GOMES, Mércio Pereira. Cultura e seus significados. In: Antropologia: ciência do
homem, filosofia da cultura. São Paulo, SP: Contexto, 2008. p. 33 – 50. Significados e usos do conceito de cultura:
1. Cultura é um conceito de muitos significados e múltiplos usos e aplicações.
Contudo, o que nos importa é saber seu valor explicativo sobre o que é o homem em coletividades, suas características operacionais referentes aos aspectos que definem os seres humanos em sociedade, ou seja, a economia, a política e a religião. Conceito de cultura:
1. A cultura, conforme GOMES (2008: p. 36), “é o modo próprio de ser do homem
em coletividade, que se realiza em parte consciente, em parte inconscientemente, constituindo um sistema mais ou menos coerente de pensar, agir, fazer, relacionar-se, posicionar-se perante o Absoluto, e, enfim, reproduzir- se”. Modo próprio de ser:
1. o homem permanece animal, mas a cultura lhe dá características de
comportamento que vão além do comportamento animal. Sistema mais ou menos coerente de pensar:
1. Pensar é, conforme a Antropologia, articular uma compreensão de mundo
através da linguagem, ou seja, é um ato de consciência, individual, que se forma através das palavras, conceitos e sentidos de uma língua. Entretanto, é também um ato coletivo, na medida em que os termos desse pensar, as categorias do pensamento são dados pela cultura da qual o indivíduo faz parte. Modo de agir, relacionar-se e os valores que os justificam:
1. Além de ordenar o pensar, a cultura é um sistema que regula o agir, o modo de
relacionar-se e os valores que os justificam. 2. Os atos são variações individuais aceitáveis dentro do conjunto de atos de uma coletividade e variações aceitas que produzem mudanças no sistema cultural ou por são por ele rejeitadas. Assim, a cultura condiciona o comportamento e o pensar, mas dá liberdade para pensar e comportar-se diferentemente. 3. O indivíduo é uma realidade em si, empírica, mas é também um ser para outrem, depende de outros; o coletivo é algo que só existe para outrem, p ara os indivíduos. Podemos considerar que as duas entidades só existem verdadeiramente em função uma da outra. Posicionar-se diante do absoluto:
1. a cultura traz em si o reconhecimento de um limite de compreensibilidade de si
mesma, admitindo e elaborando a existência de algo acima do que pode ser conhecido, ou seja, o Absoluto. 2. O Absoluto se opõe ao relativo, ou seja, o que é passível de compreensibilidade e se apresenta culturalmente como o Deus, os deuses, os entes espirituais da floresta, o indecifrável, enfim, o misterioso. 3. Durkheim chamou o Absoluto de “sagrado” em oposição ao que é relativo, corriqueiro, isto é, ao que é “profano”. Reprodução da cultura:
1. A cultura se reproduz, é claro, através da reprodução física dos seres humanos
que a compartilham e está assentada em uma coletividade que, por meios físicos e culturais, tem por obrigação biológica se reproduzir. 2. A cultura se reproduz pela transmissão de significados culturais não somente de geração a geração, mas no espaço de uma mesma geração, no cotidiano. Sua transmissão se dá por meio da linguagem e do comportamento ensinado, emulado e aprendido pelos membros da coletividade. 3. A cultura tem meios e instituições de autopreservação e conservação que lhe permitem funcionar com estabilidade, dando confiança aos indivíduos que a vivenciam, ou seja, os modos de educação, formais e informais, que denominamos “enculturação”. Cultura e sociedade:
1. Sociedade é um todo de indivíduos agrupados em categorias sociais; tais
categorias se constituem por diferenciação, mesmo que não resulte em desigualdade. 2. A cultura, por sua vez, seria o modo de ser dessa sociedade e tem por função fundamental dar coesão, integridade, ao que é necessariamente dividido. 3. Numa sociedade igualitária a divisão se dá entre famílias, grupos de idade, etc., que foram interesses próprios; a cultura ultrapassa essas diferenças e faz todos se sentirem um só. 4. Numa sociedade de classes, a divisão se estabelece com mais força e com uma carga maior de interesses distintos pelo desequilíbrio econômico entre as classes sociais. Contudo, mesmo que cada classe tenha seu próprio modo de ser, há uma cultura maior que agrega as classes sociais e lhes confere uma identidade comum. A cultura produz unidade àquilo que é desigual. Ethos de uma coletividade:
1. Ethos significa costume, comportamento. Equivale, no latim, à palavra mores.
Ética e moral são dois termos derivados de ethos e mores e tem grande importância para a filosofia e, é claro, para a cultura. 2. A palavra ethos, quando relacionada a povo, coletividade ou mundo, refere-se subjetividade ou interioridade de sua cultura, a qual tem repercussão como valores e normas no seu comportamento e no seu modo de ver o mundo.