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FENOMENOLOGIA CRÍTICA DA

DEPRESSÃO NO BRASIL, CHILE E


ESTADOS UNIDOS.

Héldice Machado
Psicólogo clínico
CRP10 - 05390
INTRODUÇÃO
• A depressão tem alcançado níveis epidêmicos no
ocidente, nos apontando a vivência da “era da
depressão”

(BERLINCK, 2000; DAWSON & TYLEE, 2001;


EHRENBERGER, 2000; HEALY, 1997, 2001; LIMA,
1999; MOREIRA, 2002; SHUMAKER, 2001;
SHORTER, 2001).
INTRODUÇÃO
• Aumento do número do diagnóstico de depressão e
o desenvolvimento psicofarmacológico que tratam a
doença nos últimos 50 anos

• Relação direta entre o desenvolvimento do campo


biomédico com a ideologia da depressão
INTRODUÇÃO
• Apenas o que é diagnosticado é tratável – epidemia
de diagnósticos

• Uma pessoa triste ou alguém que sofre


psicologicamente não, necessariamente, tem
depressão.
INTRODUÇÃO
• O sofrimento é ontológico de acordo com a
Psicopatologia fenomenológica (MINKOWSKI,
2000)

• Seria a depressão síndromes previamente


diagnosticadas como ansiedade ou desordens
neuróticas tempos atrás?
INTRODUÇÃO
• Depressão é, hoje em dia, a forma mais comum de
doença mental (COX, 2001; DAWSON & TYLEE,
2001; LIMA, 1999)

• Índice de pesquisas elevadíssimos em depressão no


modelo positivista
INTRODUÇÃO

• Poucos estudos na área qualitativa que focalizem a


experiência humana da depressão em sua relação
com as raízes sociais e culturais do individuo.

• Era da tecnicista e intervencionista


INTRODUÇÃO

• Qual seria uma abordagem crítica do significado da


depressão no mundo contemporâneo e uma
metodologia que enxergue sua complexidade
política e histórica, considerando esta patologia
como um produto do contexto cultural singular de
onde ela emerge?
INTRODUÇÃO

• Modelo biopsicossóhistóricoideológico em
psicopatologia + Fenomenologia crítica =

PSICOPATOLOGIA CRÍTICO-
FENOMENOLÓGICO
INTRODUÇÃO
• A depressão precisa ser estudada como uma
experiência cultural, emergindo não somente dos
processos clínicos e estruturais, mas também de
fatores políticos e sociais, ou seja...

• A depressão NÃO É uma doença cuja etiologia é


puramente INDIVIDUAL (MOREIRA, 2002)
INTRODUÇÃO
• Muitos dos sintomas explicados como existenciais,
médicos ou psicológicos, frequentemente, tem
origens socioculturais, tal como mostram estudos
transculturais em psicopatologia
(ABOUD, 1998; DRAGUNS, 1990; KIM, LI & KIM, 1999; KLEINMAN,
1988; KLEINMAN & GOOD, 1985; MARSELLA, 1993, 1998, 2003;
MARSELLA & YAMADA, 2000; MATSUMOTO, 1997; MOREIRA,
2000; MOREIRA & BORIS, 2006; MOREIRA & CALLOU, 2006;
MORRIS, 1998; SARTORIUS, 1993; SCHUMAKER, 1996, 2001;
TATOSSIAN, 1997).
INTRODUÇÃO
• Faz-se necessário criticar o humanismo
antropocêntrico como parte de uma ideologia
individualista em psicopatologia. Mas como?

• O ser humano é mundano, definido através de


“múltiplos contornos”, que o entrelaça e o constitui
mutuamente
INTRODUÇÃO

• A psicopatologia não é somente um campo de


estudo, mas também uma experiência da patologia
mental, necessariamente incluindo sua dimensão
cultural, e as dimensões situacionais e endógenas
que existem em constituição mútua (MOREIRA,
2002; SAM & MOREIRA, 2002)
INTRODUÇÃO
• A psicopatologia não é somente um campo de
estudo, mas também uma experiência da patologia
mental, necessariamente incluindo sua dimensão
cultural, e as dimensões situacionais e endógenas
que existem em constituição mútua (MOREIRA,
2002; SAM & MOREIRA, 2002)
• Ou seja, a psicopatologia deve ser entendida dentro
de uma perspectiva biopsicossóhistóricaideologica.
HIPÓTESE DA PESQUISA

• A depressão não pode ser entendida dentro de uma


perspectiva individualista, mas sim por múltiplos
contornos
PROBLEMAS DE PESQUISA
• Qual o atual significado da depressão como uma
manifestação psicopatológica, investigando a
cultural brasileira, chilena e norte-americana, em
uma perspectiva mundana?

• Existem diferenças na depressão experienciada no


Brasil, Chile ou nos Estados Unidos?
PROBLEMAS DE PESQUISA
• É possível uma compreensão crítica desta doença
em sua articulação com cada cultura específica?

• Como ela se relaciona às peculiaridades culturais?

• Qual é o significado ideológico e cultural da


depressão no mundo contemporâneo?
METODOLOGIA

• População de pacientes diagnosticados com


depressão, ou com uma história de depressão, no
Brasil, Chile e Estados Unidos.

• 72 adultos. 22 no Brasil; 20 no Chile e 20 nos


Estados Unidos.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E
EXCLUSÃO

• Informações dos próprios indivíduos de que eles


tinham, ou tinham tido, diagnóstico de depressão.

• Pacientes que não quiseram participar, bem como


aqueles incapazes de fazer suas próprias escolhas.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E
EXCLUSÃO

• Esta metodologia de identificar pessoas com


depressão, baseada em suas próprias informações,
visou focalizar a própria experiência vivida de
pessoas que se consideravam depressivas.
PERGUNTA NORTEADORA DA
ENTREVISTA
FENOMENOLÓGICA

• QUE RELAÇÕES VOCÊ ENCONTRA ENTRE


SEU MODO DE VIVER E A SUA
DEPRESSÃO?
ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

• A) Transcrição da entrevista

• B) Divisão do texto original em seções, de acordo


com o seu tom

• C) Análise descritiva dos significados que


emergiram de cada seção;

• D) Saindo do parênteses (retorno a hipótese)


ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

• O diagnóstico foi posto entre parênteses para que,


então, a experiência, em si mesma, pudesse ser
estudada, de forma independente de como esta
doença é considerada ou categorizada

• O significado da depressão foi buscado através da


identificação de possíveis manifestações ligadas a
cada contexto social e cultural familiar
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• A experiência da depressão é associada as seguintes
categorias descritivas:

• 1) Descrição dos sintomas: Não existem diferenças


transculturais relacionadas significativas
relacionadas à sintomatologia da depressão, ainda
que existam diferenças transculturais relacionadas à
experiência associada a esta sintomatologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Os sintomas ocupam um lugar central na vida dos


pacientes entrevistas:

• “... chorava assim por qualquer coisa, ficava sem


comer, passava semanas sem comer. Ficava o tempo
todo pensando em me matar e em morrer.”
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• 2) Solidão: Independentemente da cultura, a solidão


aparece nos relatos dos sujeitos-colaboradores nos
três países, contudo com diferenças culturais
relacionadas à experiência associada a esta questão.

• Por exemplo...
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Em Santiago, a alusão à solidão vem de donas de


casa que ficam isoladas boa parte do dia

• Em Boston, a solidão ocorre porque a maioria dos


sujeitos entrevistados vive sozinha, afastada de sua
família – ser capaz, independente, autônomo e bem
sucedido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• No Brasil, a solidão parece estar associada à


crescente demanda do mercado por indivíduos que
trabalhem mais horas para manter seus empregos e
se sustentar financeiramente – falência, abandono e
incapacidade social.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• 2 tipos de solidão

• Solidão 1: Relacionada ao fato de ser sozinho, isto é,


não interagir com outras pessoas por várias razões,
especialmente por trabalho excessivo
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Solidão 2: Relacionada ao fato da pessoa se sentir


solitária mesmo estando rodeada de muitas pessoas
e pela família, sendo esta última um dos sintomas da
depressão, estando na ordem da experiência vivida
ontologicamente do que uma situação de vivida
concretamente
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• A solidão é tanto fator etiológico quanto sintoma da


depressão

• Seria ela causa ou consequência da depressão?


RESULTADOS E DISCUSSÃO

• “É essa tristeza, eu não sei dizer por que não. É uma


tristeza que você tem, que não tem por que, porque
graça a Deus eu sou bem casada e adoro a minha
filha, e não tenho dúvidas, mas é uma solidão, uma
tristeza.. meu negócio é ficar em casa sozinha,
preferencialmente deitada e me isolando de tudo.”
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• 3) Sofrimento e processos de perda: Um grande


número de sujeitos-colaboradores relacionou sua
depressão à perda de pessoas queridas, seja por
morte ou divórcio, mas especialmente por morte,
porém não sendo a morte a única razão para a
depressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• A condição experienciada é realmente um caso
clínico de depressão? Não é natural passar por
sofrimento psicológico causado pela perda de
alguém querido?

• “A depressão me deu quando me separei. Eu sentia


como se nunca mais fosse ter vontade de viver, me
sentia fracassado.”
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• 4) Histórico familiar de falta de afeto, violência e


abuso de álcool: Grande parte das pessoas
entrevistadas teve uma história pessoal de violência,
espancamento e abuso sexual, todos relacionados
com o seu próprio estado depressivo
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Em Santiago, a questão do abuso de álcool é mais


frequentemente associada à violência doméstica
(traço cultural marcante)

• Em Fortaleza, a violência é associada as ruas,


violência urbana
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• “...É essa depressão, ela é desde... porque eu fui criada num lar
com muitos problemas, sabe? Meu pai bebia muito e eu presenciei
todo o sofrimento forte da minha mãe... Era aquela guerra direto lá
dentro de casa, constante, e eu presenciei muito ele querendo matar
a minha mãe, não só eu como meus irmãos e toda vez que eu via
aquela cena muito triste (choraminga) eu procurava ajudar a minha
mãe, eu procurava socorrer, fazer alguma coisa... Ele dava em nós
era de pau, era com o que ele pegasse... Então tudo isso eu passei,
vi muitos maus-tratos na minha mãe, querendo dar um jeito e sem
poder, né?”
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• 5) Medicação: A compreensão biomédica da
experiência vivida é unânime nos três países,
estando a medicação diretamente associada à
depressão

• A medicação emerge como um símbolo de


“melhora”
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• A questão que se deve ter em mente, à luz de uma


abordagem crítico-cultural ou
biopsicossóciohistóricaideológica, é se...
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Os medicamentos e tratamentos prescritos realmente


tratam a doença chamada depressão ou se,
novamente, estão eles simplesmente eliminando os
sintomas, funcionando como abafadores do
sofrimento social e escondendo a tristeza?
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Apenas 1 dos 72 entrevistados, um norte-americano,


colocou que a sua depressão teve alguma melhora
com o tratamento farmacológico, de forma
independente de sua situação de vida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• “Graças a Deus eu tô tomando remédio pra melhorar
mais, né? Tem dia que falta remédio e as carne
treme toda e enquanto não toma esse tal de
‘diazepan’ que a doutora passou, eu tomo 2 de
manhã e um de noite, se não tomar as carne véia só
falta cair tudo no chão, eu nem sinto mais nada, eu
preciso tomar o remédio pra controlar os nervos,
né?”
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• 6) Trabalho, acumulo de tarefas, competição: Há
uma associação direta entre depressão e estresse no
trabalho

• A sociedade competitiva que enfatiza o trabalho e a


produtividade emerge das falas dos chilenos e norte-
americanos (recorte de nível intelectual e classe
social)
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• 7) Dificuldades financeiras – desemprego:


Associação à impossibilidade de comprar comida e
outros itens, além da incapacidade de atender ás
demandas dos filhos
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• A vontade de encontrar trabalho, associada a esta


impossibilidade, representa sofrimento para estas
pessoas, que se sentem impotentes no enfretamento
de uma situação que não podem mudar, associando
sua depressão com a sensação de inutilidade e
impotência
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• A desesperança provinda do desemprego

• “Aí veio a depressão... eu me sentia inútil, porque


você é acostumada a trabalhar desde nova e tem
coragem de trabalhar e aí você vai atrás de um
emprego e fecham as portas, né?”
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• 8) Discriminação social – estigma: Os brasileiros
associaram a sua depressão a experiências de
discriminação social referentes à pobreza e
marginalidade (vivendo num bairro pobre, sendo
considerado estranho), idade (tornando-se
improdutivo para a sociedade e ser incapacitado para
o trabalho) e o preconceito contra homossexualidade
(não assumindo sua real sexualidade, por medo do
julgamento)
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Estima da doença mental no seu ambiente de


trabalho (chilenos)

• Depressão a experiências de racismo (norte-


americanos)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• “Eu agora digo assim, que sou discriminada por três
coisas: discriminada pelo marido, discriminada
porque sou velha e discriminada porque moro num
bairro pobre, no Pirambú, aí quando perguntam onde
eu moro que digo que é no Pirambú o povo diz:
‘Vixe’. Isso tudo vai acabando com a gente. Agora
mais isso.. Por isso que eu tenho vontade de morrer
porque eu morrendo, acaba, acabou-se.”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
• 9) Violência urbana: A relação entre violência
urbana e depressão apareceu somente nas entrevistas
feitas no Brasil

• Este fato encontra-se relacionado ao fato de o Brasil


ser um país com uma das maiores discrepâncias
sociais do mundo
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• “Depressão é medo... Medo de ir bem ali e alguém


te pegar. Medo de uma bala perdida. Medo de a
guerra vir até aqui e levar alguém seu, da sua
família. Entendeu? Medo de tudo, de tudo”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

• 10) Religiosidade: Nesta pesquisa não houve


relação direta entre depressão com religião, porém
pesquisas outras mostram que a experiência
psicopatológica no Brasil tem, simultaneamente, um
significado espiritual e médico
CONCLUSÃO

• Apresenta-se que mesmo que não haja variação


cultural nos sintomas da depressão, existem
diferença com relação à experiência vivida,
conectada ao processo de subjetivação,
característicos de cada cultura.
CONCLUSÃO

• Estes resultados mostram que o modo de vida


contemporâneo contribui para o surgimento, e
manutenção, da depressão, através dos processos
subjetivos culturais específicos
CONCLUSÃO

• A maior parte da experiência reportada sobre a


depressão está associada a situações de vida e de
sofrimento social e psicológico, portanto é difícil
identificar se estas pessoas estão “doentes” ou se
estão meramente experienciando tristeza e
sofrimento psicológico.
CONCLUSÃO

• Apresenta, via fala dos entrevistados, uma


experiência de sofrimento relacionada a privação
econômica , violência, abuso sexual, falta de
cuidado e desemprego, de tal forma que a depressão
parece natural em tais situações de vida
CONCLUSÃO

• Se sentir depressivo nessas circunstâncias não é uma


patologia ou uma “anormalidade”, mas uma
“normal” e natural consequência de uma situação de
vida social “anormal”. (MARTIN-BARÓ, 1985,
1989, 1994).
CONCLUSÃO

• Na maioria das entrevistas, é impossível identificar


se o que está sendo descrito é uma patologia, um
estado emocional ou uma variação de humor, devido
às experiências de vida opressivas (MOREIRA &
SLOAN, 2002).
CONCLUSÃO

• Os resultados desta pesquisa corroboram a


perspectiva da psicopatologia crítica, nas crítica às
teorias psicológicas individualistas que entendem a
patologia como estando de acordo com uma
ideologia de responsabilidade puramente individual,
enfatizando a biomédica.
CONCLUSÃO

• Atenção aos profissionais de saúde, na intenção de


evitar uma possível medicalização da tristeza e do
sofrimento psicológico, transformando situações
psicossociais opressivas numa doença tratada com
medicamento
CONCLUSÃO
• A depressão, descrita nesta pesquisa, é uma doença
psicossocial, cujo tratamento necessita ir além da
ideológica biomédica.

• A depressão é uma doença


biopsicossociohistóricaideológica, cujo tratamento
necessita ir além da ideologia biomédica
CONCLUSÃO
• A depressão existe em mútua constituição com o
mundo, ou com os vários mundos diferentes, ou
seja, em múltiplos contornos

• Uma maior ênfase nos aspectos ideológicos e


culturais deste sofrimento pode vir a reduzir,
significativamente, a epidemia de depressão no
mundo de hoje.
CONCLUSÃO
• A depressão existe em mútua constituição com o
mundo, ou com os vários mundos diferentes, ou
seja, em múltiplos contornos

• Uma maior ênfase nos aspectos ideológicos e


culturais deste sofrimento pode vir a reduzir,
significativamente, a epidemia de depressão no
mundo de hoje.
CONCLUSÃO

• Espera-se que estes achados contribuam para


diminuir os casos de depressão, que alimentam o
mercado “psi’.

• E o que vocês concluíram com tudo isso?

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