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DESCOLONIZANDO O

FEMINISMO: UMA PERSPECTIVA


DA AMÉRICA LATINA E DO
CARIBE

Dra. Mariana Barbosa de Souza


Pós-doutoranda em Geografia na Universidade Estadual de Ponta
Grossa
GETE – Grupo de Estudos Territoriais
marisouza_10@hotmail.com
• Nós lemos e ouvimos há algum tempo que o feminismo tem sido
uma proposta que vem do Iluminismo. De uma história contada de
maneira linear e eurocêntrica, você supõe que o feminismo nasceu
com a Revolução Francesa, como se antes desse fato em outros
lugares que não a Europa, as mulheres não tivessem se oposto ao
patriarcado.

• Esta visão mostra uma relação de poder do conhecimento e tem a


ver com o nascimento do sistema mundial moderno no momento
em que a Europa é constituída como um domínio sobre o resto do
mundo.
• Embora como conceito o feminismo nasce na primeira onda
neste contexto como uma proposta que sintetiza as lutas das
mulheres em um determinado lugar e tempo, nós sentimos o
feminismo como toda luta de mulheres que se opõem ao
patriarcado, teríamos que construir sua genealogia considerando
a história de muitas mulheres em muitos lugares-tempos.

• Este é um dos principais gestos éticos e políticos da


descolonização do feminismo: retomar histórias diferentes,
pouco ou quase nunca contadas.
Propõe-se contar uma "outra" história, a de uma parte do feminismo na
América Latina e no Caribe, uma história que se tornou invisível através do
tempo, invisibilidade ligada a processos de colonização histórica e
colonialidade, que já passou. Teorias e práticas políticas.

Para tanto, utiliza-se o conceito de descolonização, tanto como proposta


epistemológica, como política, para explicar e compartilhar certas posições
críticas, como também as propostas de várias feministas da região que vêm
da autonomia e do radicalismo, que articulam em nossa proposta uma
perspectiva articuladora da raça, etnia, classe e sexualidade como pilares
centrais de nossa política localizada em uma determinada região.
• Descolonização como um conceito amplo refere-se a processos de independência
de povos e territórios que foram submetidos à dominação colonial nos setores
político, econômico, social e cultural como aqueles que aconteceram na América
entre 1783 e 1900, dos quais os Estados Unidos e as repúblicas Latino-
americanas;

• Ato seguinte ocorre, entre 1920 e 1945, em relação às dependências do Império


Otomano e de onde a independência de uma boa parte dos Estados do Oriente
Médio e do Magrebe se concretiza.

• E o que ocorrem entre 1945 e 1970, o conjunto do continente africano e


importantes áreas da Ásia, do Pacífico e do Caribe estruturam-se em unidades
políticas independentes.
• Quando me refiro aos processos de descolonização, enfatizo
o último período do impacto que teve sobre a consciência
crítica não apenas em intelectuais e ativistas desses
continentes, mas em muitos outros em outras latitudes, como
tem sido o caso na América Latina e Caribe, além de
processos.

• O campo acadêmico dá origem a estudos pós-coloniais,


culturais e juniores que colocam a construção de sujeitos e
sujeitos em contextos pós-coloniais no centro.
Essas posições questionaram a relação entre conhecimento e
poder e colocam como premissa que o surgimento da América
é um produto da modernidade na construção do sistema -
mundo em que a Europa é constituída em torno de sua
referência periférica: a América. (Dussel, 1999), uma relação
que implicou uma estrutura de dominação e exploração
atravessada por raça, classe, regime de heterossexualidade
que começa no colonialismo mas que se estende até hoje
como sua seqüência.
Anibal Quijano chama esse padrão mundial de colonialidade
do poder (Quijano, 2000) e o mesmo evidenciou a atitude da
Europa como centro da modernidade e da matriz
civilizacional que as outras sociedades tiveram que alcançar
e que foi construída a partir de um ocidentalismo que define
Eu-Ocidental constituído pela sua diferença, neste caso, a
diferença colonial, que dilui aquela outra, aquela outra, que
incorpora esse eu ao outro/outro e desestabiliza o eu pelo
outro/outro (Coronil, 2005).
• Essa colonialidade também passou pelo feminismo, incluindo o
feminismo hegemônico na América Latina e outros países do
Terceiro Mundo.
• O que gerou que as mulheres do terceiro mundo sejam
representadas como um objeto e não como sujeitos de sua
própria história e experiências particulares (Mohanty, 1985), que
deu origem a uma auto-representação discursiva de feministas
do primeiro mundo que coloca feministas não européias no
"exterior" e não "através" das estruturas sociais, sempre vistas
como vítimas e não como agentes de sua própria história, com
importantes experiências de resistência, lutas e teorizações.
• Um processo de descolonização baseado nas
experiências dos países da América Latina e do
Caribe significa, então, resgatar várias propostas
epistemológicas e políticas, realocando
pensamento e ação para cancelar a
universalização, característica fundamental da
modernidade ocidental.
• A descolonização para nós é sobre uma posição política que
passa pelo pensamento e ação individual e coletiva, nosso
imaginário, nossos corpos, nossas sexualidades, nossos modos
de agir e de estar no mundo e isso cria uma espécie de
"cimarronaje” (marrom) intelectual de práticas sociais e
construtivas autoconscientes segundo experiências concretas. É
o questionamento do sujeito único, o eurocentrismo, o
ocidentalismo, a colonialidade do poder, ao mesmo tempo em
que reconhece propostas como hibridização, polissemia, outro
pensamento, subalterno fronteiriço.
• Essas propostas críticas do feminismo latino-americano e
caribenho são posições de oposição ao feminismo esclarecido,
branco, heterossexual, institucional e estatal, mas acima de tudo
um feminismo que pensa e repensa na necessidade de
desconstruir uma prática política que considere a sobreposição
de sistemas de dominação, como o sexismo, o racismo, o
heterossexismo e o capitalismo, porque considerando essa
“matriz de dominação” como bem a denominou a afro-americana
Hill Collins (Collins, 1999) e chamou de o que dá ao feminismo
um significado radical.
• Esta proposta retoma parte dos postulados dos anos setenta
e oitenta das feministas, chicanas (mexicanas que vivem nos
EUA) e lésbicas radicais. Reconhece que é aqui que se
localiza uma proposta de descolonização, vista no contexto
latino-americano e caribenho de hoje.

• Conello cria uma genealogia feminista, porque esse


feminismo conhece, pensa e propõe a continuidade de uma
história construída por muitas em diferentes momentos
históricos.
• Embora afro-latinas e caribenhas, mulheres populares,
muitas lésbicas latino-americanas questionaram o sujeito
do feminismo nos anos 1970 e 1980, visto como a mulher
de "classe média", mestiça, heterossexual, até mesmo sua
análise foi limitada baseando suas teorias e suas práticas
políticas na "diferença" e identidade como base de suas
reivindicações e razão para suas ações, um momento que
foi necessário, mas não suficiente para o feminismo que é
necessário hoje neste novo contexto.
• Essa política de identidade foi necessária para a
crítica do universalidade, em geral, ao monolítico,
etnocêntrico e heterocêntrico como um legado
fundamental da modernidade e da colonização para
evocar a necessidade de compreender os sujeitos
sociais a partir de uma diversidade de experiências
particulares e de várias formas de vida específicas e
concretas, tentativas e mudanças.
• E isso tinha que ser feito no feminismo. Debates do feminismo
estruturalista e da Teoria Queer, com suas críticas às
identidades, nos colocam em grandes dilemas diante da
questão: todas as identidades ou esquemas essencialistas em
certos contextos, identidades vistas como estratégias, são
essenciais para a política feminista, feita por mulheres radicais,
por lésbicas, por povos indígenas, isto é, aquelas que não
correspondem ao paradigma moderno?

• Permitiu-se a relativização das políticas de identidade,


estabelecendo limites, assumindo-os como estratégias e
posicionamentos, e como fins em si mesmos.
Ao mesmo tempo, na década de 1990, feministas críticas e radicais
assumiram-se como autônomas diante do fenômeno da
institucionalização expresso na organização, na preparação e no
acompanhamento das conferências mundiais organizadas pela ONU
que definiam as prioridades do movimento, em face da interferência
do Banco Mundial ao acionar o movimento feminista, contra a
cooptação de muitas feministas por Estados, governos, partidos,
frente a dependência ideológica e econômica da cooperação
internacional, os quais já tinham altos custos para o feminismo ao
perder-se boa parte de seus postulados políticos mais éticos e
revolucionários.
Experiências como As cúmplices, As próximas, As puxadoras,
Mulheres Criadoras, Mulheres Rebeldes, Lésbicas Feministas em
Coletivo, o Movimento Exterior com suas diferenças óbvias, da
República Dominicana à Argentina, propuseram o um feminismo
excêntrico, do exterior, da fronteira, comunitário, das margens
como espaços possíveis de construção política a partir da ação
coletiva auto-gestada e autônoma que produz sua própria teoria e
um pensamento descolonizador em face do eurocentrismo e da
teoria e perspectiva de gênero mais conservadora e que questiona
em profundidade a relação saber-poder e dependência das
instituições.
• Todos eles em diferentes momentos fizeram parte da construção
autônoma e hoje, depois de quase vinte anos, algumas feministas
desses grupos propõem rever nossa política colocando e
respondendo a perguntas que são grandes desafios:

• Como entender o contexto específico onde nós colocamos que é


possível construir pactos políticos entre feministas de vários
contextos sem que isso converta em impunidades as
desigualdades e diferenças que nos atravessam por raça, classe,
sexualidade, status de imigração nos contextos e as mesmas
experiências localizadas?
Como agir como ecofeministas nos contextos
da América Latina e do Caribe por meio de
conflitos armados internos, deslocamento
forçado, pobreza extrema, racismo, violência
contra as mulheres e um "socialismo do século
21" com cores ditatoriais?
Outra questão urgente, como proposta
descolonizante e transformadora que temos,
é em relação à produção de conhecimento.ß
• Poderíamos afirmar, se considerarmos a produção teórica
e, com ela, a produção editorial, que na América Latina e no
Caribe houve pouco, comparado ao feminismo europeu e
norte-americano, como ocorre em muitos países do
chamado Terceiro Mundo.

• E isso tem a ver com as condições materiais e sociais


dessas regiões do mundo, no entanto existem produções
importantes e especialmente muitas práticas políticas que
não são teorizadas e conceituadas.
Essas produções, tanto do campo acadêmico
quanto do próprio movimento, são consideradas
como ativismo puro, como sistematizações de
práticas feministas inadequadas ao "consumo"
acadêmico e teórico, portanto não são as
referências da maioria das feministas latino-
americanas, no entanto, nossas referências são
teorias e conceitos feitos principalmente por
europeus e norte-americanos.
Este fato coloca no centro a relação poder-
conhecimento e o binarismo teórico-ativista visto
como a distinção entre conhecimento puro e
conhecimento político onde uma forma de escrita é
reconhecida e a divisão entre política e teoria é
estabelecida, o que evidencia a negação de que
ambas são formas de discurso, que produzem
mudanças e transformações sociais.
O pensamento e a teoria feminista latino-americana
foram descolonizados? Não.
Por mais que conheçamos o processo de
colonização histórica e que sempre reajamos
diante dele desde a perspectiva da economia
política, ainda pensamos que somos "privados" de
algo, o que precisamos nos tornar europeus ou
norte-americanos.
• E se as produções latino-americanas não são reconhecidas na
mesma região, muito menos são conhecidas na Europa e nos
Estados Unidos.
• Não há nenhum tipo de latino-americanismo, uma genealogia
intelectual que expresse até mesmo modos de produção de um
discurso de dominação sobre o feminismo latino-americano feito
por feministas européias e norte-americanas. No máximo,
encontramos "algumas" feministas que são matérias-primas
intelectuais para a produção acadêmica europeia, que não tem
impacto além dos objetivos pessoais, sejam estes definidas a
partir da solidariedade internacional.
• Feministas do terceiro mundo e de outras latitudes que
de alguma forma impactaram o feminismo europeu e
norte-americano, o fizeram porque estão em lugares
privilegiados da academia, principalmente norte-
americanos, área de estudos ou equipes de pesquisa
específicas.

• O internacionalismo ou transnacionalismo do feminismo


é apenas se ocorrer considerando a Europa e os
Estados Unidos como AS REFERÊNCIAS.
Que o feminismo, como proposta de emancipação
colocou, juntamente com outras propostas, a crise
do sujeito, a crise dos meta-relatos masculinos e
eurocêntricos, que revisou epistemologicamente
os pressupostos da Razão Universal, marcando
sexualmente a noção de sujeito, não libertou
totalmente da mesma lógica masculina e euro-
norte-americana-centrista.
No caso do feminismo latino-americano, isso não é apenas
evidenciado na separação entre a teoria e a prática, no
reconhecimento esmagador das teorias européias e norte-
americanas em detrimento dos países latino-americanos e outros
países do Terceiro Mundo, mas também em sua própria dinâmica
interna contra a multiplicidade de assuntos que a compõem. A
história latino-americana é subalterna frente à Europa e os Estados
Unidos, o pensamento teórico e político também é subalterno, mas
também as produções de afro-descendentes, de lésbicas, e das
poucas feministas indígenas, que são as mais subalternas de todas
as histórias (Curiel, 2007).
A descentralização do sujeito universal do feminismo
ainda contém centralidade euro-norte-americana-
centrista e universalista e não consegue se livrar
dessa colonização histórica por mais que a critique.
As próprias feministas latino-americanas e
caribenhas tiveram uma responsabilidade histórica
em manter essas relações de poder em torno do
status do feminismo latino-americano e de sua
situação interna.
O que daria força ao feminismo latino-
americano como uma proposta teórica crítica e
epistemológica específica seria livrar-se dessa
dependência intelectual euro-norte-americana-
centrista, que não nega que sejam importantes
referências teóricas, já que o feminismo é, em
última instância, internacionalista.
A descolonização das feministas latino-americanas e caribenhas
suporá a superação do binarismo entre teoria e prática, pois a
capacitará a gerar teorizações diferentes, particulares e
significativas que foram feitas na região, o que pode contribuir
para realmente descentralizar o sujeito euro-norte-americano-
centrico e a subalternidade que o próprio feminismo latino-
americano reproduz em seu interior, mas continuaremos
analisando nossas experiências com olhos imperiais, com a
consciência planetária europeia e norte-americana que define o
resto do mundo como o OUTRO incivilizado e natural, irracional e
não verdadeiro.
Ao mesmo tempo, o desafio ético e político das
feministas européias e norte-americanas implicará o
reconhecimento dessas experiências teóricas e
políticas como parte do patrimônio feminista e
genealogista, pois só assim será um feminismo
transnacional baseado na cumplicidade e
solidariedade de muitas feministas que compartilham
os mesmos projetos políticos de emancipação.
BIBLIOGRAFIA:

-Coronil, Fernando. 2005. “Más allá del Occidentalismo: Hacia categorías GeohistóricasNo-imperialistas”,
en: Teorías sin disciplina. Latinoamericanismo, Poscolonialiad yGlobalización en Debate. Santiago Castro
Gómez y Eduardo Mendieta . Coords.Bogotá.

-Curiel, Ochy. 2007. “La Crítica Poscolonial desde las Prácticas Políticas delFeminismo
Antirracista”, en: Colonialidad y Biopolítica en América Latina. RevistaNOMADAS. No. 26. Instituto de
Estudios Sociales Contemporáneos-UniversidadCentral. Bogotá.

-Collins, Patricia, 1998, “La política del pensamiento feminista negro”, en: MarysaNavarro, Catherine R.
Stimpson (comps), ¿Qué son los estudios de mujeres. Fondo deCultura Económica. Buenos Aires.

-Dussel, Enrique. 1999. “Más allá del Eurocentrismo: El Sistema –mundo y los límitesde la modernidad”, en:
Pensar (en) los intersticios. Teoría y Práctica de la CríticaPostcolonial. S. Castro, Guadiola –Rivera y C.
Millán. eds. Instituto de Estudios Pensar.Universidad Javeriana. Bogotá.

-Mohanty, Chandra Talpade, 1985. Under Western Eyes Revised. Feminist SolidarityThrough Anticapitalist
Struggle in Feminism Withouth Borders. New York.

-Quijano, Anibal. 2000. “Colonialidad del Poder, Eurocentrsismo y América latina”, en:La Colonialidad del
Saber: Eurocentrismo y Ciencias Sociales. E. Lander Comp.CLACSO. UNESCO.

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