Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Ariano Suassuna
Ariano Suassuna, nascido na cidade de João
Pessoa, no Estado da Paraíba é um dos
maiores representantes da forte e pura raiz
popular da Arte e da Literatura nordestinas.
Traz ele, em sua bagagem literária, histórias
cheias de brasilidade.
•
O título
Segundo Hênio Tavares, auto significa toda obra representativa e dramática de
assunto religioso muito comum na idade média. Procede de “actum” – aito-auto.
Este termo assume, hoje, um sentido geral o qual se refere a peças teatrais
populares.
• A parte mais interessante da trama é quando os personagens chegam ao plano celestial e são
julgados, revelando o profano e o sagrado. É de se observar que há uma contradição entre esses dois
planos, o mesmo em que o autor Gil Vicente apresentava em seus autos durante o medievalismo.
• O texto tem como objetivo causar uma catarse psicológica de valores morais no âmbito social e
religioso dos interlocutores ou espectadores da trama.
• Há passagem de um plano a outro, implicando o chamado joco-sério do “ser e do parecer”, que se dá
por meio da transformação: vida e morte. É nessa mudança de plano que o texto atinge o seu ápice
ou clímax.
• Os personagens entram em disjunção com a vida e em conjunção com a morte. Segundo a
Compadecida, em seu julgamento, quem é “sagrado” na terra, poderá ser “profano” no céu. Talvez,
o que Dante já tenha nos mostrado, na sua clássica obra “A Divina Comédia”.
JUSTIÇA E MISERICÓRDIA
• Suassuna ao criar este Juízo Final consegue fundir a este legado cristão, os
intuitos de crítica social e o folclore nordestino em uma mesma cena, que
culmina com a compaixão da Virgem Santa para com a alma do anti-
herói,João Grilo.
• A riqueza da cena do tribunal nos causa um deslumbramento pelo grande
efeito fotográfico que evidencia a oposição entre dois mundos. O que
lembra muito bem os pintores góticos que contrapõem à transparência
luminosa das figuras sagradas, à espessura apagada e simples dos
personagens terrestres.
A arte gótica
• A peça apresenta quinze personagens de cena e uma personagem de ligação e comando do espetáculo.
• OUTRAS: Chicó, Padre João, Sacristão, Padeiro, Mulher do Padeiro, Bispo, Cangaceiro, o Encourado,
Manuel, a Compadecida, Antônio Morais, Frade, Severino do Aracaju, Demônio.
• LIGAÇÃO: Palhaço
• As personagens são colocadas em primeiro lugar na análise da estrutura da peça, porque elas assumem
uma posição simbólica, e é desse simbolismo que deriva a importância do texto. ·
PERSONAGENS
• João Grilo é a personagem principal, porque atua como criador de todas as situações da peça.
Além disso, representa o nordestino, astuto, inteligente. Seu nome também simboliza a cultura
nordestina, da mesma forma que : Severino, Encourado e Chicó.
• João Grilo é uma figura típica do nordestino sabido e analfabeto. Habituado a sobreviver e
a viver a partir de expedientes, trabalha na padaria, vive em desconforto, e a miséria é sua
companheira. Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma forma de crença
arraigada na proteção que recebe, embora sem saber, da Compadecida. É essa convicção
que o salva. E ele recebe nova oportunidade de Manuel (Cristo), retornando- o à vida e à
companhia de Chicó. É uma oportunidade inusitada de ressurreição e retorno à existência.
Caberá a ele provar que essa oportunidade foi ou não bem aproveitada.
PERSONAGENS
• b) CHICÓ. Companheiro constante de João Grilo e, especialmente, seu diálogo. Chicó envolve-se nos
expedientes de João Grilo e é seu parceiro, mais por solidariedade do que por convicção íntima. Mas é um amigo leal.
• c) PADRE JOÃO, O BISPO e o SACRISTÃO. Essas personagens, embora de atuação diversa, estão
concentradas em torno de simonia e da cobiça, relacionada com a situação contida no testamento do cachorro.
• d) ANTÔNIO MORAIS. É a autoridade decorrente do poder econômico, resquício do coronelismo nordestino, a
quem se curvam a política, os sacerdotes e a gente miúda.
• e) PADEIRO e sua MULHER. Encarnam, por um lado, a exploração do homem pelo homem e, de outro, o
adultério.
• f) SEVERINO DO ARACAJU e o CANGACEIRO. Representam a crueldade sádica, e desempenham um
papel importante na seqüência de número cinco, porque nessa seqüência matam e são mortos. Com isso, propicia-se a
ressurreição e o julgamento.
PERSONAGENS
• h) MANUEL. É o Cristo negro, justo e onisciente, encarnação do verbo e da lei. Atua como julgador final da
prudência mundana, do preconceito, do falso testemunho, da velhacaria, da arrogância, da simonia ( venda dos
objetos sagrados, venda de indulgências), da preguiça. De personagem a personagem, todos têm seu pecado
definido e analisado, com sabedoria e com prudência.
• i) A COMPADECIDA. É Nossa Senhora, invocada por João Grilo, o ser que lhe dará a segunda oportunidade da
vida. Funciona efetivamente como medianeira, plena de misericórdia, intervindo a favor de quem nela crê, João
Grilo.
PERSONAGENS
• J) O Palhaço realiza, nessa peça, o papel do Corifeu (mestre do coro), como no teatro
clássico, e sua intervenção corresponde à parábase da comédia clássica – trecho fora do
enredo dramático em que as idéias e as intenções ficam claramente expressas, quando um
personagem se dirige ao público:
“Ao escrever esta peça, onde combate o mundanismo, praga de sua igreja, o
autor quis ser representado por um palhaço, para indicar que sabe, mais do
que ninguém, que sua lama é um velho catre, cheio de insensatez e de
solércia. Ele não tinha o direito de tocar nesse tema, mas ousou fazê-lo,
baseado no espírito popular de sua gente, porque acredita que esse povo
sofre, é um povo e tem direito a certas intimidades” (p.23-24).
SITUAÇÃO/ PERSONAGENS/ CONTEÚDO DA
SITUAÇÃO
• 1ª) João Grilo, Chicó e Padre João: a bênção do cachorro da mulher do padeiro.Expediente de João Grilo: o cachorro
pertence ao Major Antônio Morais.
• 2ª)João Grilo, Chicó, Antônio Morais, Padre: chega o Major Antônio Morais.Expediente de João Grilo: o Padre João está
maluco, benze a todos e chama todo mundo de cachorro.
• 3ª )João Grilo, Padre, Mulher,Padeiro, Chicó, Sacristão, Bispo: o testamento do cachorro morto.Expediente de João
Grilo: o cachorro morto, encomendado em latim e tudo mais, deixa no seu testamento dinheiro para o Sacristão, para o
Padre e para o Bispo.Fonte do dinheiro: o Padeiro e sua mulher.
• 4ª João Grilo, Chicó, Mulher: a mulher do Padeiro lamenta a perda de seu cachorro.Expediente de João Grilo: arranja-lhe
um gato que descome dinheiro. Vende-o e faz seu lucro.
SITUAÇÃO/ PERSONAGENS/ CONTEÚDO DA
SITUAÇÃO
• 5ª João Grilo, Chicó, Bispo, Padre, Padeiro, Frade, Sacristão, Mulher, Severino (do
Aracaju), Cangaceiro: o assalto do cangaceiro a Severino do Aracaju. Expediente de João
Grilo: a gaita que fecha o corpo e ressuscita. A bexiga cheia de sangue.Evento especial:
todas as personagens morrem, inclusive João Grilo. Salva-se Chicó.
• O espectador atento sabe ler, na belíssima, alegórica e inusitada cena, quando Jesus dá aos
homens uma nova oportunidade de salvação, um tom didático que alerta sobre os
pecados. Assim, João Grilo, com seu discurso cheio de picardia, é salvo pela intervenção
majestosa e piedosa da Compadecida. Jogo de trevas e luz, contraste entre o profano e o
sagrado, a cena em questão resgata, com seus entes sobrenaturais, a combinação entre o
real e o fantástico, expressão bem completa do estilo naturalista gótico.
• Reunindo, desta maneira, o mundo de hoje e o de ontem, essa instigadora obra, faz
uma releitura da redenção do homem por Cristo e da exaltação e adoração da Virgem
Maria. Contraditoriamente, mostra-nos todas as vilezas próprias dos seres humanos.
Não escapam, tão pouco, os representantes da Igreja.
CUNHO CRÍTICO
• Suassuna, com o Auto da Compadecida, traz de volta o que nos salta aos
olhos: o Renascimento ainda cheio de influências da Idade Média com seu
ponto de vista enfocado em direção ao colorido das minúcias dos vitrais
góticos.
• No calor de fortes luzes e cores, ilumina- se a cena do juízo universal,
reveladora: diante da morte, a sátira social, a denúncia moral e a
igualdade podem- se harmonizar. Além do mais, o entretenimento e o
deleite próprios das obras picarescas estão presentes, repletos de críticas às
indulgências e às orações, com a conivência de um teatro alegórico, que
personifica conceitos e instituições.
•
INTENÇÕES DA OBRA
Sua intenção clara e expressa é de natureza moral, e
de moral católica;
• ” Esse era um cachorro inteligente. Antes de morrer, olhava para a torre da igreja
toda vez que o sino batia. Nesses últimos tempos, já doente para morrer, botava
uns olhos bem compridos para os lados daqui, latindo na maior tristeza. Até que
meu patrão entendeu, como a minha patroa, é claro, que ele queria ser abençoado
e morrer como cristão. Mas nem assim ele sossegou. Foi preciso que o patrão
prometesse que vinha encomendar a benção e que, no caso de ele morrer, teria um
enterro em latim. Que em troca do enterro acrescentaria no testamento dele dez
contos de réis para o padre e três para o sacristão.” (p.63-64).
TRECHOS SIGNIFICATIVOS
• Hipocrisia do Padre:
• “Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito
de se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito
de quem era o cachorro.”
• “Estou acertando as contas com o padre, a qualquer hora acerto
com o patrão! Eu conheço o ponto fraco do homem, Chicó.”
TRECHOS SIGNIFICATIVOS
• Vestibular-76 (1976), da Editora O Lutador-MG, edição dirigida aos exames vestibulares da UFMG. ARRAES, Guel. O
Auto da Compadecida. São Paulo: Globo Filmes, 2000.
• BECKETT, Wendy. História da Pintura. São Paulo: Ática, 1997.
• CAVALCANTI, Carlos. Conheça os Estilos de Pintura: da pré-história ao realismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1967.
• MENÉNDEZ PELÁEZ, Jesús. Historia de la Literatura Española. Volumen II: Renacimiento Y Barroco. León: Editorial
Everest, S.A. ,1993.
• REIS PINHEIRO, Suely. Carlitos: A Paródia Gestual do Herói. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. São
Paulo, 1995.
• SARAIVA, António José & LOPES, Óscar. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora, 3ª Edição.
• SUASSUNA. Ariano. A Compadecida e o Romanceiro Nordestino. In: Literatura Popular em versos. Estudos. R.J.,
MEC, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1973. v.1.
• Ilustrações do filme O Auto da Compadecida