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A língua de Camões, a última flor de Lácio,
a doce língua Portuguesa, foi-se
espalhando pelo mundo desde os séculos
XV e XVI, acompanhando o passo da
construção do Império Português, que se
foi progressiva e metodicamente
construindo, dos Açores ao Japão e à
China, pelo meio ficando percorrida toda a
costa africana e achado o Brasil.
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Podemos definir o século XVI, como o Século de Ouro
Português e, consequentemente, o Século de Ouro da Língua
Portuguesa que, então, com cerca de um milhão de falantes,
foi levada para todos os cantos do mundo pelos navegadores,
guerreiros, mercadores, marinheiros, missionários, etc.,
tornando-se língua franca, ocupando, nessa altura, o lugar que
hoje tem o inglês, o de língua hiper-central, na galáxia das
línguas do mundo. Impunha-se, então, a presença a bordo de
um intérprete de português nos navios espanhóis,
holandeses, franceses, ingleses, italianos, etc.
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De há cem anos para cá a língua portuguesa passa do oitavo
para o quinto lugar da lista das línguas maternas
mais faladas do mundo, tendo ultrapassado o polaco e
o italiano apenas em 1935.
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Há hoje cerca de 240 milhões de falantes de português no mundo:
Brasil (190 milhões), Moçambique (20 milhões), Angola (17 milhões),
Portugal (11 milhões), Guiné-Bissau (1,5 milhões), Timor (1 milhão),
Cabo Verde (0,5 milhões), S. Tomé e Príncipe (152 mil).
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Segundo projeções baseadas na evolução demográfica dos oito
países de língua oficial portuguesa, o número de falantes pode
totalizar 335 milhões em 2050.
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Mas, apesar dos seus cerca de 240 milhões de falantes, o
Português, a terceira língua ocidental com maior número de
locutores, apenas atrás do inglês e do espanhol, é uma língua
quase desconhecida internacionalmente e sem a importância
que devia ter no ensino, nas organizações internacionais, na
cultura, na literatura, no comércio, etc. Deve-se tal situação à
péssima política e prática das gentes que a falam e, como já o
dizia António Ferreira no século XVI:
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Ortografia
Palavra de origem grega orto-
(reto, direito, correto, normal)
e -grafia (representação escrita
de uma palavra), é:
o conjunto de regras
estabelecidas pela gramática
normativa que ensina a grafia
correta das palavras.
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Mas, com o advento do Renascimento, relega-se, apesar de mais
simples, a ortografia fonética para segundo plano e recua-se no
tempo, retornando-se ao latim que adquirira, então, prestígio.
Queria-se fazer com que a língua portuguesa ganhasse status de
língua de cultura e, assim, se aproximasse do dito padrão clássico,
valorizando-se os grupos ch (com som de k), ph, rh, th.
Por exemplo, a palavra tipografia era grafada typographia e a
ortografia de hoje era então orthographia.
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Pseudo-etimológico é o
nome que se dá ao período
entre os séculos XVI e XX,
quando se passa a grafar
algumas palavras com ph, rh, th
e a colocar o elegante y até em
palavras que na sua origem não
o tinham: lírio
-em grego leírion
-em latim lilìum
Passa-se a grafar lyrio, com y,
sem razão plausível. Passam
também a ser valorizadas
formas gráficas restauradas,
com base no latim:
- regno por reino;
- fructo por fruto.
Orthographia ou Arte para Escrever Certo na Língua Portuguesa (1633) de Álvaro Ferreira de Vera.
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Luís António Verney (1713-1792) advogava
já na sua obra de 1746, Verdadeiro
Método de Estudar, a simplificação da
nossa língua e propunha a supressão das
letras dobradas quando não
pronunciadas, do uso do c antes do t, do
ch por /k/ e, sobretudo, a supressão das
consoantes não pronunciadas como o g e
o h. Propostas que só muito depois
foram levadas à prática, com muitas
polémicas, avanços e retrocessos que
duram até hoje.
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Gonçalves Viana, na mesma linha, considerava que
o domínio da escrita não deveria ser privilégio de
poucos, mas sim, abranger o maior número possível
de pessoas:
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Em vez de uma reforma radical e definitiva, como fizeram
outras línguas, as doses homeopáticas no português
obrigaram a que de 50 em 50 anos seja feita nova reforma.
Alguns avanços já previstos na proposta de 1907 ainda não
foram postos em prática, como a solução das grafias duplas
x/ch, g/j, etc. Ao contrário do português, línguas como o
italiano, o galego e o catalão já tinham encontrado soluções
para tais casos, que deveriam inspirar as mudanças
necessárias no português. O italiano e o romeno são as
línguas românicas com sistemas ortográficos mais simples e
coerentes. E a grafia do italiano não sofre alterações
significativas desde o século XVI.
Aldo Bizzocchi
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A ortografia francesa é incomparavelmente mais complicada e
mais defeituosa do que a portuguesa; mas pelo menos está (como
a inglesa e a alemã) frisada com rigor; tem sistema pelo qual
todos se regulam.
Carolina Michaëlis
1851- 1925
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Equiparar a nossa a essas duas, seguindo mutatis
mutandis os mesmos princípios que nelas deram
ótimo resultado, regularizar e simplificar,
baseando-nos na história cientificamente estudada
do vocabulário nacional - eis o que convém fazer.
Carolina Michaëlis
1851- 1925
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Neste documento
brasileiro de 1854
pode-se constatar,
entre outras coisas,
o uso das consoantes
duplas .
21
.
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1. Breve Panorâmica Histórica da
Ortografia da Língua Portuguesa
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Primeira Etapa
A Revolução Ortográfica Republicana de 1911:
da Orthographia à Ortografia
Como vimos, até ao século XX a escrita da língua portuguesa era de
cariz etimológico ou pseudo-etimológico e a ortografia reinava sem
rei nem roque, em que cada um escrevia como queria.
É a partir de 1885 que a grafia da língua portuguesa começa a
deslocar o eixo da etimologia e, sobretudo, da pseudo-etimologia
para a fonetização, com a publicação de As Bases da Ortografia
Portuguesa e da publicação, em 1904, de Ortografia Nacional.
Simplificação e Uniformização Sistemática das Ortografias
Portuguesas de Gonçalves Viana, filólogo, linguista, foneticista e
lexicógrafo português. Estas duas publicações de Gonçalves Viana
vão, num primeiro momento, motivar, em 1907, a Academia
Brasileira de Letras a simplificar a escrita e, num segundo momento,
servir de base ao trabalho da comissão nomeada pelo governo
republicano para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme .
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Em 1911 uma comissão de filólogos reuniu-se em Portugal
para oficializar a nova ortografia.
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Da Orthographia à Ortografia
diphthongo (ditongo)
phosphoro (fósforo)
lyrio (lírio)
orthographia (ortografia)
phleugma (fleuma)
exhausto (exausto)
estylo (estilo)
Eça Queiroz
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Esta ortografia utilizada por Eça de Queirós (Queiroz, escrita da
época) em A Cidade e as Serras foi modificada em 1945,
nomeadamente:
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Reações à ortografia de 1911
1
Alexandre Fontes
In A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9
35
Reações à ortografia de 1911
2
Teixeira de Pascoaes
1877-1952
36
Reações à ortografia de 1911
3
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Ironicamente, acabariam os brasileiros com todas as
oscilações entretanto verificadas, a escrever segundo
orientações etimológicas ou pseudo-etimológicas, até 1930.
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1934 – A Constituição Brasileira revoga o acordo de 1931 e
retorna ao passado, mais precisamente a 1891: a ortografia
voltará então a ser orthographia.
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E se o Brasil regrediu meio século na sua ortografia não foi tanto
por amor à etimologia da qual, ao fim e ao cabo, nunca foi
adepto, mas pelo surto de nacionalismo ou patriotismo que se
caracterizava, sobretudo, por renegar o país ex-colonizador e,
consequentemente, afirmar a sua língua como independente da
língua portuguesa como o prova o espírito e a letra do decreto
25 de 16 de setembro de 1935, lavrado pela então Prefeitura do
antigo Distrito Federal: os livros didáticos só sejam
adotados no ensino municipal quando
denominarem de Brasileira a língua falada no
Brasil. (In Diário Oficial, 17-09-1935, Atos do Poder Legislativo
da Prefeitura do Distrito Federal).
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Terceira Etapa
A Revisão Ortográfica de 1945
Tentativa de retorno à etimologia por parte de Portugal e a recusa do Brasil
Depois da deriva nacionalista, o Brasil através da Convenção
Luso-Brasileira de 1943 retoma, uma dúzia de anos mais tarde,
ao acordo de 1931, sendo redigido o Formulário Ortográfico de
1943.
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Em 1943, foi adotada a primeira Convenção Ortográfica entre Brasil e
Portugal, ratificada em 1945 tendo as duas academias chegado,
finalmente a acordo, numa reunião em Lisboa. Mas, na sequência
desse encontro surgiu a chamada Convenção Ortográfica Luso-
Brasileira de 1945 e a parte portuguesa tentou convencer a parte
brasileira a adotar os pontos de vista portugueses, nos quais
predominava a perspectiva etimológica. O Brasil não aceitou os
resultados da Convenção, já que tinham suprimido, para maior
facilidade de alfabetização, as chamadas consoantes mudas ou não
articuladas em palavras como "acto", "directo", "óptimo“ e a
convenção obrigava o Brasil a voltar a introduzi-las na escrita. Ora isso
constituía uma violência, que o Brasil não aceitou. Imagine-se como
reagiriam os portugueses se então os obrigassem a reescrever "fructo"
ou "victória", com consoantes que há muito foram suprimidas!
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Quarta Etapa
Modificações de 1971, 1973, 1975
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1973 – São promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as
divergências ortográficas com o Brasil.
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Quinta Etapa
Tentativa de Acordo de 1986
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Se o acordo Tortográfico de 1986 fosse aprovado o
resultado seria o seguinte:
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Sexta Etapa
O Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990
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O que é o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990
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O Novo Acordo Ortográfico de 1990
Este novo texto, bem menos problemático que o de 1986, teve
dois grandes objetivos:
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MEMBROS DA COMISSÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990
1. Alfabeto
2. Emprego de Minúsculas e Maiúsculas
3. Acentuação Gráfica
4. As Grafias Duplas
5. Supressão de Consoantes Mudas ou não Articuladas
6. A Extinção do Trema
7. Hifenação
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1. O alfabeto passa de 23 para 26 letras, com a reintrodução de
K, W e Y. Neste ponto nada muda em termos práticos.
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Emprego opcional de maiúscula ou minúscula em início de
palavra em:
Bibliónimos (devendo o primeiro elemento ser sempre grafado com
maiúscula):
A Ilustre Casa de Ramires ou A ilustre casa de Ramires
O Ano da Morte de Ricardo Reis ou O ano da morte de Ricardo Reis
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4. As Grafias Duplas
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c)Por divergências de timbre, entre a norma luso-africana e a
norma brasileira, na articulação das esdrúxulas que têm vogais
tónicas <e> e <o>, seguidas das consoantes nasais <m> e <n>,
com as quais não formam sílaba (em Portugal essas vogais são
semiabertas e em grande parte do Brasil são semifechadas), são
legítimas as duas variantes.
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5. Supressão gráfica de consoantes mudas ou não articuladas
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Desaparecem, assim, da língua escrita o “c” e o “p” nas
palavras onde ele não é pronunciado, como em:
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6. A Extinção do Trema
sem
¨ , que no entanto e compreensivelmente se se deixe de
usar nos nomes próprios (MÜLLER) e derivações (mülleriano).
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7. Hifenação
antiaéreo, autoaprendizagem,
Ex.: agroindustrial,
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Prefixos sempre seguidos de hífen:
Além, Aquém, Bem, Ex, Grã, Grão, Pós, Pré, Pró, Recém, Sem, Sota/soto,Vice/vizo
- além-mar, além-túmulo;
– aquém-fronteiras, aquém-mar;
– bem-amado, bem-querer (exceções: bendizer, benquerer,
benquisto);
(= anterior) – ex-senador, ex-esposa;
– grã-duquesa, grã-fino; (= grande) – grão-duque, grão -mestre;
-pós-moderno, pós-meridiano, pós-cabralino;
– pré-nupcial, pré-estreia, pré-vestibular;
– pró-britânico, pró-governo;
– recém-chegado, recém-nascido, recém-nomeado;
– sem-número (= inúmeros), sem-terra, sem-teto, sem-vergonha;
– sota-piloto, soto-mestre;
– vice-diretor, vizo-rei.
Suprime-se o hífen:
à queima-roupa).
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Emprega-se o hífen nas formações por prefixação e recomposição em que:
bem-me-quer, bênção-de-deus,
Ex.: abóbora-menina,
cobra-capelo, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro,
fava-de-santo-inácio, formiga-branca.
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Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se
combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos
vocabulares
Liberdade-Igualdade-Fraternidade
Ex.: A divisa
A ponte Rio-Niterói
O percurso Lisboa-Coimbra-Porto
Áustria-Hungria
Alsácia-Lorena
Angola-Brasil
Tóquio-Rio de Janeiro
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Tudo somado, aqui ficam as contas do Acordo:
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3. Críticas à Nova Ortografia
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O que era importante ter resolvido e o acordo deixou
por resolver:
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Um sem número de críticas têm sido colocadas à revisão
ortográfica, recentemente aprovada, a maior parte das quais sem
razão. Umas prendem-se com o sistema linguístico gravemente
afetado com a reforma, outras com a própria necessidade de
reforma e de unificação ortográficas. De uma forma ou de outra o
Novo Acordo Ortográfico tem desempenhado bem o papel de
bode expiatório, pois sobre ele recaem críticas sobre coisas que
vêm muito de trás, fruto, como vimos antes, de um sistema
linguístico que foi sempre imperfeito e eivado de muitas
incoerências.
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Bode expiatório, igualmente, de embaraços políticos
que, como também vimos, sempre existiram e que se
expressam em frases lapidares de ignorância bairrista:
- É um neo-colonialismo às avessas em que a antiga
colónia se quer impor ao país que deu origem à língua,
descaracterizando-a. Vamos ficar linguisticamente
dependentes da escrita brasileira? Ou ainda melhor : -
Vamos todos ter de falar à brasileira?
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Porque se escreve cor-de-rosa com hífen e cor de
laranja sem hífen?
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Portugal:
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Conclusão
Nenhum sistema gráfico é perfeito -
a escrita é uma tentativa de
representação da fala e, por isso,
ninguém conseguirá escrever
exatamente como fala.
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Perante situações adversas continuam atuais estas palavras de 1918:
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Se há uma língua que se pode reclamar de etimológica é a
língua de Molière, em que um mesmo som pode ter até
nove formas de escrita diferentes, como é o caso das
palavras homófonas:
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Se é verdade que a língua portuguesa é um património,
está bem longe de ser uma arca frigorífica ou, muito
menos, um fóssil.
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Essa república do português não tem uma capital demarcada.
Não está em Lisboa, nem em Coimbra;
não está em Brasília, nem no Rio de Janeiro.
A capital da língua portuguesa está onde estiver o meridiano
da cultura.
Celso Cunha
(1917-1989, professor, filólogo e ensaísta brasileiro)
in Uma Política do Idioma (1964). S. José, Rio, p. 38
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Quanto à nossa posição sobre o AO, subscrevemos a opinião
do escritor angolano :
Pepetela
(1941-…)
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Aplicação do Novo Acordo Ortográfico
na Imprensa
O Expresso apoia e vai adotar o novo Acordo Ortográfico. Do nosso ponto de vista,
as novas normas não afetam - antes contribuem - para a clarificação da língua
portuguesa.
Por outro lado, não consideramos a ideia de que a ortografia afeta a fonética, mas
sim o contrário. O facto de a partir de 1911 a palavra phleugma se passar a
escrever fleugma e, já depois, fleuma não trouxe alterações ao modo como é
pronunciada. Assim como pharmacia ou philosophia.
O facto de a agência Lusa adotar o Acordo, enquanto o Expresso, por razões
técnicas (corretores e programas informáticos de edição) ainda não o fez, leva a
que neste sítio na Internet coexistam as ortografias pré-acordo e pós-acordo.
Pedimos, pois, a compreensão dos nossos leitores.
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NO ANO DE COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA
REPÚBLICA UMA HOMENAGEM É DEVIDA E MERECIDA A
ESTE HERÓI NACIONAL DA ORTOGRAFIA
Aniceto dos Reis Gonçalves Viana
(Lisboa, 06-01-1840 - Lisboa, 13-09-1914)
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Referências Bibliográficas
Instituto Camões
Portal da Língua Portuguesa
Revista Língua
Celso Cunha in Uma Política do Idioma (1964). S. José, Rio, p. 38
Francisco Álvaro Gomes, In Pedagogia da Ortografia: missão (im)possível, 1987.
O Acordo Tortográfico, por Miguel Esteves Cardoso, 1986
Fernando Cristóvão In Acordo Ortográfico desfaz ambiguidades – Ciberdúvidas,
25 de maio 2008.
Diaporama - Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). PNEP – 1.º Ciclo
Sessão Plenária Regional ESEC-UALG 28 de Fevereiro de 2009 Artur Henrique
Ribeiro Gonçalves Maria da Conceição A. O. R. Pessoa de Andrade
Acordo ortográfico: o que muda na língua portuguesa a partir de 2009 in
Abril.com por Rachel Bonino.
Visão: http://aeiou.visao.pt//guia-pratico-para-perceber-o-acordo-
ortografico=f543723
http://www.moderna.com.br/acordo/guia_acordo.pdf
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