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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E POS-GRADUAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LITERATURA, ARTES E CULTURA REGIONAL

Wayamurî pantonî: entre cascos, artimanhas e histórias do Jabuti.

Mestre: Sonyellen Fonseca Ferreira


Orientador: Prof. Dr. Devair Antônio Fiorotti

BOA VISTA
2016
Literatura e Panton
A discussão acerca da complexidade das narrativas indígenas e de
sua classificação em gêneros é um dos motivos para que elas ocupem
uma espécie de deslugar dentro dos estudos literários. Outro motivo por
vezes apontado é o fato destas narrativas serem engendradas no cerne
de culturas que não conceberam o conceito de literatura, como o
entendemos. Contudo, nunca é bastante relembrar, principalmente no
caso do povo Macuxi, que o contato com o “branco” que dispõe desse
conceito e dessa sistematização já se faz desde o século XVIII.
De acordo com Santilli (2001, p. 19):

Macuxi é a designação corrente para os grupos Pemon que habitam o


sul da área circum-roraima, as vertentes meridionais do Monte Roraima
e os campos ou savanas que se estendem pelas cabeceiras dos rios
Branco e Rupununi, território politicamente partilhado entre Brasil e
Guiana.

Povos que conceberam o conceito de Panton.


Conceito pemonguiano de Panton: narrativas de caráter mítico,
lendário, fabular e mesmo histórico. Na língua indígena macuxi a
palavra panton designa história, como declara Severino Barbosa,
habitante da comunidade indígena São Jorge, quando interpelado a
contar os mitos e lendas de sua comunidade (FIOROTTI, 2015, no
prelo) “Ahn, panton, história, nós chamamos panton, panton” e
também como já indicado por Paulo Santilli (2001, p. 16), Frei Cesáreo
Armellada nas obras Tauron Panton (2012; 2013) e já dicionarizado
(AMÓDIO & PIRA, 2007; RAPOSO, 2008).
 Panton também é a palavra que batiza o Projeto que desde 2007 é
financiado pelo CNPq e vinculado à Universidade Estadual de
Roraima - UERR, coordenado pelo prof. Dr. Devair Fiorotti, Panton
Pia’: Registro e Análise na Terra Indígena do Alto São Marcos e
Raposa Serra do Sol no qual foram coletadas narrativas de 37
indígenas da região da TI Raposa Serra do Sol e São Marcos. A
metodologia de coleta e trato com as narrativas sustenta-se
principalmente na História Oral (ALBERTI, 2004). Projeto coordenado
pelo prof. Dr. Devair Fiorotti e no qual foram coletadas as oito
narrativas do Jabuti de Caetano, objeto de análise desse trabalho.
Caetano Raposo
 Nascido em 21 de abril de
1946;
 Povo indígena Macuxi, Terra
Indígena Raposa Serra do Sol;
 Neto de fundadores da
comunidade da Raposa e
professadores do Aleluia ou
Areruia;
 Trabalhou durante oito anos
com os padres na Prelazia;
 Foi vereador, vice-prefeito e
tuxaua durante 38 anos;
 Exímio narrador, capaz de
encadear oito narrativas do
ciclo do Jabuti;
O ciclo do Jabuti de Caetano Raposo
Aí foi embora, deixou ele aí pra urubu comer. Tinha uma serra cheia de
pedra e Onça encontrou de novo. "Que tá fazendo aí, compadre?" "Não,
estou rastejando Anta". Anta subiu aqui, essa serra aqui, e vou rastejar ela, mas
estou sem companheiro pra pegar essa anta. "Eu vou pegar!" "Tu vai pegar
compadre?" "Eu vou pegar." "Tá, então pega aqui, mas não sai, pega
piscado. Não pega com olho aberto, não. Piscado. Não deixa ir embora,
não." Aí subiu. Encostava na pedra, experimentava se a pedra tava frouxa.
Foi-se embora até que encontrou pedra grande, entrou embaixo, aí saiu
pedra. "Lá vaaaaai, compadre! Lá vaaaaai, compadre! Peeeeega,
compadre! Seguuuuura, compadre! Não olha, não, pega piscado!" Aí
ficou olhando de lá e onça: "Lá vem anta." Pegou Onça, aliás pedra.
Pedra passou por cima dele. "Ermmmm." Matou. Foi lá ver compadre dele:
tava todo esmigalhado. " Hã'! Hã'! Hã'! Hã'!
Hã'!Hã'!Hã'!Hã'!Hã'Hã'!Hã'!Hã'!Hã'!Hã'!Hã'!".
Compadrio

Para compreender as narrativas do jabuti é necessário divisar que o

jabuti goza de grande consideração entre os povos indígenas, pois que

pode ser encarado como um aliado à vida do homem, já que sua

carne serve como alimento, seu casco utilizado na construção de

moradias como material de construção ou na imitação do formato, na

confecção de amuletos, puçangas ou feitiços, utensílio doméstico e

instrumentos musicais.
Ainda, quando o filho de Macunaíma e Ci morre, é colocado "numa

igaçaba esculpida com a forma de jabuti e pros boitatás não comerem

os olhos do morto o enterraram mesmo no centro da taba com muitos

cantos muita dança e muito pajuari" (ANDRADE, 1988, p. 27). No total,

Mário de Andrade cita o Jabuti cinco vezes, com destaque para no final

da obra. Primeiro foi numa lápide, que já tinha sido jabuti, que ele

escreve: "NÃO VIM NO MUNDO PARA SER PEDRA" (p. 165). O jabuti, nas

palavras de Mário de Andrade, é o animal que dará origem ao povo de

Macunaíma, relacionando à cosmogonia dos Macunaima assim como

também em relação aos chineses, hindus e povo Iroquoi .


Já a onça não dispõe da mesma simpatia entre os indígenas. Ela traz consigo
predação e morte. Sua posição hierárquica na natureza a faz presente e
importante em muitos mitos fundacionais, mas em eterna chacota nas
narrativas fabularesNo limite, a onça também representa o outro, geralmente
mais selvagem e feroz, com quem se trava relações das quais sempre se sairá
em desvantagem e, por isso mesmo, contra quem deve-se sempre ficar
atento. Nesta relação podemos associar tal selvageria e ferocidade ao não-
índio, ao “branco”, em especial os fazendeiros.
Na narrativa de Caetano Raposo, uma palavra denuncia o
engendramento histórico e literário do lugar de onde fala Caetano Raposo:
compadre. A partir do início do processo de instalação das atividades
agropecuárias, as relações entre os não-índios e os índios adquiriram outro
feitio: os índios e suas terras passaram a ser disputados entre fazendeiros. Os
índios pela mão-de-obra maciça que representavam e as terras para
expandir a atividade pecuarista nascitura. Para, então, garantir a
manutenção destas relações, vários expedientes clientelistas foram utilizados,
como a oferta de bens industrializados em troca dos serviços prestados pelos
indígenas, além do recrutamento de crianças indígenas para a lida com o
gado, o compadrio (SANTILLI, 2001, p. 39).
O compadrio está relacionado, nas religiões cristãs, ao
sacramento do batismo. Através dele torna-se filho de Deus e
membro da Igreja e pelo qual ascende-se a salvação eterna. Claude
Lévi-Strauss, em Estruturas elementares do parentesco (1982),
investigando as estruturas assimétricas, aponta para a índia meridional
e seu sistema de parentesco. Assim, Lévi-Strauss evidencia o
compadrio estabelecido entre homens que cedem irmãs ou
filhas. Ou seja, a cessão de mulheres naquela comunidade gera
assimetrias na relação entre compadres e mais do que obrigações, e
talvez por causa delas, animosidades entre os compadres.
Peter Rivière em Forgotten frontier: ranchers of nothern Brazil (1972)
se delonga sobre a relação de compadrio e afirma que a forma mais
importante com ela é estabelecida é através do batismo. Contudo,
mais do que estabelecer laços de parentesco, o compadrio também
é explorado com objetivos políticos e econômicos, resultando numa
relação de patrão-cliente.
Marcos Lanna em A estrutura sacrificial do compadrio: uma
ontologia da desigualdade? (2009), citando Pitt-Rivers, atenta para a
sinonímia entre a palavra “padriño" e a palavra “patrón” na
Andaluzia, além de apontar para o uso cotidiano da expressão “meu
patrão” no Brasil. Afirma que “Em ambos os locais as palavras
convergem, estão em relação hierárquica” (2009, p. 07). Para Lanna
o batismo seria a incorporação a uma sociedade moral e, sob a lei
canônica, os pais ao dedicarem seus filhos a santos teriam os
padrinhos como intermediários. Assim a criança seria a primeira
dádiva na relação de compadrio. A segunda seria o nome dado
pelos padrinhos a criança e a última a dedicação da própria criança.
CONCLUSÃO
Presente na narrativa de Raposo, o termo mobiliza toda uma
gama de relações sócio-históricas e de poder estabelecidas a partir
do contato entre não-índios e índios que reconfigurou não apenas a
divisão e estabelecimento de produtividade de terras a partir da
criação do gado, mas aspectos culturais pela introdução de dogmas
cristãos, como o batismo. Com a derrocada da Onça, do compadre,
numa leitura simbólica, invertem-se as relações historicamente
estabelecidas entre não-índios e índios de predatismo e exploração.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Mário de. Macunaíma – Herói sem nenhum caráter. Oficinas
Gráficas de Eugenio Cupolo: São Paulo, 1928.
LANNA, Marcos. A estrutura sacrificial do compadrio: uma ontologia da
desigualdade? In Revista Ciencias Sociais Unisinos, n. 45. Janeiro-Abril de
2009.
LEVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco.
Petrópolis: Editora Vozes, 1982.
RIVIÈRE, Peter. The forgotten frontier: the ranchers of north Brazil. Londres:
Holt, Rinehart and Winston INC., 1972.
SANTILLI, Paulo. Pemongon Patá: território Macuxi, rotas de conflito. São
Paulo: Editora Unesp, 2001.
OBRIGADA!!!!

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