da Educação Contemporânea Profª. Bianca Daébs O SÉCULO XIX
As influências da Revolução Francesa e da
Revolução Industrial ainda podiam ser fortemente percebidas no século XIX. por ocorrer o avanço das máquinas causadoras do crescimento de fabricação dos produtos, então propiciadores da divisão do trabalho, teorizada defensivamente por Adam Smith no século anterior. Da Inglaterra o anseio para escoar suas mercadorias e ampliar as fronteiras de suas transações comerciais fez com que seus trilhos se espalhassem pelo mundo a fora, inclusive no Brasil onde a maioria da malha ferroviária do país foi construída sob a batuta dos ingleses. (SILVA. 1989) Em meio a euforia capitalista do século XIX “Um espectro rondava a Europa” tratava-se das idéias políticas e revolucionária propostas por Karl Marx e Friedrich Engels em seu texto acerca do “Manifesto do Partido Comunista” nele ambos expõe a proposta de um socialismo que aconteceria á medida que os operários e camponeses se conscientizassem da importância que tinha sua força de trabalho para a manutenção do sistema Capitalista. Marx levou a sério a máxima de que só se pode criticar algo se o conhecer bem, e revirou as víceras do capitalismo em sua obra “Para Crítica da Economia Política” ou “O Capital” onde também detalhou o governo proletário representado pelo socialismo, o qual depois de certo período extinguiria o Estado para passar a vigorar o comunismo. Frontispício do Manifesto Comunista Introdução do Manifesto Um fantasma ronda a Europa - o fantasma do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e a czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha. Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a alcunha infamante de comunista? Duas conclusões decorrem desses fatos: 1ª) O comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa. 2ª) É tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comunismo. Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidades e redigiram o manifesto seguinte, que será publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.” Enquanto Marx, Hengels e seus companheiros lutavam por uma sociedade mais igualitária, na França acontecia movimentos que tinham por pressupostos a defesa e a manutenção da ordem social vigente muito influenciada pelas Idéias de Augusto Comte. Considerando ser o mundo positivo o âmbito do conhecimento e o local onde poderia encontrar a maturidade humana no contato com o concreto, Comte caracterizou a ordem como precursora do progresso da sociedade. Seu cientificismo foi, dividido em três estágios: o Teológico, fase da ligação do ser humano com o mundo espiritual; o Metafísico, entremeando o mundo físico com o espiritual; o Positivo, ponto crucial do crescimento humano (COMTE: 1996). Augusto Comte Augusto Comte entendia que para o ser humano crescer no ensino deveria, assim como na filosofia, atravessar as três etapas: a criança sairia da idade teológica para a metafísica e desta, finalmente, para a positiva (ARANHA 2003). Já Herbert Spencer vinculou o positivismo comtiano com o evolucionismo, corroborando que na educação o processo evolutivo é formado por graus externos das potencialidades humanas. Até porque, ele acreditava na potencialidade da ciência sobre a área educacional, priorizando a física, a química e a biologia como matérias. John Stuart Mill foi outro pensador extremamente influênciado pelo positivismo educacional, ele chegou a ser declarado defensor da participação feminina mais ativa na sociedade, algo inovador na época. Mas, além disso, Mill defendeu o uso de outras disciplinas no currículo escolar, como história, economia, direito e outras ciências humanas, buscando emparelhar essas com as ciências naturais e exatas Hegel O Idealismo foi outra perspectiva filosófica voltada a educação, seu principal representante foi George Willhelm Friedrich Hegel, que estabeleceu a dialética como motor da realidade. Na tentativa de aproximar a educação do mundo real, concordava com a idéia de que a essência da aprendizagem deveria ser proporcionada pelo Estado, pois nele as pessoas vivem e convivem socialmente. Dessa maneira, a nacionalidade da educação era essencial para Hegel, proporcionando melhorias sociais no campo da educação. Fazendo o contraponto às argumentações idealistas, o socialismo teve seu ponto de vista voltado a educação atentando para a sua universalidade. Uma das prioridades era a de acabar com a divisão no interior do sistema, que de um lado educava para pensar e do outro para profissionalizar. Para tanto, seria necessário que a educação socialista buscasse transformar as práticas educacionais a partir da crítica a alienação e a ideologia, de maneira que isso causasse verdadeira revolução na classe operária. Dentre os seus principais representantes se podia contar Karl Marx, Fourier e Robert Owen. O Século XX O inicio do século XX tem como marco as lembranças da Primeira e da Segunda Grande guerra e Mundiais (1914 a 1918 e 1939 a 1945, respectivamente), motivadas pela corrida imperialista entre países desenvolvidos no século passado, jogando-os uns contra os outros. O segundo grande conflito mundial, porém, demonstrou certa peculiaridade, primeiro por ter se espalhado além das fronteiras européias – a Primeira Guerra Mundial só envolveu o território europeu –, e em segundo lugar pela motivação ideológica de extrema direita (ultra- conservadora) representada pelo fascismo de Benito Mussolini, na Itália, e pelo nazismo de Adolf Hitler, na Alemanha, sem descartar as ditaduras surgidas durante a Segunda Guerra, como a de Franco, na Espanha, e a de Salazar, em Portugal. Em 1991, seis anos depois do início dos programas de governo elaborados na gestão de Mikhail Gorbatchev, denominados GLASNOST, a “abertura democrática”, e PERESTROIKA, a “reestruturação econômica”, a União Soviética desintegrou-se com o desvinculamento das suas repúblicas. Na segunda metade do século XX, ocorreram muitos movimentos de grupos considerados “excluídos” da sociedade, reivindicando participação, respeito e, principalmente, criação de direitos. O movimento negro, o movimento estudantil, o movimento feminista, o movimento em defesa da população indígena e o movimento gay bradaram contra o sistema a partir dos anos 60, influênciados pelos interesses de divulgação das principais bandeiras contra a burocracia universitária, a inferioridade de gênero, as discriminações racial e sexual. Na era do avanço tecnológico acentuado, o mundo observou o crescimento industrial obter vantagens com a implantação da organização da divisão do trabalho representada pelo fordismo, motivadora da produção em massa e com rapidez. Similar a essa linha de montagem norte-americana, os japoneses criaram o toyotismo, sistema industrial que buscou adequar a produção de acordo com a demanda. Na última década do século XX o crescimento produtivo avançou mais com as invenções promovidas pela cibernética, caracterizando a sociedade industrial apoiada pela predominância da “nova ordem mundial”, após o Consenso de Washington, em 1991. Naquele encontro, muitos chefes de Estado discutiram sobre os novos passos que deveriam ser dados com relação a estabilidade monetária, livre concorrência de mercado, contenção inflacionária e privatização de empresas. Educação no Século XX Émile Durkheim, teve seu respaldo sobre a sociologia positivista de Comte na qual introduziu as atitudes descritivas da educação, que condizia a aplicação do método científico para a ampliação dos fins educacionais. Émile Durkheim Outra linha da filosofia muito ligada a educação foi a “Fenomenologia” que teve em Carl Rogers um dos responsáveis pela tendência centrada no aluno, atenuando o máximo possível a atuação do professor sobre ele. Indiretamente, a filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre, autor de O ser e o Nada e A Idade da Razão, influiu para divulgar o conceito de que o aluno deveria ser o criador de sua própria essência, cabendo ao professor a tarefa de despertá-la para almejar a liberdade. O Pragmatismo, é uma corrente filosófica que defendia a ação prática e a experiência, e teve como representante William James. Esse pensador, propunha a orientação na realidade a partir da ligação entre uma experiência e outra, influenciou o pensador e educador John Dewey, que propôs a preparação do aluno para a sociedade industrial partindo do aprender fazendo. Para ele, adequar a educação ao sistema capitalista do trabalho era fazer com que o educando fosse preparado para o trabalho, mesmo que as críticas a aquele sistema fossem descartadas pela “Escola Nova” de Dewey. Teorias pedagógicas originárias dos conceitos socialistas também foram defendidas no século XX. O filósofo italiano Antonio Gramsci considerou que a escola deveria centrar-se em valorizar o trabalho para ultrapassar as disparidades entre o fazer e o pensar, defendendo a possibilidade de incrementar no aluno a capacidade do trabalho e do intelecto. A Escola de Frankfurt, baseada no marxismo, mas com uma linha peculiar representada por Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin e Erich Fromm, defendia uma reflexão pedagógica que deveria partir da preocupação em recuperar a autonomia do indivíduo através da razão. Tendo ligações com o socialismo, as teorias crítico-reprodutivistas estabeleceram como ponto de análise a reprodução realizada pela escola sobre os alunos, pois ela não significa o lugar onde as pessoas aprendiam a discernir a ordem social vigente, mas aprendiam a mantê-las. Os sociólogos Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron , autores da obra A reprodução, classificaram nela a violência simbólica exercida pela escola ao manter a cultura da classe dominante aos segmentos sociais que por ali passavam. Além deles, Louis Althusser, autor de Aparelhos Ideológicos do Estado, caracterizou nessa obra que a autoridade pedagógica, seja professor ou a direção, são determinantes no reconhecimento dos influxos dos grupos burgueses sobre a maioria dos educandos oriundos de posições sócio-econômicas menos abastadas (ARANHA: 2003). De acordo com Aranha (ARANHA: 2003), influenciados pelas mesmas idéias “reprodutivista”, dois outros estudiosos franceses, Roger Establet e Christian Baudelot, trataram a educação a partir da dicotomia entre: a escola SS, secundária superior, e a escola PP, primária profissional. Recalcitrando a concepção de “escola única”, Establet e Baudelot denominaram de “educação dualista”, incumbida de dividir o ensino em burguês (SS) e proletariado (PP). Enquanto que os burgueses tinham a possibilidade de acesso a escolaridade ampla, os proletários aprendiam a profissionalização precocemente. O século XX permitiu uma série de possibilidades hermenêuticas no que tange às correntes pedagógicas, mas, sem dúvidas o Construtivismo foi uma das mais influentes, principalmente na década de 20, quando foi o representada pelo suíço Jean Piaget, pela Argentina radicada mexicana Emilia Ferreiro e pelo russo Lev Semenovich Vygotsky. Piaget buscou tratar o conhecimento como algo adquirido à medida que ocorrem mudanças adaptativas de um estágio para outro na criança, fases que fortalecem o desenvolvimento mental (inteligência e afetividade) em quatro estágios, do nascimento até a adolescência, denominados: sensório-motor, intuitivo, das operações concretas e das operações abstratas (ARANHA: 2003). Emilia Ferreiro Já Emilia Ferreiro, aluna de Piaget na Suíça, tratou de ver a construção da linguagem escrita como ponto de partida da aprendizagem da criança. Para tanto, realizou vários experimentos com muitas delas para observar a origem psicológica da escrita, comprovando que ocorria uma reinvenção das palavras, ocorrendo uma prévia do que se realizaria posteriormente. Jean Piaget Ao professor, conseqüentemente, caberia observar com cautela o que o educando já sabe para a escola interpretar e analisar o que ele, o educando, merece saber para fortalecer seu conhecimento. Vygotsky, por sua vez, embasou sua teoria pedagógica discutindo os aspectos da inteligência humana, dando prerrogativa ao pensamento abstrato, a atenção voluntária, a memorização ativa e as ações intencionais, confluindo no processo de internalização, o qual poderia ser contribuído pelo papel de sujeitos externos, como a mãe, professores, companheiros de estudo, obtendo constantes transformações edificadas a partir do trabalho coletivo ou interpessoal para daí transformar numa ação intrapessoal, também chamada de internalização individual. Com essa passagem do interpessoal para o intrapessoal, a liberdade intelecto- afetiva proporciona a reflexão, essa iniciada das relações sociais do dia-a-dia até a elaboração de conceitos.