Вы находитесь на странице: 1из 16

Tendências Contemporâneas

• Identificar as tendências da prosa contemporânea


em língua portuguesa.
• Explicar por que o conto desponta como foco da
prosa de ficção brasileira.
• Analisar a importância da crônica para a literatura
atual no Brasil.
• Identificar os caminhos explorados pelo romance
brasileiro contemporâneo.
• Identificar temas e abordagens e reconhecer as
tendências da criação poética contemporânea em
língua portuguesa.
• Descrever os aspectos básicos da Tropicália e da
poesia marginal das décadas de 1960 e 1970.
• Identificar as Linhas gerais da produção teatral
brasileira no século XX.
POLLOCK, J. Número 22. 1949. Óleo sobre tela, 68/55 cm. O surgimento de novas
tendências exige novas técnicas.
Imagem de abertura
• Observe a reprodução da parte superior da
instalação Amerikka, de Cildo Meireles. Que
impressão ela provoca em você?
• Agora olhe novamente a imagem, prestando
atenção aos detalhes. Que elementos o artista
utilizou para criar essa parte da sua instalação?

MEIRELES, Cildo. Amerikkka. 1991-2013. Detalhe.


Cildo Campos Meireles (1948-) nasceu no Rio de
Janeiro. Artista multimídia, é um dos fundadores da
Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde deu aulas durante um
ano. Nas décadas de 1970, criou obras de forte
caráter político, como Tiradentes — totem-
monumento ao preso político e Quem matou Herzog?
A fragmentação do mundo contemporâneo atinge o indivíduo, que se percebe isolado, sem vínculos
duradouros e busca o prazer pessoal a qualquer preço. Rubem Fonseca é um dos escritores que abordam os
efeitos violentos dessa desagregação na sociedade.

Passeio noturno — Parte I


Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas,
propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na
mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os
sons da casa: minha filha, no quarto dela treinando impostação de voz, a música
quadrifônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala?, perguntou minha
mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.
Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não
fiz nada. Abri o volume de pesquisa sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava
apenas. Você não para de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a
metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já
posso mandar servir o jantar?
A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescido, eu e minha mulher estávamos
gordos. É aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer [...].
Da imagem para o texto (2)

[...] Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu
dinheiro na hora do licor. Minha mulher nada pediu, nós tínhamos conta bancária
conjunta.
Vamos dar uma volta de carro?, convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela.
Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro
custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens
materiais, minha mulher respondeu.
Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o
meu. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois carros
novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente
irritado, mas ao ver os para-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de
aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um
motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí,
como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que
tem mais gente do que moscas. Na avenida Brasil, ali não podia ser, muito movimento.
Da imagem para o texto (3)

Cheguei numa rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou
mulher? Realmente não fazia diferença, mas não aparecia ninguém em condições, comecei
a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. Então vi a mulher,
podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela
caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de
padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada,
de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande dose de perícia.
Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando
ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos
joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda, um golpe
perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma guinada rápida para a
esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus
cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em
nove segundos. Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido
parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio.
Da imagem para o texto

Um dos mais respeitados autores brasileiros


contemporâneos, Rubem Fonseca trouxe, dos anos em
que trabalhou nas delegacias, a inspiração para compor
muitas das personagens que aparecem em seus
romances e contos. Recluso, prefere o anonimato à vida
de celebridade a que teria direito pelo grande sucesso
alcançado por suas obras no Brasil e no exterior.

[...] Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos para-
lamas, os para-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha
habilidade no uso daquelas máquinas.
A família estava vendo televisão. Deu a sua voltinha, agora está mais calmo?, perguntou
minha mulher, deitada no sofá, olhando fixamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para
todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia.
Os extremos do século XX

Cartaz, de 1989, das Guerrila Girls, um grupo feminista, protestando contra uma visão
machista de arte que vê na nudez feminina uma forma de expressão artística “universal”. Em
destaque, a pergunta: “As mulheres precisam ficar nuas para entrar no Met[ropolitan]
Museum?” O folheto-protesto esclarece a raíz da indignação: menos de 5% dos artistas nas
seções de Arte Moderna são mulheres, mas 85% dos nus são femininos.
A literatura do mundo contemporâneo: um espelho fragmentado
• Na literatura, os efeitos da massificação são visíveis. Surgem os best-sellers, livros que
viram moda e são divulgados em listas de livros mais vendidos nas revistas semanais. O
desejo de possuir o livro que todos dizem estar lendo, de assistir ao último filme
campeão de bilheteria, de conhecer as músicas dos grupos de maior sucesso são
importantes fatores para o consumo dos bens culturais contemporâneos.
• O público leitor, restrito à elite até a década de 1940, cresceu e passou a contar com a
adesão da classe média. Esse crescimento desencadeou a multiplicação do perfil do
leitor. Hoje, há um público interessado em obras de autoajuda ou livros para colorir
(nesse caso, não se trata sequer de leitura), e ainda um outro público que se interessa
pelos romances mais “fáceis”. Além desses, há o que compra livros para exibi-los na
estante, e há ainda os leitores que buscam obras instigantes, com qualidade literária.
• Esses leitores, além da inspiração pessoal e do desejo de trilhar novos caminhos
estéticos, desafiam escritores a abandonar fórmulas e modelos passados e a encontrar
novas maneiras de traduzir com qualidade o espírito da época em que vivem.
A ficção contemporânea em Portugal:
Lobo Antunes e as marcas indeléveis da guerra
[...] Éramos cerca de vinte militares que tornavam ao Leste, a fumar em silêncio no
banco de pau, de feições desabitadas de expressão à laia dos retratos das fotomatons,
por detrás das pupilas das quais se não adivinha a suspeita de qualquer emoção, e eu
pensei que vivia há um ano no arame com os mesmos homens sem os conhecer sequer,
comendo a mesma comida e dormindo o mesmo sono inquieto entrecortado de
sobressaltos e suores, unidos por uma esquisita solidariedade idêntica à que irmana os
doentes nas enfermarias de hospital, feita do comum, sabe como é, receio, pânico da
morte, e da inveja feroz dos que prosseguem lá fora um quotidiano sem ameaças nem
angústia a que se deseja desesperadamente voltar, escapando à absurda paralisia do
sofrimento, vivia há um ano com os mesmos homens e não sabíamos nada uns dos
outros, não decifrávamos nada nas órbitas ocas uns dos outros, o rosto com que se saía
para a mata era rigorosamente idêntico ao que se trazia da mata [...].
A ficção contemporânea em Portugal:
Lobo Antunes e as marcas indeléveis da guerra
O mais conhecido romance de Lobo Antunes sobre o
pesadelo colonial é Os cus de Judas, publicado em 1979. Nessa
narrativa de clara inspiração autobiográfica, o leitor é tratado
como interlocutor direto do narrador-protagonista, um médico
português enviado para servir em Angola. A incapacidade de
compreender a lógica da guerra em meio à qual se vê
envolvido é intensificada pelo uso do fluxo de consciência

[...] A pouco e pouco a usura da guerra, a paisagem sempre igual de areia e bosques
magros, os longos meses tristes do cacimbo que amareleciam o céu e a noite do iodo dos
daguerreótipos desbotados, haviam-nos transformado numa espécie de insectos
indiferentes, mecanizados para um quotidiano feito de espera sem esperança [...].
Éramos peixes, percebe, peixes mudos em aquários de pano e de metal,
simultaneamente ferozes e mansos, treinados para morrer sem protestos, para nos
estendermos sem protestos nos caixões da tropa [...].
Saramago: o olhar do presente analisa o passado
A cidade que os homens deixaram de habitar está agora sitiada por eles
Não deve passar em claro o exagero que há na palavra sitiada
Como exagero haveria na palavra cercada ou outra qualquer sinónima sem querer
levantar a debatida questão da sinónima perfeita
Os homens estão apenas em redor da cidade tão incapazes de entrarem nela como de
se afastarem para longe definitivamente
São como borboletas da noite atraídas não pelas luzes da cidade que já se apagaram
há muito
Mas pelo perfil desarticulado dos telhados e das empenas e também pela rede
impalpável das antenas da televisão
De dia uma enorme ausência guarda as portas da cidade
E as ruas têm aquele excesso de silêncio que há no que foi habitado e agora não
Na cidade apenas vivem os lobos
Saramago: o olhar do presente analisa o passado
Uma marca da ficção de Saramago é a construção de
alegorias narrativas que representam momentos históricos
específicos. Um bom exemplo desse procedimento pode ser
encontrado em O ano de 1993, obra de caráter futurista escrita
em 1975, um ano após a Revolução dos Cravos que pôs fim à
ditadura de António Salazar.

Deste modo se tendo invertido a ordem natural das coisas estão os homens fora e os
lobos dentro
Nada acontece antes da noite
Então saem os lobos a caçar os homens e sempre apanham algum
O qual entra enfim na cidade deixando por onde passa um regueiro de sangue
Ali onde em tempos mais felizes combinara com parentes e amigos almoços intrigas
calúnias

E caçadas aos lobos


Literatura africana: Mayombe
“Creio que a literatura nacional é elemento
indispensável, tão importante como outro
qualquer, para a consolidação da
independência.
É um fator que ajuda a aumentar a unidade
nacional, por ser veículo de situações, modos
de vida e de pensar, dentro do País [...].
Afirmo que não há, não pode haver, a
criação dum país verdadeiramente
independente sem uma literatura nacional
própria,
que mostre ao povo aquilo que o povo
sempre soube: isto é, que tem uma identidade
própria”.
Jovem da UNITA com arma em punho. Angola, 1974. Ao lado, PEPETELA. Citado por HILDEBRANDO, António. A parábola do cágado
Angola: a mágoa antiga e o caminho das estrelas

[...] Criar criar


estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças [...]
criar liberdade nas estradas escravas .
NETO, Agostinho.

Ao lado, Baía da Luanda, Angola, maio


de 2016. Após a guerra civil angolana, a
capital vem passando por um processo
de reconstrução.

• Em Angola, como em tantos outros países colonizados, a produção literária esteve, durante muito tempo,
vinculada às tendências e estéticas características da metrópole. Foi em 1951, com a publicação da
revista Mensagem, que teve início a fase da poesia moderna e nacional.
• Influenciados pelo contexto político em que viviam, os poetas da Mensagem dedicaram-se à causa da
conscientização dos problemas angolanos, combatendo, por meio da poesia, a alienação social.
• Com um projeto político definido, esses poetas lançam temas que permanecerão em voga até os dias de
hoje: a valorização do negro e da cultura africana como condição de autodeterminação; a nação africana
que busca a liberdade com autoridade e existência independentes.
Angola: a mágoa antiga e o caminho das estrelas
Para os povos africanos, a tradição das narrativas orais
é muito importante. Por meio dos mitos, das lendas,
dos contos que passam de geração a geração, os
costumes e valores dessas culturas são transmitidos e
reforçados. Quando as ex-colônias portuguesas
conquistam sua independência, torna-se necessário
criar textos literários que “narrem” as novas nações. É
no repertório das narrativas orais e na história dos
anos de opressão que os escritores vão buscar os
elementos essenciais para definir a identidade desses
Pôr do sol atrás de baobá, Quiçama, Angola, 2015. povos.
O fio da história
[...] Qual então o fio da história? O cão? A toninha? O mar? Luanda? Ou tudo isso é que afinal era a vida boa
daqueles tempos pouco depois da independência [...], em que a vida estava na pedra de cada muro, no buraco
de cada rua, na coragem toda nova das pessoas de olharem para o fundo dum beco sem saída e encontrarem
força de sorrir? [...]
PEPETELA. O cão e os caluandas. Lisboa: Dom Quixote, 1985. p. 179. (Fragmento)
Angola: a mágoa antiga e o caminho das estrelas
O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo
Transmitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo
Esvaía-se para o solo do Mayombe, misturando-se às folhas
em decomposição.
[...]
Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse.
Os lábios já mal se moviam.
A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se
do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o
tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folhagem
geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se
individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em
parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal
o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a
mancha verde predominante faz esbater progressivamente
a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas
Amoreira em Angola. Foto sem data. verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num
sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma,
[...] Criar criar
Debatendo-se. Tal é a vida.
estrelas sobre o camartelo guerreiro
[...]
paz sobre o choro das crianças [...]
Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando
criar liberdade nas estradas escravas.
NETO, Agostinho.
o tronco já invisível do gigante que para sempre
desaparecera no seu elemento verde.

Вам также может понравиться