” aqui remete à idéia de
“fenda”, “abertura”, “alinhamento em outra direção”. A transversalidade é abertura,
possibilidade metodológica para expressão estética, ao alinhar os conteúdos tópicos em
outra direção, estabelecendo novas relações entre os pontos de vista: os que são
teoricamente sistematizados e emulados das artes eruditas e os que estão na vivência, no
cotidiano autoral. A transversalidade é estratégia de resgate da percepção ampla da
realidade mediante emprego de determinados elementos de grande potencial
significativo, denominados, nesse caso, de eixos/temas transversais (musical, literário,
pictórico) 3.

O limite da transversalidade seria o que os Pintura


Música
sofistas definiram como programa de ενκυκλιοσ
παιδεια (paidéia cíclica ou enciclopédia, conjunto Poesia

de todas as ciências). Preocupando-se com a


compreensão generalista no limite possível da
completude. O programa da ενκυκλιοσ παιδεια foi Transdisciplinaridade

1
Este artigo é um recorte da discussão que se apresenta completa em As Quatro Estações – Mimeses. O
tema tem sido estendido no blog de mesmo nome.
2
Historiador e cientista político.
3
FERREIRA, 2001, adaptado.

publio.athayde@gmail.com 1
retomado e elaborado pelos retóricos romanos, que transmitiram o esquema das orbis
doctrinæ (doctrinarum orbem) aos mestres do ensino medieval. 4 A idéia foi retomada
por Diderot e D’Alembert.

Essa visão globalizante se opõe à disciplinaridade disjuntiva 5, segmentação de


significações e de referenciais estéticos. O conhecimento disjuntivo, estanque, propugna
a objetividade asséptica e tem a subjetividade eliminada, o sujeito é excluído do
processo. Nicolescu 6 diz que “a objetividade instalada como critério supremo de
verdade teve uma conseqüência inevitável: a transformação do sujeito em objeto”.

O fracionamento do saber e do ver implica a


especialização das ciências também e resulta na
ANTES, O VERBO
fragmentação das consciências, na interpretação
isolada dos eventos e dos signos. A realidade vista Torcer o verbo,
Antes que ele se torne carne.
apenas em fragmentos seccionados, forjando-se a Rasgar a carne,
Antes que ela se torne pecado.
ilusão e incorrendo em erro de paralaxe. Essa visão Gozar o pecado,
Antes que ele se torne proibido.
destorcida do mundo é o que vem ocasionando a Esquecer o proibido,
Antes que ele se torne verbo.
poluição, a destruição do equilíbrio na natureza, na Torcido e rasgado,
Gozado e esquecido,
medida em que as visões separatistas desvinculam O verbo e a carne,
O pecado e o proibido.
a ciência da consciência, a sensibilidade da
Que tudo se torne.
racionalidade, a materialidade da espiritualidade, o Antes.

sonoro do cromático, o poético do científico. 7

Esse modelo disciplinar ou estético separatista desvincula o conhecimento da


sinuosidade, complexidade e multiplicidade do cotidiano, constituindo-se de teorias
abstratas, lineares e cinzentas – em termos pictóricos, monótonas ou monorítmicas – em
termos musicais. “O pensamento é separado da carnalidade do vivido.” 8 Os conteúdos
fracionados e reduzidos a fórmulas analíticas quantitativas desfiguram o dinamismo

4
FERREIRA, 2001:54.
5
ARAÚJO, 2000.
6
NICOLESCU 1999:18.
7
ARAÚJO, 2000, adaptado.
8
ARAÚJO, 2000.

publio.athayde@gmail.com 2
qualitativo do ser, das coisas, das interligações existentes entre parte e todo. A
segmentação analítico-funcional e estética denegou o ontológico, a compreensão
expressiva do ser em sua unitas multiplex, a inteireza e complexidade das coisas, dos
seres, dos signos.

A “carnalidade do vivido”, quer posta em termos estéticos ou científicos, há que


ser devidamente torcida, para que dela se extraia o sumo que o verbo, o compasso ou o
arco-íris da palheta representam.

Mesmo a dicotomia arte-ciência é empobrecedora, veda o universo sensorial,


obsta a imaginação (principalmente dos leigos). É a ciência positiva, matematizada, fria
e tecnicizada (obsoleta!), isolando filosoficamente o homem social. 9 Descartar a ciência
no processo inventivo é abandonar o elemento gnosiológico do contato entre a poesia e
a pintura no discurso platônico. Descartar a arte no conhecimento científico é relegar ou
negar o papel do sujeito na construção do saber.

Refletirá a ordem, a percepção e a retórica dos sons e imagens a natureza das


coisas. A música espelhará, como estrutura orgânica de som, assim como as demais
linguagens – de alguma forma, a essência de uma sociedade, uma era, um pensamento?
Sou levado a crer que sim e é nessa hipótese que calço meu argumento. Mas não se
pode ouvir a música setecentista com ouvidos modernos, ou ver um quadro ou imagem
escultórica de 200 anos supondo que o homem de alguns séculos a ouviu com o mesmo
ouvido de hoje, ou viu com os mesmos olhos, nem do ponto de vista físico. Nem
podemos ler versos de bicentenários como se tivessem sido escritos hoje – pois, em sede
de mutação, o sentido da palavra é a instância mais fluida.

É na elaboração do mais alto grau metafórico, empreendendo a mimese nessa


trama de sinais, que se estabelecida a compreensão dos processos semióticos das obras
emuladas e que se pôde obter um produto mais próximo à realidade e de sua
compreensão figurativa – tanto do ponto de vista visual direto quanto simbólico
discreto.

9
PEDROSA, 2006.

publio.athayde@gmail.com 3
Urdir esta complexa trama de conexões múltiplas implicará o enfrentamento
com a diversidade discursiva pretensamente intimidativa, legitimada pelos saberes
cristalizados. É modo de devorar o objeto a ponto de desfigurá-lo, realizar a
carnavalização da retórica nesse ritual canibalístico e fazer do banquete dionisíaco fonte
produtiva de texturas híbridas, polifônicas, babélicas 10, eis alguns dos propósitos da
visão transversal e transdisciplinar.

O discurso transdisciplinar, excelência da retórica iconográfica na linguagem


contemporânea, tem por um lado amplificada sua eficácia, mas se torna mais neutro à
medida que sua linguagem é mais complexa, metafórica, metonímica, universalista.
Prosseguindo na linha desta aparitmese 11, o discurso transdisciplinar e transversal deixa
de ser dominante, para ser dialógico; deixa de ser didático para ser didascálico, deixa de
ser literal para ser literário; o discurso desta retórica não é jornalístico, mas é cotidiano e
atual; não é discurso persuasivo, mas não deixa de ser sugestivo 12. É discurso
apofântico 13, lúdico, polêmico, aberto.

Referências

ARAÚJO, Miguel Almir L. de. Transdisciplinaridade e educação. Revista de Educação


CEAP. Salvador: ano 8, p. 7 a 19, dez-fev. 2000.
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 1986.
FERREIRA, Nali Rosa Silva. As concepções de Transversalidade,
Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade como base do processo de formação
de formadores da Educação Básica; um estudo de caso no Centro Universitário de
Belo Horizonte (Uni-BH). Belo Horizonte: CEFET (Dissertação), 2001.
NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999.

10
TREFZGER, 2007, adaptado.
11
Aparitmese: na retórica, ato ou efeito de enumerar, especificação, designação de coisas uma por uma.
HOUAISS.
12
Para taxonomias de discurso, vide CITELLI, 1986.
13
Apofântico: enunciado verbal passível de ser considerado verdadeiro ou falso, em função de descrever
corretamente ou não o mundo real Aristóteles considerou-o o único objeto a ser estudado pela lógica,
em contraste com as manifestações lingüísticas afetivas, desejantes, interrogativas etc., que
pertenceriam antes à retórica ou à poética. HOUAISS.

publio.athayde@gmail.com 4
PEDROSA, Mário. Ciência e Arte: vasos comunicantes. In: FERREIRA, Glória (org.).
Crítica de Arte no Brasil: Temáticas contemporâneas. Rio de Janeiro, FUNARTE,
2006; p.49-54.
TREFZGER, Fabíola Simão Padilha. Neobarroco – a apoteose do artifício. Acesso a
<http://www.ufes.br/~mlb/multiteorias/pdf/FabiolaSimaoPadilhaNeobarrocoAApoteose
DoArtificio.pdf> em 1 de julho de 2007.

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