Prado, Madrid O Absurdo em ‘O Estrangeiro’ Meursault é um herói absurdo tanto a um nível figurativo assim como a um nível literal. Figurativamente pois, Meursault, condenado à morte e aguardando a sua execução, é uma metáfora para a realidade da condição humana. A um nível literal, Meursault exemplifica perfeitamente as características absurdas da revolta, liberdade e paixão delineadas por Camus em ‘O Mito de Sísifo’. Pósfácio ed. Americana: ‘Meursault não entra em jogos, não mente e diz o que ele próprio é, não consegue esconder os seus sentimentos e por essa razão a sociedade sente-se ameaçada por ele.’ Reflecte a condição humana no sentido em que por vezes nos sentimos dentro de uma jaula, apesar de sermos livres, pois temos o receio de nos fazer ouvir, sentir, portanto, sentimos-nos incapazes de sair dessa mesma jaula. Meursault combate o absurdo pela indiferença e a recusa da hipocrisia, o que lhe leva ultimamente à condenação por parte do tribunal em o considerar desumano, pois recusa fingir que gostava da sua mãe e da sua execução, pois ele comete de facto, um homicídio. ‘Como se esta cólera me tivesse limpo do mal, esvaziado da esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu abria-me pela primeira vez à terna indiferença do Mundo. Por o sentir tão parecido comigo, tão fraternal, senti que fora feliz e que ainda o era.’ O Estrangeiro O Absurdo no ‘O Mito de Sísifo’ Se Meursault exemplifica muitas das características de um herói absurdo. Ao escrever O Estrangeiro, Camus tenta exemplificar o que ele define em O Mito de Sísifo como as características do artista absurdo. Por outro lado, o Mito de Sísifo pode ser lido como uma tentativa de esclarecer e explicitar o panorama que é expresso em O Estrangeiro. O Mito de Sísifo trata do problema filosófico verdadeiramente sério para Camus – o suicídio. ‘Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia’ O Mito de Sísifo Este pensamento de Camus vem de encontro ao que aos seus olhos, assim que nos propomos a meditar acerca do significado da vida, temos a consciência de que ela não tem significado pré- determinado, e se a condição e os esforços do ser humano são inúteis, somos a partir daí compelidos a se não deveríamos ou não cometer suícidio. Para Camus, o suicídio é a "confissão" de que a vida não vale a pena ser vivida, é uma escolha que declara implicitamente que a vida é "demasiado". O suicídio oferece a "saída" mais básica do absurdo: o término imediato do eu e do seu lugar no universo, que lhe é indiferente. Ao ser humano resta-lhe optar por abraçar a condição absurda. Segundo Camus, a liberdade - e a oportunidade de dar significado à vida - reside no reconhecimento do absurdo. Se a experiência absurda é verdadeiramente a percepção de que o universo é fundamentalmente desprovido de absolutos, então nós, como indivíduos, somos verdadeiramente livres. "Viver sem apelo", como ele coloca, é um movimento filosófico para definir absolutos e universais subjetivamente, em vez de uma forma objectiva. • Camus afirma que a espécie humana é como a figura mítica de Sísifo, que sobe a montanha carregando uma pedra que voltará irremediavelmente a descer, perpetuamente, por ter desafiado os deuses. • O autor franco-argelino seduz- nos, leitores, na forma directa e assertiva como escreve e aponta ultimamente sobre como devemos lidar da melhor forma que sabemos em relação às contigências da vida, nunca recaindo no desespero ou no nihilismo total, triunfando desta maneira sobre a adversidade, ‘teremos de imaginar Sísifo feliz’. • O herói supremo do absurdo vive sem sentido e enfrenta o suicídio sem sucumbir a ele!