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1. INTRODUÇÃO
levar um homem a não alcançar o seu objetivo.”1 Talvez, neste ponto, Clausewitz tenha
interpretado com precisão e concisão a alma de uma batalha: a imprevisibilidade.
Dentro desse contexto, os chamados Imponderáveis da Guerra devem ser
considerados pelos planejadores das operações que envolvem, em particular, tropas
blindadas e mecanizadas.
2. DESENVOLVIMENTO
Delimitado o problema, procurar-se-á definir a amplitude que os imponderáveis da
guerra atinge e, utilizando-se de exemplos históricos envolvendo expressivo uso de
blindados, fundamentar-se-á as argumentações. Ao final, buscando minimizar os
impactos dos imponderáveis da guerra, serão oferecidas sugestões.
a. Os Imponderáveis da Guerra
Os Imponderáveis da Guerra podem ser definidos como o conjunto de fatos e de
fatores que ocorrem em combate – positivos ou negativos - que não podem ser
quantificados ou antecipados na sua totalidade pelos comandantes (Cmt) e planejadores.
O inimigo que surpreende, a munição que acaba, o combustível que falta, a comida
que não chega, a ferida que rasga a pele, a genialidade ou a incompetência crassa do
comandante, a covardia ou o heroísmo do soldado, a quebra do carro de combate (CC)
durante o ataque, a aviação que lança as bombas sobre a tropa amiga, a fumaça que não
permite enxergar o alvo, os limites indefinidos do terreno, o frio e a chuva que abatem o
ânimo, o sol que cega as vistas, a lama impregnando e emperrando o armamento, a falta
de adestramento, a liderança tíbia, o socorro que não chega, a junção que não se efetiva,
o rádio que não funciona, o equipamento que não corresponde às expectativas, o
armamento novo do inimigo, a solidão, o medo...
Tais aspectos podem, muitas vezes, modificar profundamente os prognósticos
iniciais do combate, alterando o resultado final. Isto ocorre porque não é possível
encontrar uma fórmula matemática que preveja todas as possibilidades após a
ultrapassagem da LP/LC, já que existe uma variante altamente imprevisível em qualquer
enfrentamento bélico que inviabiliza, parcialmente, teorias e modelos de cálculo do poder
de combate: o HOMEM. Moltke já antecipava esta idéia – impossibilidade de se “calcular
o desenvolvimento do combate” - na primeira metade do século XIX, dizendo:
1
CLAUSEWITZ, Carl von. On War, Princeton, 1976. Apud FREYTAG-LORINGHOVEN, Hugo von. O Poder da
Personalidade na Guerra. Rio de Janeiro: Bibliex, 1986. p. 59.
3 Autor: Heitor Freire de Abreu
Título: Forças Blindadas e Mecanizadas e os Imponderáveis da Guerra
Agosto de 2004
“Nenhum plano operacional pode ser planejado com certeza além do primeiro
engajamento com o inimigo. É uma ilusão pensar que podemos planejar toda uma
campanha e chegar até o fim da forma planejada... A primeira batalha determinará uma
nova situação em que a maior parte do plano original será inaplicável.”2
b. Casos Históricos
No que se refere às forças blindadas e mecanizadas, a História fornece grande
espectro de lições a serem assimiladas pelos oficiais de Estado-Maior no nível unidade,
demonstrando que nem sempre a força mais bem equipada ou com maior número de
combatentes será a vencedora.
1) Operação Market Garden
Em setembro de 1944, em face do êxito obtido na Invasão da Normandia, os
Aliados lançaram um ousado plano para finalizar os combates na Europa. Chamaram-no
de Operação Market Garden. Tratou-se de uma operação de junção em que tropas pára-
quedistas e aerotransportadas foram lançadas sobre pontos importantes que
assegurassem a travessia do rio Reno. Após o envolvimento vertical, unidades blindadas
americanas e britânicas deveriam efetuar a junção com as tropas desdobradas três dias
atrás. Contudo, os Imponderáveis da Guerra agiram de forma cruel sobre os Aliados.
Diversos fatores conduziram à derrota frente aos alemães, destacando-se intrigas
políticas e vaidades no campo de batalha, falhas no sistema operacional inteligência e
condições meteorológicas adversas, dentre outros. O fato mais marcante, porém, foi a
falha da inteligência Aliada. Por mero acaso, os alemães haviam transferido para a
localidade de Arnhem (Holanda), ponto chave para as operações, uma de suas melhores
tropas blindadas, surpreendendo e derrotando os ingleses que esperavam encontrar
tropas de segunda classe. Embora superiores no que tangia às forças blindadas e
aeroterrestres, os Aliados sofreram fragorosa derrota em função da sinergia de inúmeros
fatores negativos sobre suas tropas.
2) Guerra dos Seis Dias
Este conflito, ocorrido em 1967, envolveu, de um lado, Israel, e do outro, o Egito, a
Jordânia e a Síria, com apoio de diversos outros países árabes. Embora muito superior
em material e pessoal, a frente árabe foi derrotada de forma inesperada pelos
2
KRAUSE, Michel D. Moltke e as origens da arte operacional. . Military Review (edição em português), EUA:
ECEME/EUA, Vol. LXX, nº 4, 4º Trim. 1990. p. 54.
4 Autor: Heitor Freire de Abreu
Título: Forças Blindadas e Mecanizadas e os Imponderáveis da Guerra
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Nesse momento, Zwicka fora avisado pelos carros que o acompanhavam que se
aproximava uma coluna de blindados sírios equipados com pequenas luzes laterais. Às
21:20 horas, avistou na estrada o primeiro carro sírio, O primeiro tiro, a curta distância,
pôs em chamas o inimigo, mas o choque fez com que seu sistema de comunicações
entrasse em pane. Zwicka sinalizou para que o carro mais próximo se aproximasse;
trocou de lugar com o oficial que o comandava e ordenou-lhe que o seguisse e que o
imitasse em tudo que fizesse. Após percorrer poucas centenas de metros, verificou que
perdera seu acompanhante; ao galgar uma elevação, avistou na estrada três carros sírios
3
Junto com o General Don Morelli, criaram o que eles mesmos chamaram de “Doutrina Ar-terra”.
4
Apud TOFFLER, Alvim. Guerra e Antiguerra: Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. Rio de Janeiro: Bibliex,
1995. p. 66.
5 Autor: Heitor Freire de Abreu
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com pequenas luzes laterais acesas. Três tiros rápidos e os três irromperam em chamas,
que arderam por toda noite. 5(grifos do autor)
5
HERZOG, Chaim. A Guerra do Yom Kippur. Rio de Janeiro: Bibliex, 1977. p. 121. Para se aprofundar nesse combate,
onde o Ten Zwicka combateu durante 20 horas ininterruptas, consultar p. 111 – 136, incluindo fotos.
6 Autor: Heitor Freire de Abreu
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Agosto de 2004
Após uma análise rápida, decidiu que a única saída seria um contra-ataque
de desorganização, a fim de atrasar as forças sírias e egípcias. A confusão era tamanha
que a distância entre os carros contendores estava entre 50 e 27 metros!6 A capacidade
mental e física das guarnições israelenses era mínima. Apoio ao combate e logístico não
existiam mais. Chegavam a quatro noites de luta, ininterruptas. O cansaço era tamanho
que quando Avigdor falava com o seu oficial de operações, este adormeceu no rádio.
Foi neste momento que o Tenente Coronel Yossi, comandando o que
restara da Brigada Barak (onze carros), penetrou na defesa de Avigdor e proporcionou-lhe
algum reforço. A 7ª Brigada encontrava-se com apenas sete carros dos cem iniciais.
Observadores israelenses verificaram que os sírios estavam recuando e detendo o
ataque. As perdas estavam sendo inaceitáveis para eles. O que sobrou da 7ª Brigada
mais as tropas da Brigada Barak, indo contra qualquer lógica, deflagraram um pequeno
contra-ataque contra as forças sírias que se retiravam. Destruíram carros e transportes
inimigos. Ao atingir um fosso anticarro, pararam o contra-ataque. A 7ª Brigada atingira o
limite das possibilidades física e mental dos seus homens e mecânicas dos seus carros.
O que levou a 7ª Brigada a conseguir realizar empreitada tão magnífica, invertendo
os prognósticos lógicos? Determinação do seu comandante, liderança em todos os
escalões, adestramento de altíssimo nível, profundo conhecimento das possibilidades do
equipamento, são algumas razões. Sabedores que o inimigo possuía um equipamento
melhor, trataram de usar o limite máximo do que possuíam. Tabelas de tiro foram
preparadas, roteiros de tiro minuciosamente confeccionados, fossos anticarros
escavados, criteriosa utilização do terreno, ocupando elevações que lhes possibilitava
comandamento sobre o oponente. A isso tudo, chama-se de adestramento bem feito, forte
liderança e criatividade dos oficiais, servindo de anteparo às desfavoráveis condições de
combate que surpreenderam os israelenses no início da luta.
6
Para saber mais sobre essa batalha ler HERZOG, Chaim. A Guerra do Yom Kippur. Rio de Janeiro: Bibliex, 1977.
p.148 – 161.
7 Autor: Heitor Freire de Abreu
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combustível numa zona de ação profunda, larga e com distâncias expressivas a serem
percorridas.
Como dado geral, um regimento de carros de combate (CC) ternário, dotado de
M60 A3 TTS (41 CC no total), precisa de 59.737 litros de óleo diesel para plenar seus
tanques, além de 2.583 tiros de munição 105 mm, 656 granadas de fumígenos, 82.000
tiros de 7,62 mm e, em igual quantidade, de .50. Estes números são uma estimativa
somente para os CC. Ainda há as demais Vtr de apoio do esquadrão (Esqd) CC e o Esqd
de comando e apoio. Imagine-se o que tais necessidades logísticas significam em peso e
volume a serem transportados pelo sistema operacional logística!
Tal quadro, revela as inúmeras necessidades de uma tropa de natureza blindada
ou mecanizada; podendo tornarem-se vulnerabilidades se bem exploradas pelo inimigo. O
simples corte de parte da sua logística compromete de forma percuciente o
desenvolvimento dessas tropas em combate.
Todavia, algumas medidas podem ser tomadas no sentido de se diminuir o efeito
dos Imponderáveis da Guerra sobre tropas blindadas e mecanizadas, conforme
enumerado abaixo:
1) Adestramento
O adestramento é a forma mais primária para se minimizar os efeitos de eventos
não planejados em combate. Se os homens não forem suficientemente treinados na paz
em todas as tarefas que deverão desempenhar em campanha (sejam individuais ou
coletivas), pouco poderão fazer em face dos problemas que certamente ocorrerão.
Iniciativa e flexibilidade são as palavras chaves no adestramento deste tipo de tropa.
2) Planejamento meticuloso e flexível
Embora a simplificação do combate seja um corolário dos exércitos, como deixa
claro John Keegan nos capítulos iniciais de sua obra “A Face da Batalha”7, a atividade do
oficial de Estado-Maior nível unidade avulta de importância no cenário moderno, onde a
capacidade de intervenção de forças militares oponentes no campo de batalha
tridimensional cresce geometricamente a cada conflito.
O planejamento deverá aliar a meticulosidade necessária ao bom planejamento
tático, buscando prever a maioria das possibilidades do inimigo, com a flexibilidade para
modificar ordens emitidas no decorrer da operação (planos de contingência, condutas,
ordens fragmentárias etc), mudando frentes principais, alterando composição de forças e
7
Para entender o ponto de vista de Keegan acerca da necessidade de simplificação da guerra, ler KEEGAN, John. A
Face da Batalha. Rio de Janeiro: Bibliex, 2000. p. 22. passim.
8 Autor: Heitor Freire de Abreu
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toda ordem de mutações necessárias em curto prazo e com o mínimo de perda no poder
de combate das forças desdobradas. A manutenção de uma reserva móvel, flexível e bem
posicionada no terreno, é boa solução no sentido de precaver-se contra os Imponderáveis
da Guerra. Planos rígidos e mentes essencialmente cartesianas não caberão no Estado-
Maior de forças blindadas.
3) Liderança firme em todos os escalões
A liderança, em todos os níveis, é fundamental para minimizar os efeitos dos
Imponderáveis da Guerra, conforme exposto nos casos históricos supramencionados. A
capacidade de manter seus homens focados na intenção do comandante, mesmo com o
planejamento inicial frustrado pelo inimigo, será o fulcro para a obtenção da vitória no
ambiente confuso dos conflitos atuais. Líderes dotados de sentimento de cumprimento de
missão são fundamentais para evitar a covardia, perda de crença na missão ou qualquer
outro sentimento que diminua a capacidade em manter uma tropa combatendo na sua
plenitude. O cenário de um combate desenvolvido dentro da Doutrina Delta será
altamente conturbado, repleto de surpresas e eivado de riscos. Não será qualquer líder
que estará apto a combater nestas condições.
4) Sistema Operacional Inteligência confiável e voltado para o terreno e o inimigo
Em apoio às operações, há necessidade de um sistema de inteligência apto
humana e materialmente, com possibilidade de fornecer informes, informações e, até
mesmo, análises consistentes sobre o terreno e sobre o inimigo. É fundamental que os
planejadores de operações que envolvam tropas blindadas e mecanizadas possam
basear seus planejamentos em dados fidedignos e pormenorizados; minimizando a
surpresa e, conseqüentemente, os imponderáveis no desenrolar do combate. O
detalhamento do Processo de Integração Terreno, Condições Meteorológicas e Inimigo
(PITCI) cresce de importância.
5) Conhecimento do material e das possibilidades e das limitações
É essencial que os componentes do Estado-Maior das forças aqui estudadas,
sejam oriundos de tropas da mesma natureza. O conhecimento do material blindado e
mecanizado, suas possibilidades e suas limitações, são fundamentais para que o
planejamento não leve em conta somente os dados de manuais, mas também o
desempenho real dos equipamentos. Saber como se comporta um M 60 A3 TTS na
chuva, os danos que este provoca em uma estrada de terra molhada, dificultando ou, até
mesmo, impedindo o trânsito de Vtr menores, pode significar a derrota pela falta de
9 Autor: Heitor Freire de Abreu
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3. CONCLUSÃO
RESUMO
ABSTRACT
It points out the imponderable of the war importance during the process of planning
of the employment of armored forces, using historical examples of conflicts happened in
the century XX. It enumerates measures to diminish the impact of the surprise in combat.
It concludes affirming that the effective planning and the serious training are measured
important that can take a troop with smaller military means than the ones of your
opponents to the victory.
AUTOR