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DO
ADAMASTOR
Discurso do Adamastor - Elaborado pelo professor Jorge Almeida
ELOGIO
41
• 41 O Adamastor disse aos
«E disse: – «Ó gente ousada, mais que portugueses que eram um povo
quantas empreendedor que nunca
No mundo cometeram grandes cousas, repousava das guerras e que
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, estava a desvendar os mares que
E por trabalhos vãos nunca repousas,
ele guardava há muito tempo e
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar meus longos mares ousas, que nunca tinham sido
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, navegados.
Nunca arados d' estranho ou próprio lenho;
• 51
«Fui dos filhos aspérrimos da Terra, Acrescentou que se chamou
Qual Encélado, Egeu e o Centimano; Adamastor, um dos gigantes que
Chamei-me Adamastor, e fui na guerra enfrentou Júpiter, e tinha a tarefa
Contra o que vibra os raios de Vulcano; de comandar uma armada para
Não que pusesse serra sobre serra,
conquistar o mar.
Mas, conquistando as ondas do Oceano,
Fui capitão do mar, por onde andava
A armada de Neptuno, que eu buscava.
• 52
«Amores da alta esposa de Peleu Metera-se na guerra por amor de
Me fizeram tomar tamanha empresa; Tétis, esposa de Peleu e por quem
Todas as Deusas desprezei do Céu, desprezou todas as outras deusas,
Só por amar das águas a Princesa. porque um dia a viu nua na praia
Um dia a vi, co as filhas de Nereu,
com as Nereidas e a sua paixão
Sair nua na praia e logo presa
A vontade senti de tal maneira foi tão forte que ainda não
Que inda não sinto cousa que mais queira. deseja mais nada.
• 53
«Como fosse impossíbil alcançá-la, Confessou que, como era
Pola grandeza feia de meu gesto, impossível seduzi-la, por causa do
Determinei por armas de tomá-la seu tamanho e do seu aspeto,
E a Dóris este caso manifesto. resolveu conquistá-la à força, e
De medo a Deusa então por mi lhe fala;
comunicou-o a Dóris, mãe de
Mas ela, cum fermoso riso honesto,
Respondeu: – «Qual será o amor bastante Tétis, que contou à sua filha, que
De Ninfa, que sustente o dum Gigante? lhe respondeu, perguntado como
seria possível o amor de uma
ninfa satisfazer o de um gigante.
• 54
«Contudo, por livrarmos o Oceano Contudo, a ninfa contou à sua
De tanta guerra, eu buscarei maneira mãe que encontraria uma
Com que, com minha honra, escuse o dano.» solução para evitar a sua
Tal resposta me torna a mensageira. desonra e a guerra. O
Eu, que cair não pude neste engano
Adamastor disse que Dóris lhe
(Que é grande dos amantes a cegueira),
Encheram-me, com grandes abondanças, deu essa mensagem e ele ficou
O peito de desejos e esperanças. iludido e cheio de esperança.
• 55
«Já néscio, já da guerra desistindo, O gigante confidenciou que
Ũa noite, de Dóris prometida, ingenuamente desistiu da guerra
Me aparece de longe o gesto lindo e, na noite do encontro marcado
Da branca Tétis, única, despida. por Dóris, lhe apareceu ao longe a
Como doudo corri de longe, abrindo
imagem da bela Tétis só e
Os braços pera aquela que era vida
Deste corpo, e começo os olhos belos despida, tendo corrido para ela
A lhe beijar, as faces e os cabelos. de braços abertos, começou a
beijar-lhe as faces e os cabelos.
• 56
«Oh que não sei de nojo como o conte! O Adamastor revelou que com o
Que, crendo ter nos braços quem amava, desgosto nem sabe como contar
Abraçado me achei cum duro monte o que aconteceu, pois
De áspero mato e de espessura brava. acreditando estar abraçado a
Estando cum penedo fronte a fronte,
quem amava, estava abraçado a
Qu' eu polo rosto angélico apertava,
Não fiquei homem, não; mas mudo e quedo um monte, cujo o rosto era um
E, junto dum penedo, outro penedo! penedo, o que o deixou mudo e
quieto como outro penedo.
• 57
«Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano, O gigante perguntou à ninfa por
Já que minha presença não te agrada, que motivo não lhe continuou a
Que te custava ter-me neste engano, dar esperança, mesmo que não
Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada? gostasse da sua presença e disse
Daqui me parto, irado e quási insano
que partiu dali louco de raiva
Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro mundo, onde não visse para se esconder onde ninguém
Quem de meu pranto e de meu mal se risse. se risse do seu mal.
• 57
«Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano, O gigante perguntou à ninfa por
Já que minha presença não te agrada, que motivo não lhe continuou a
Que te custava ter-me neste engano, dar esperança, mesmo que não
Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada? gostasse da sua presença e disse
Daqui me parto, irado e quási insano
que partiu dali louco de raiva
Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro mundo, onde não visse para se esconder onde ninguém
Quem de meu pranto e de meu mal se risse. se risse da sua infelicidade.
• 58
«Eram já neste tempo meus Irmãos O Adamastor referiu que, naquela
Vencidos e em miséria extrema postos, altura, os seus irmãos já tinham
E, por mais segurar-se os Deuses vãos, sido vencidos e para maior
Alguns a vários montes sotopostos. segurança dos deuses foram
E, como contra o Céu não valem mãos,
sepultados debaixo dos montes,
Eu, que chorando andava meus desgostos,
Comecei a sentir do Fado imigo, provando que nada se pode fazer
Por meus atrevimentos, o castigo: contra a vontade do Céu e que
ele começou a sentir o castigo
pelo seu atrevimento.
• 59
«Converte-se-me a carne em terra dura; O Adamastor revelou que a sua
Em penedos os ossos se fizeram; carne se transformou em terra e os
Estes membros que vês, e esta figura, ossos em pedras, o seu grande
Por estas longas águas se estenderam. corpo estendeu-se pelo mar,
Enfim, minha grandíssima estatura
transformando-se num cabo, e
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas, para aumentar o seu sofrimento
Me anda Tétis cercando destas águas.» Tétis cerca-o com as suas águas.