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Antropologia Jurídica

Vitor Hugo Abranche de Oliveira


Texto 1
O que é antropologia?
Conrad Phillip Kottak
Antropologia pode ser
entendida como
“estudo do ser humano
enquanto ser biológico
e cultural”
O antropólogo é aquele
que estuda a diversidade
biocultural que constitui
as comunidades.
Frequentemente, implícita ou
explicitamente, encontramos
afirmações que tendem a
generalizar o ser humano:
“todos tem o desejo de consumir”(?).
“todos tem o desejo de ser
campeões”(?), “todos tem o desejo
de ter uma família”(?), “todos
resolveriam seus problemas dessa
maneira” (?), “todas as mulheres são
assim e todos os homens são assim”.
Somos iguais em todas
as partes do mundo?
“Iguais” referente ao
que?
À cultura?
À biologia?
À cultura?
Evidentemente, não.
E à biologia?
Conforme mostra o texto
de Kottak, também
somos seres diferentes
biologicamente devido à
culturas diferentes.
“A antropologia oferece uma visão
mais ampla – uma perspectiva
comparativa diferenciada e
intercultural. A maioria das pessoas
pensa que os antropólogos
estudam as sociedades não
industriais, e eles o fazem.”
No entanto, a antropologia é
muito mais do que o estudo dos
povos não industrializados. É
uma ciência comparativa que
analisa todas as sociedades,
antigas e modernas, simples e
complexas.”
“A maioria das outras ciências
sociais tende a se concentrar
em uma única sociedade, em
geral nações industrializadas,
como os Estados Unidos ou o
Canadá.”
“A antropologia oferece uma
perspectiva intercultural única,
comparando constantemente
os costumes de uma
sociedade com os das outras.”
O estudo da
Adaptabilidade humana
“A antropologia é a pesquisa da
diversidade humana no tempo e
no espaço, estudando o
conjunto da condição humana:
passado, presente e futuro,
biologia, sociedade, língua e
cultura.”
O autor nos lembra que as
culturas são as tradições,
opiniões e valores que
aprendemos com nossos
antepassados.
O que consideramos
adequado ou inadequado?
Ou como certo e como
errado?
A concepção de certo e
de errado muda
conforme mudam as
culturas.
Por exemplo:
Há, ainda, um debate ético
sobre a legitimidade de tirar a
vida de alguém. (existem
inúmeras variáveis como
legítima defesa, pena de morte,
etc).
Todo esse debate está
rodeado sobre a importância
e a sacralidade da vida. E é
um debate importante que
não vamos adentrar.
Mas, se a vida é tão sagrada
e tão importante, por que
não discutimos igualmente
a responsabilidade que é
dar a vida a alguém?
A vida é necessariamente
uma dádiva? Se sim, se
ela é um presente, não
deveríamos ter o direito
de recusá-lo?
Poderia ser argumentado com
razão: “mas a procriação é natural
do ser humano”.
Sim, mas o ser humano não é
aquele que se distingue dos outros
animais justamente por não fazer,
necessariamente, o que é
“natural”?.
“Como podemos
distinguir o certo do
errado? O que é certo e o
que é errado?”
Determinadas
sociedades produzem
seus graus de coerência
e a cultura é resultado
disso.
A cultura não é
transmitida de maneira
biológica, mas pelo
ensino-aprendizagem.
Isso significa que afirmações do tipo:
“brasileiros são todos assim...”,
“goianos são todos assim...”
costumam estar erradas pois
ninguém tem “naturalmente” traços
culturais, pois eles são ensinados e
aprendidos.
Mas significa também que há
determinados traços culturais que,
além de nos permitirem
compreender melhor as
sociedades, também nos
permitem entender parte de sua
biologia.
O autor cita dois
exemplos:

- O primeiro, sobre a
adaptabilidade à altitude.
Essa adaptabilidade pode se
dar de maneira tecnológica ou,
que nos interessa aqui,
adaptação genética, por
adaptação fisiológica de longo
prazo e adaptação fisiológica
de curto prazo.
Ele explica que as
populações de grandes
altitudes desenvolvem
estratégias biológicas que
derivam da cultura de
habitar grandes altitudes.
“Peito de barril”, maiores, de (ocorre ao longo
de gerações) nativos de grande altitude

Sistema respiratório mais prazo (ocorre


durante o crescimento eficiente para extrair
oxigênio e desenvolvimento do organismo do
ar rarefeito individual).

Aceleração dos batimentos prazo (ocorre


espontaneamente cardíacos, hiperventilação.
Da mesma maneira, o autor
demonstra que a cultura
norte-americana e a cultura
brasileira são diferentes
quanto às práticas esportivas
e às práticas estéticas.
“As meninas norte-americanas são
estimuladas a praticar competições que
envolvem patinação artística, ginástica,
atletismo, natação, mergulho; as
brasileiras, ainda que se destaquem nos
esportes coletivos, como basquete e
vôlei, não se saem tão bem em esportes
individuais, como as norte-americanas e
canadenses.
“Por que as pessoas são estimuladas a
se notabilizar como atletas em alguns
países, mas não em outros? Por que
as pessoas em alguns países investem
tanto tempo e esforço em esportes
competitivos a ponto de que seus
corpos se alterem significativamente
como resultado disso?”
“Padrões culturais de atratividade e
adequação influenciam a participação e o
desempenho nos esportes. Os norte-
americanos correm ou nadam não apenas
para competir, mas para se manter em
forma e em boas condições físicas. Os
padrões de beleza do Brasil tradicionalmente
aceitaram mais gordura, em especial nas
nádegas e nos quadris das mulheres.”
“Anos de natação esculpem um
físico diferenciado: torso
superior alargado, pescoço
grosso e ombros e costas
robustos. As nadadoras de
sucesso tendem a ser grandes,
fortes e volumosas.”
““Os países que mais produzem
atletas femininas da natação são
Estados Unidos, Canadá, Austrália,
Alemanha, os países escandinavos, a
Holanda e a ex-União Soviética,
onde esse tipo de corpo não é tão
estigmatizado como em países
latinos.”
“As nadadoras desenvolvem
corpos rígidos, mas a cultura
brasileira diz que as mulheres
devem ser delicadas, com
quadris e nádegas grandes,
sem ombros largos.”
“Muitas jovens nadadoras
do Brasil optam por
abandonar o esporte para
manter o corpo
“feminino” ideal.
A estética é mais
importante que a prática
esportiva? Se sim, a qual
nível? Se não, onde e
quando?
Se a nutrição é importante para
o crescimento, o mesmo se
aplica às orientações culturais.
Qual é o comportamento
adequado a meninos e meninas?
Que tipo de trabalho os homens
e as mulheres devem fazer?
Onde as pessoas deveriam
viver? Quais são os usos
apropriados do seu tempo de
lazer? Que papel deve cumprir a
religião? Como as pessoas
devem se relacionar com seus
parentes, amigos e vizinhos?
Se o profissional de direito
quer entender melhor não
apenas da sua profissão mas,
sobretudo, da sua sociedade,
essas perguntas não podem
passar despercebidas.
Subdivisões da
Antropologia:
 Antropologia e Humanismo
 Antropologia cultural.
Etnografia e etnologia.
Antropologia e Humanismo
Conhecemos por
Humanismo a linha
filosófica que tem o ser-
humano como principal
estudo e referência.
O humanismo tem início na Grécia,
influencia o pensamento Romano,
encontra um período de latência na
Idade Média e é retomado no
período da Renascença, mas
encontra sua principal estruturação
no século XIX – no Iluminismo.
O humanismo é uma das bases para a
constituição das ciências da antropologia
pois entende que as formas de
pensamento que levam à criação, ensino
e aprendizagem das culturas são
humanas, ou seja, nossos
comportamentos não tem origem
metafísica, mas sim culturais,
humanas.
Podemos pensar, a partir
disso, que nossos problemas
foram e são criados por nós
e, dessa forma, por nós
devem ser resolvidos.
O Humanismo é uma
tendência que prioriza a
racionalidade como
forma de resolução dos
problemas.
O problema desse tipo de
pensamento é que a tal
“racionalidade” acabou
centralizando também a
sociedade europeia, detentora
do que ela mesma concebeu
como filosofia e ciência.
As consequências mais
dramáticas dessa forma de
pensamento se mostraram no
etnocentrismo (eurocentrismo) e,
por conseguinte, na colonização
e, posteriormente, nos sistemas
totalitários do século XX.
O texto “ANTROPOLOGIA:
INTRODUÇÃO, CONCEITO,
ASPECTOS, HUMANISMO E
OBJETO DE ESTUDO” do professor
Me. Alessandro Martins Prado nos
auxilia a definir a relação entre
Antropologia e Humanismo
“- Das etapas do Humanismo:

“Etapas do humanismo Em estudo


intitulado Os três humanismos,
LéviStrauss (1993: 277 a 280)
constata que, para a maioria das
pessoas, a antropologia aparece
como uma ciência nova,
um refinamento e uma
curiosidade do homem
moderno pelos objetos,
costumes e crenças dos povos
ditos selvagens.”
“Observa, porém, que a
antropologia não é nem uma
ciência à parte, nem uma
ciência nova; é a forma mais
antiga e geral do que se
costuma designar por
humanismo.”
“O humanismo, segundo o autor,
pode ser decomposto em três
etapas:”
“a) a da Renascença: O
humanismo da Renascença
redescobre a antiguidade
greco-romana e faz do grego
e do latim a base da
formação intelectual.”
“Nesse sentido, esboça uma
primeira forma de antropologia, na
medida em que reconhece que
nenhuma civilização pode pensar a
si mesma, se não dispuser de
algumas outras que lhe sirvam de
comparação.”
“A Renascença reencontra, na literatura
antiga, noções e métodos esquecidos;
porém, mais especialmente, encontra o
meio de colocar sua própria cultura em
perspectiva, confrontando as
concepções renascentistas com as de
outras épocas e lugares.”
“Através da língua (grego e
latim) e dos textos clássicos, os
homens da Renascença
encontraram um método
intelectual que pode ser
denominado técnica do
estranhamento.”
“b) a dos séculos XVIII e
XIX: o humanismo dos
séculos XVIII e XIX atua
numa extensão mais
ampla.
“O progresso da exploração
geográfica colocou o homem europeu
em contato com o acervo cultural das
civilizações mais longínquas, como
China, Índia e América.”
“Trata-se de um humanismo ligado aos
interesses industriais e comerciais que lhe
serviam de apoio, motivo pelo qual,
mesmo diante da multiplicidade cultural,
carrega valores ligados ao etnocentrismo,
na medida em que estabelece a
identificação do sujeito com ele mesmo, e
da cultura com a cultura europeia.”
“Aqui nos deparamos
fortemente com o
ETNOCENTRISMO, com a noção
de que minha cultura é
superior, melhor, mais
avançada que a outra cultura.”
“c) a atual: o humanismo atual,
por intermédio da antropologia,
percorre sua terceira etapa ao
focar as sociedades primitivas,
as últimas civilizações ainda
desdenhadas.”
“Para Lévi-Strauss, esta será, sem
dúvida, a última etapa, porque, após ela,
o homem nada mais terá para descobrir
sobre si mesmo, ao menos em termos de
extensão.”
“Os dois primeiros
humanismos, segundo
ele, estavam limitados em
superfície e qualidade,
especificamente porque:
“a) as civilizações antigas
tinham desaparecido e só
poderiam ser conhecidas pelos
textos ou monumentos;”
“b) as civilizações longínquas
(Oriente e Extremo Oriente),
ainda que possuíssem textos e
monumentos, só mereciam
interesse por suas produções
mais eruditas e refinadas;”
“c) as sociedades primitivas não
despertavam interesse porque
não possuíam documentos
escritos e a maioria delas nem
sequer possuía monumentos
figurados.”
“Para superar essas limitações
e preconceitos, a antropologia
depara-se com a necessidade
de dotar o humanismo de
novos instrumentos de
investigação.”
“A antropologia, conforme
Lévi-Strauss, ultrapassa o
humanismo tradicional em
todos os sentidos, visto que
seu terreno engloba a
totalidade da terra habitada,”
“enquanto seu método reúne
procedimentos que provêm
tanto das ciências humanas e
sociais como das ciências
naturais, portanto, de todas as
formas do saber.”
“- ESTÁGIO ATUAL DA
ANTROPOLOGIA:

No seu estágio atual, a


antropologia fez progredir o
conhecimento em três direções,
ou novas etapas, sendo elas:”
“I) Direção ou Etapa de Superfície;
II) Direção ou Etapa de Riqueza de
Detalhes
III) Direção o Etapa de Ampliação dos
Beneficiários.”
“I) DIREÇÃO OU ETAPA DE SUPERFÍCIE
em superfície, porque se interessa por
todas as sociedades, sejam simples
ou complexas.”
“Para chegar ao estágio atual da
Antropologia de Superfície,
houve necessidade de se romper
com enormes preconceitos com
relações ao que foi classificado
como primeiras etapas do
humanismo. Neste sentido:”
“a) em um primeiro momento, a
antropologia não se despertou
interesse por civilizações antigas
que tinham desaparecidos,
havendo interesse apenas por
aquelas que haviam deixado textos
ou monumentos,”
“ ou seja, para a antropologia,
se não houvesse texto ou
monumento, não havia
interesse de estudo;
b) também com relação as civilizações
longínquas (Oriente e Extremo
Oriente), ainda que possuíssem textos
e monumentos, só houve interesse da
antropologia as produções
relacionadas aos textos e monumentos
que se revelassem mais eruditas ou
refinadas,
(ler Said, “Orientalismo”)
não despertando interesse de
estudo os demais relatos, ainda
que, sabemos hoje, que costumes
milenares vigoram nessas
civilizações até hoje,
como por exemplo o caso citado
em sala de aula de um Líder
Tribal de uma Vila conceder
refúgio a soldados estrangeiros e
os Talibãs mesmo em maior
número respeitar referido refúgio
e deixarem o combate.
Isso demonstra o quanto se
perdeu de conhecimento pelo
preconceito em se estudar mais
profundamente essas
sociedades;
c) Por fim, em um primeiro
momento, as sociedades
primitivas não despertavam
interesse porque não possuíam
documentos escritos e a maioria
delas nem sequer possuía
monumentos figurados.
Para superar o preconceito dos
exemplos citados acima, a
Antropologia precisou reconhecer a
necessidade de mudar sua forma de
ver as mais diversas sociedades
humanas em sua natural
complexidade e adotar novas formas
de investigação
o que vai, por exemplo, ser fundamental
para atingirmos uma das mais importantes
direções ou novas etapas do atual estágio
da Antropologia se organizando em três
direções e a principal direção é classificada
como ANTROPOLOGIA NA DIREÇÃO DA
SUPERFÍCIE, ou seja, ampliação da
superfície de estudos.
II) DIREÇÃO OU ETAPA DE RIQUEZA DE
MEIOS DE INVESTIGAÇÃO,

porque, em função das características


particulares das sociedades primitivas,
introduziu novos modos de conhecimento
que podem ser aplicados ao estudo de
todas as outras sociedades,
inclusive as sociedades contemporâneas
mais complexas, como é o caso da
sociedade europeia e da norte-
americana;
III)DIREÇÃO OU ETAPA DE AMPLIAÇÃO
DOS BENEFICIÁRIOS,

porque, ao contrário do humanismo


clássico restrito aos beneficiários da
classe privilegiada, alcança as
populações das sociedades mais
humildes.
ANTROPOLOGIA DUPLAMENTE UNIVERSAL
A antropologia marca, portanto, o advento
de um humanismo duplamente universal:
a) primeiro: procurando sua inspiração no
cerne das sociedades mais humildes e
desprezadas, proclama que nada de
humano poderia ser estranho ao homem,
e funda assim um humanismo
democrático que se opõe aos que o
precederam, criados para privilegiados, a
partir de civilizações privilegiadas;
b) segundo: mobilizando métodos e técnicas
tomados de empréstimo a todas as ciências,
para fazê-los servir ao conhecimento do
homem, a antropologia clama pela
reconciliação do homem e da natureza, num
humanismo generalizado.
Há, portanto, na base dessa nova
antropologia a afirmação do princípio
de alteridade e a negação do
etnocentrismo.
Afirmar a alteridade significa fazer um
apelo ao homem para reconhecer-se no
outro, especificamente para reconhecer-
se nas carências do outro e enxergar
seus privilégios como expressão direta
das privações do outro.
Negar o etnocentrismo significa
posicionar-se contra a atitude que
consiste em supervalorizar a
própria cultura e considerar as
demais como inferiores, selvagens,
bárbaras e atrasadas.
O nacionalismo exacerbado é uma via
para o etnocentrismo principalmente
quando se manifesta por meio de
comportamento agressivo, de atitudes
de superioridade e de hostilidade.
A discriminação, o proselitismo, a
violência, a agressividade são formas
de expressar o etnocentrismo e
negar a alteridade.
A ausência de alteridade e a
presença do etnocentrismo
explicam por que algumas
práticas dos índios da costa
brasileira,
como a antropofagia e a nudez,
foram condenadas e
consideradas selvagens pelos
europeus.
Isso certamente ocorreu porque
a avaliação dos padrões culturais
dos índios não foi feita em
relação ao contexto cultural dos
próprios índios,
mas de acordo com os valores éticos
e morais predominantes na cultura
europeia. (Antropofagia no Brasil em
1557, segundo a descrição de Hans
Staden).
A Antropologia, então, aparece
no século XIX como uma
decorrência do Humanismo
enquanto estudo do ser humano
cultural mas também como uma
crítica ao humanismo enquanto
seu caráter eurocêntrico.
Dessa maneira, os
antropólogos procuram
pesquisar outras culturas como
forma de mostrar que não
existe apenas “uma forma” ou
“a forma” correta de se viver.
É notável o trabalho,
por exemplo, de
Margareth Mead no
trabalho “Sexo e
Temperamento”(1935),
no qual, ao visitar tribos
australianas, ela demonstrou
que em algumas tribos a
mulher tinha papel de
liderança sobre os homens
(cultura ginocêntrica).
Isso significa que a cultura
androcêntrica (o masculino como
centro), e dessa maneira o
machismo e o patriarcado não são
questões naturais (inatas),
mas sobretudo culturais,
construídas, ensinadas e
aprendidas.
O trabalho de Margareth Mead
ajudou substancialmente a
questionar o que era “natural” de
cada gênero.
E localiza-se em um contexto
político de contestação política
arenas inteiramente novas de
vida social: a família, a
sexualidade, o trabalho
doméstico, a divisão doméstica
do trabalho, o cuidado com as
crianças, etc.
O que é “natural” ao homem e o que
é “natural” à mulher tornou-se
contestado, a partir do trabalho de
Mead, pois mostrou-se uma
construção cultural.
A partir do trabalho de Mead e de
outros similares contestou-se a
“naturalidade” e a “obrigatoriedade”
de a mulher cumprir determinado
papel social, auxiliando na
argumentação para sua saída para o
mercado de trabalho.
Ainda hoje lidamos com resistências
à participação da mulher no
mercado de trabalho. Problemas
como diferença salarial entre
mulheres e homens ou jornada
dupla (ou tripla) refletem como esse
ainda é uma questão a ser pensada.
A Antropologia Jurídica trabalha na
seara de compreensão de como e por
que razão determinadas sociedades
trabalham para resolver esse tipo de
problema – que é intrínseco às
empresas mas também extrínseco a
elas (se considerarmos o problemas
das jornadas duplas ou triplas).
Em termos jurídicos, devemos pensar: por
que, apesar da igualdade manifesta na
legislação, em termos práticos essa
igualdade nem sempre é verificada. Isso
ocorre, evidentemente, por razões
culturais que, ora elaboram as leis, ora
interpretam as leis.
https://www.youtube.com/watch?v=W7Sql-tRZak
Conforme convém lembrar, se
são culturais, são construções
humanas e, como tal, podem ser
des-construídas e reconstruídas.
Resumindo, a Antropologia
surge, então, como uma
“resposta” ao Humanismo
dentro do próprio
Humanismo.
Retornando a Kottak,
partimos para a
definição de
Antropologia Cultural,
Etnologia e Etnografia.
“A antropologia cultural é o
estudo da sociedade e da
cultura humanas, o subcampo
que descreve, analisa,
interpreta e explica as
semelhanças e diferenças
sociais e culturais.”
“Para estudar e
interpretar a diversidade
cultural, os antropólogos
culturais realizam dois
tipos de atividade:
etnografia (com base no trabalho de campo)
e etnologia (com base na comparação
intercultural).”
“A etnografia fornece uma
descrição de determinada
comunidade, sociedade ou
cultura.”
“Durante o trabalho de campo
etnográfico, o etnógrafo reúne
dados que organiza, descreve,
analisa e interpreta para construir e
apresentar essa descrição, que
pode se dar na forma de livro,
artigo ou filme.”
“Tradicionalmente, os etnógrafos
têm morado em pequenas
comunidades e estudado
comportamentos, crenças,
costumes, vida social, atividades
econômicas, política e religião
locais.”
Dessa forma, o trabalho do
etnógrafo não é distante,
mas diferente do etnólogo:
ele se preocupa mais com a
obtenção de dados e com as
técnicas de obtenção.
A etnologia examina,
interpreta, analisa e
compara os resultados da
etnografia – os dados
coletados em diferentes
sociedades –
e os usa para comparar,
contrastar e fazer generalizações
sobre a sociedade e a cultura.”
Olhando além do particular
e vislumbrando o mais
geral, os etnólogos tentam
identificar e explicar as
diferenças e similaridades
culturais,
testar hipóteses e construir
teorias para melhorar
nossa compreensão de
como funcionam os
sistemas sociais e
culturais.
A etnologia obtém seus dados
para comparação não apenas da
etnografia, mas também de
outros subcampos, em especial
da antropologia arqueológica,
que reconstrói os sistemas
sociais do passado.
A Antropologia tem outros
subcampos como a
Antropologia Arqueológica,
Antropologia Linguística,
Antropologia Social, etc
A antropologia arqueológica
(dito de forma mais simples,
“arqueologia”) reconstrói,
descreve e interpreta o
comportamento e os padrões
culturais humanos por meio de
restos materiais.”
“Em locais onde as pessoas vivem ou
viveram, os arqueólogos encontram
artefatos – itens materiais que os
seres humanos produziram, usaram
ou modificaram, como ferramentas,
armas, acampamentos, construções
e lixo.”
O tema da antropologia
biológica, ou física, é a
diversidade biológica humana no
tempo e no espaço.
O foco na variação biológica une
cinco interesses especiais na
antropologia biológica:
1. Evolução humana segundo a revela o registro
fóssil (paleoantropologia).
2. Genética humana.
3. Crescimento e desenvolvimento humanos.
4. Plasticidade biológica humana (capacidade do
corpo para mudar ao enfrentar estresse, como
calor, frio e altitude).
5. A biologia, a evolução, o comportamento e a
vida social de macacos, símios e outros primatas
não humanos
Antropologia Jurídica

O professor Orlando Villas Boas Filho, na


Enciclopédia Jurídica da PUC-SP, no Tomo Teoria
Geral e Filosofia do Direito, define Antropologia
Jurídica como:

(fonte: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/42/edicao-1/antropologia-jurídica)
“A antropologia jurídica é uma
disciplina de grande importância
para a formação crítica do
jurista.”
“Em um contexto universitário como
o brasileiro, no qual prepondera uma
formação dogmática e formalista,
ela pode contribuir para uma melhor
compreensão da complexidade
social na qual se inscreve a
regulação jurídica.”
“Permite, ademais, a percepção
das diversas formas de expressão
dessa regulação de modo a
preparar o futuro jurista para a
complexidade que caracteriza a
sociedade brasileira.”
“Assim, mesmo não sendo essa
sua finalidade precípua, a
antropologia jurídica pode,
inclusive, contribuir para uma
atuação mais consistente dos
juristas,”
“uma vez que proporciona
instrumentos analíticos capazes
de ensejar uma formação
desvencilhada do “praxismo
forense” [ou formalismo jurídico]
e da “erudição ornamental”.
“Em linhas gerais, é possível afirmar que
a antropologia jurídica, mediante a
análise dos discursos (orais e escritos),
práticas e representações, estuda os
processos de juridicização que ocorrem
nas diversas sociedades, procurando
compreender as lógicas que lhe são
subjacentes.”
“Norbert Rouland, por exemplo, sustenta
que essa abordagem procuraria realizar
um ordenamento da cultura humana em
sua generalidade, no que se refere ao
domínio do direito, mediante a
comparação entre as formas de regulação
jurídica de todas as sociedades que se
possa observar.”
“É possível situar o surgimento da
antropologia jurídica no final do
século XIX. Ela se inscreve, portanto,
no contexto da expansão imperialista
ocidental. É, desse modo, como
sublinhava Claude Lévi-Strauss, filha
de uma época de violência.”
“Contudo, sua institucionalização
no contexto universitário ocorreu
ao longo do século XX em
momentos variados.”
“No Brasil, a institucionalização
da disciplina foi tardia, pouco
uniforme e, muitas vezes,
inconsistente.”
Texto:
“Relativizando”
De Roberto Da Matta
Relativizar: “Muito ao contrário, trata-
se de uma atitude positiva e valorativa,
expressa no meu “relativizando”, a
cobrir o abraço destemido que damos
quando pretendemos entender
honestamente o exótico, o distante e o
diferente, o “outro”.”
Ensina a “ensinado a ser desconfiado e
críticos relativamente aos grandes
esquemas teóricos do século XIX, frutos
de um otimismo desmesurado em
relação ao futuro, um futuro que tais
esquemas viam sob a atmosfera dourada
e promissora das descobertas
tecnológicas.”
Descobrimos também, pelo estudo
destas formas que julgamos
“primitivas”, “selvagens” ou
“simples”, que os valores que
designamos pelos nomes de
“honra”, “verdade”, “justiça”,
“dignidade”
“aprender com eles as lições que não
sabemos e que, por causa disso, ficam
implícitas na nossa sociedade.”

“como já disse, que podemos realmente


aprender e nos civilizar com elas.”
“falência total dos esquemas
evolutivos, restos ideológicos das
hierarquias que submetiam sem
apelo todos os povos conhecidos aos
esquemas de pensamento europeu e
norte-americano.”
“o homem, afinal, pode aprender e
mais que o intelecto e a ordenação
do mundo é a grande arma de todos
os homens em todos os tempos.”
“(humildade, renúncia, generosidade
e tolerância) deixarão de ser ideais
impostos pela moralidade.”
Diferença entre ciências naturais e
ciências sociais:
As naturais são passíveis de
controle, observação e repetição.
Em contraste com isso, as chamadas
“ciências sociais” estudam
fenômenos complexos, situados em
planos de causalidade e
determinação complicados.”
“Nos eventos que constituem a
matéria-prima do antropólogo, do
sociólogo, do historiador, do
cientista político, do economista e do
psicólogo, não é fácil isolar causas e
motivações exclusivas.
Mesmo quando o “sujeito” está apenas
desejando realizar uma ação
aparentemente inocente e basicamente
simples, como o ato de comer um bolo.
As diversas experiências do bolo.
“resultado prático do trabalho do cientista
social é visto fora do domínio científico e
tecnológico, na região das “artes”: nos
filmes, peças de teatro, novelas, romances e
contos, onde as ideias de certas pesquisas
podem ser “aplicadas”, produzindo
modificações no comportamento social.”
É mais fácil trocar de carro do que
de valores simbólicos ou políticos.
Para Einstein, é mais fácil quebrar o
núcleo de um átomo do que um
preconceito.
Não é possível reproduzir rituais ou,
por exemplo, a Revolução Russa.
“Nossas reconstruções são sempre
parciais, dependendo de
documentos, observações,
sensibilidade e perspectivas.”
Por outro lado [palavras minhas],
“reconstruir parcialmente” é a única
coisa que podemos fazer para
sermos menos injustos.
O anacronismo é o pecado capital,
mas é o pecado inevitável do
cientista social.
“nas ciências sociais trabalhamos
com fenômenos que estão bem
perto de nós, pois pretendemos
estudar eventos humanos que nos
pertencem integralmente. O que
significa isso?”
“Ora, aqui é tudo muito mais
complexo. Temos, em primeiro lugar,
a interação complexa entre o
investigador e o investigado, ambos
─ como disse Lévi-Strauss ─ situados
numa mesma escala.”
Muitas vezes o pesquisado é
“vítima” da pesquisa.
“O nome caracteriza o indivíduo, pois
os nomes são únicos e exclusivos, com
o termo xará demonstrando as
surpresa que dois ou mais nomes
idênticos podem causar. Lembro que a
palavra xará é de origem tupi e
significava originalmente “meu nome”.
“Um sistema de nomes próprios, tão coletivo
como esse dos Timbira, nos faz pensar de
imediato nas possibilidades de um sistema
oposto, isto é, num sistema de nominação em
que os nomes fossem absolutamente privados
e individualizados de tal modo que a cada
indivíduo não só correspondesse um só nome,
mas que tal nome fosse mesmo como que a
expressão de sua essência individual.”
O autor cita: “os Sanumá do Norte
da Amazônia, onde os nomes
próprios são segredo”
“Posso ir além da minha comunidade
de cientistas, para quem estou
evidentemente criando e procurando
apresentar minha teoria, discutindo
minhas hipóteses e teorias com os
próprios Apinayé! “
“Esse é um dado fundamental e
revolucionário, pois foi somente a partir
do início deste século que nós
antropólogos sociais temos procurado
testar nossas interpretações nesses dois
níveis: no da nossa sociedade e cultura e
também no nível da sociedade estudada,
com o próprio nativo.”
“Porque quando apresento minha teoria ao
meu “objeto” eu não só estou me abrindo para
uma relativização dos meus parâmetros
epistemológicos, como também fazendo
nascer um plano de debate inovador: aquele
formado por uma dialética entre o fato interno
(as interpretações Apinayé para os seus
próprios nomes), com o fato externo (as
minhas interpretações dos nomes Apinayé).”
“E essa dialética acaba por inventar
um plano comparativo fundado na
reflexibilidade, na circularidade e na
crítica sociológica, o que é
radicalmente diferente da
comparação bem comportada,
onde a consciência do observador
fica inteiramente de fora, como uma
espécie de computador cósmico, a
ela sendo atribuída a capacidade de
tudo dar sentido sem nunca se
colocar no seu próprio esquema
comparativo.”

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