Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. 255 pp. “ Witchcraft, Oracles and Magic among the Azende” publicado em 1937, foi resultado da sua pesquisa de campo entre os Azande no período de 1926 a 1930. Azande significa “o povo que tem muita terra” - “the people who possess much land” • O povo azande vive no nordeste da República Democrática do Congo,(antigo Zaire,na Província oriental, ao longo do rio Uele ), no Sudão do Sul e em algumas partes da República Centro-Africana (Oubangui-Chari nome que a RCA recebeu à época da colonização europeia, vivem no distritos de Rafaï, Zémio e Obo). • The Azande cultural dance during the first Azande International conference in Portland Maine july 3th, 2011. E-P • conseguir aliar de maneira brilhante sua teoria a descrição etnográfica; monografia teórico- descritiva; • esforço hermenêutico; • interpretar significados e mostrar como a agencia atribui as causas a seus atos; O autor mostra que o antropólogo estuda aquilo que encontra na sociedade que escolheu estudar: ele não se interessava por bruxaria, mas os Azande sim. Às vezes ouço dizer que qualquer pessoa pode observar e escreverum livro sobre um povo primitivo. Talvez qualquer pessoa possa,mas não vai estar necessariamente acrescentando algo à antropologia. Na ciência como na vida só se acha o que se procura. Não se podem ter respostas quando não se sabe quais são as perguntas. Por conseguinte, a primeira exigência para que se possa realizar uma pesquisa de campo é um treinamento rigoroso em teoria antropológica, que dê as condições de saber o que e como observar, e o que é teoricamente significativo. É essencial percebermos que os fatos em si não tem significado. Para que o possuam devem ter certo grau de generalidade. É inútil partir para campo as cegas (p. 243). I O que é a bruxaria entre os Azande? A bruxaria fornecia a causa socialmente relevante do infortúnio. Os bruxos herdam a feitiçaria, que esta é uma substância física encontrada em seus corpos e pode ser identificada por um exame após morte. Pode estar latente, ou seja,uma pessoa pode ser bruxo sem o saber. Não se pode ter certeza de quem é e quem não é bruxo. II “A noção de bruxaria como explicação de infortúnios”
“as condições particulares, em uma cadeia
causal, que ligavam um indivíduo a acontecimentos naturais em uma cadeia causal que ligavam um indivíduo a acontecimentos naturais de tal forma que ele sofresse o dano” (p 60). Analisa a noção de bruxaria presente na sociedade Zande: • explicam os fenômenos através da bruxaria • os Azande não ignoram sua causa física ou natural • não acreditam que a bruxaria é a única causa dos fenômenos que lhes causam infortúnio, mas que ela põe os homens em relação com eventos que o fazem sofrer danos. O celeiro que desmorona: Um homem descansa em um celeiro em uma tarde quente. O celeiro onde ele descansa desmorona e o pobre homem morre. Os nativos tem conhecimento de que os insetos deterioram a madeira e que ela apodrece após anos de uso (causa física ou natural), mas o que eles perguntam é: Por que o celeiro desabou justamente no momento em que alguém estava embaixo dele? A bruxaria servirá de explicação causal desse episódio, é ela que explica o motivo der ter alguém embaixo do celeiro na hora do desabamento, ela explica a má sorte, o infortúnio. Sem a ação do bruxo, o celeiro ao desabar não iria afetar ninguém, se algum sofre algum mal, nesse sentido, foi por conta da bruxaria.
“a bruxaria explica por que os
acontecimentos são nocivos e não como eles acontecem (p. 55).” Seria fácil explicar o desmoronamento do celeiro: ele foi provocado pelos cupins. Fácil também explicar porque o homem se encontrava no celeiro: ele lá descansava e fugia do forte calor da tarde. Mas a pergunta importante para os Azande é: Porque estas duas cadeias de acontecimentos tinham que coincidir num dado lugar e num determinado momento? Quando um homem é morto por um elefante, é comum entre os nativos afirmarem que o elefante foi a primeira lança e que a bruxaria foi a segunda lança, foram essas juntas que o mataram “… a bruxaria não é a única razão a que se atribui um fracasso. Incompetência, preguiça, ignorância podem ser indicados como causa”. (p 68). Controle Social
Ao mesmo tempo em que a bruxaria
explica o infortúnio, ela oferece os meios para combatê-la. A bruxaria é, assim, uma forma de controle social. Todos podem ser acusados de bruxaria. Apesar dela ser passada pela hereditariedade, não se sabe quem é bruxo ou não. Os oráculos, divindades que consultadas, expressam uma verdade irrefutável, permitem que a vítima encontre o causador do seu infortúnio. O mais importante dos oráculos é o de veneno: ministra-se uma dose de veneno a uma galinha. É feita então uma pergunta que é respondida pela sobrevivência ou pela morte da galinha. Ao bruxo não resta defesa, mas tão somente a reparação a vítima ou a sua família. A magia permite a cura da vítima. Permite também a vingança: descobrir o bruxo e matá- lo. “Assim, a morte evoca a noção de bruxaria; os oráculos são consultados para determinar o curso da vingança; a magia é feita para executar essa vingança; os oráculos decidem se a magia executou a vingança; depois da tarefa cumprida, as drogas mágicas são destruídas” (p. 228). Celso Vianna Bezerra de Menezes, RAZÕES QUE A “RAZÃO” DESCONHECE. Internet