Fim da 2ª Guerra Mundial e início da Guerra Fria;
Fim da Ditadura Vargas e início de um período
democrático e desenvolvimentista de Juscelino Kubitscheck; Menos exigidos social e politicamente, os artistas empreendiam uma pesquisa estética em busca de novas formas de expressão; Na literatura, ao lado de obras que mantinham certa preocupação social e davam continuidade ao regionalismo de 30, começam a se destacar produções em que a pesquisa acerca da linguagem era a grande inovação; A poesia de 45 trouxe a questão “a poesia é a arte da palavra”. Assim, alguns autores buscaram uma faceta mais formalizante, outros caminharam em busca de inovações na linguagem, tornando-a sintética, concreta e racional, dando continuidade a algumas experimentações de Drummond e Murilo Mendes. Clarice Lispector (1926-1977) – nascida na Ucrânia, veio para o Brasil muito cedo e tornou-se uma das mais importantes autoras brasileiras. Introduziu técnicas de expressão novas na linguagem, A narrativa geralmente subverte a estrutura tradicional dos gêneros (o conto, o romance), quebrando a sequência “começo, meio e fim” e a ordem cronológica; Funde a poesia à prosa, fazendo uso constante de figuras de linguagem em suas narrativas; “fluxo de consciência” – Clarice vale-se de uma experiência mais radical que a introspecção psicológica. É um aprofundamento na personagem que quebra os limites de espaço e tempo que tornam a narrativa verossímil. No fluxo, presente e passado se misturam, assim como realidade e desejo. O fluxo cruza vários planos narrativos, sem uma preocupação com a lógica ou linearidade da obra. João Guimarães Rosa (1908-1967) é um autor que dá continuidade à tendência regionalista, porém a partir de novas experiências no campo da linguagem. Estreou em 1946 com os contos de Sagarana, que surpreende pelas técnicas narrativas empregadas, além das inovações linguísticas. Em suas narrativas, Rosa tenta recriar a fala do sertanejo não apenas no plano do vocabulário como também no campo da sintaxe e no da melodia das frases. Em geral, dá voz ao sertanejo por meio de técnicas como o foco narrativo em 1ª pessoa, o discurso direto e o indireto e monólogo interior. Essa recriação da linguagem busca ir além da retratação da língua do sertanejo. Tomando por base essa variante linguís- tica, ele recria a língua portu- guesa, trazendo o uso de pala- vras em desuso, neologismos, emprego de palavras emprestadas de outros idiomas e exploração de novas estruturas sintáticas. - Faz uso de recursos mais comuns à poesia, tais como ritmo, aliterações e assonâncias, metáforas, imagens, criando uma prosa poética. João Cabral de Melo Neto (1920-1999) – nasce no Recife e se torna o mais importante poeta da geração de 45. Publicou “Pedra do Sono”, sua primeira obra, em 1942. Sua poesia é baseada na ideia “linguagem-objeto”, em que a palavra é buscada em sua objetividade e precisão. Para ele, a poesia não é fruto de sentimentos subjetivos, mas, sim, de um árduo trabalho racional que implica fazer e refazer diversas vezes o mesmo verso até que sua forma adequada seja obtida. No conjunto de sua obra, destacam-se a preocupação com a realidade, a reflexão permanente sobre o trabalho do artista e o aprimoramento da relação “linguagem-objeto”, isto é, a linguagem que, por sua própria construção, procura sugerir o mundo retratado. Sua obra mais conhecida é Morte e Vida Severina, um auto de Natal que faz uso do ritmo e da musicalidade, na qual ele aborda a vida de Severino, um retirante. — O meu nome é Severino, senhor desta sesmaria. como não tenho outro de pia. [...] Como há muitos Severinos, E se somos Severinos que é santo de romaria, iguais em tudo na vida, deram então de me chamar morremos de morte igual, Severino de Maria; mesma morte severina: como há muitos Severinos que é a morte de que se morre com mães chamadas Maria, de velhice antes dos trinta, fiquei sendo o da Maria de emboscada antes dos vinte, do finado Zacarias. de fome um pouco por dia Mas isso ainda diz pouco: (de fraqueza e de doença há muitos na freguesia, é que a morte severina por causa de um coronel ataca em qualquer idade, que se chamou Zacarias e até gente não nascida). e que foi o mais antigo