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PRECISAMOS FALAR SOBRE FEMINISMOS

Um novo paradigma ético e científico por


e para mulheres do Sul Global

Prof.ª Dr.ª Cibele Cheron

Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS


Mestre em Ciências Sociais com ênfase no Estudo das Organizações pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS
Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS
Pesquisadora Associada ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e
Gênero – NIEM
Membro do Grupo de Pesquisa Gênero, Feminismo, Cultura Política e Políticas
Públicas – CNPq
Membro da Gender Section of Latin America Studies Association – LASA
Mulheres, nós, que não inventamos nem a pólvora nem
a bússola, que não domesticamos nem o vapor nem a
eletricidade, que não exploramos nem os céus nem os
mares, (...) tampouco inventamos essa língua que
falamos. Outros forjaram, durante séculos, o
instrumento que hoje serve para nos expressarmos,
para dizer aquilo vedado e reprimido de família em
família, de mulher em mulher.
Não criamos ainda nossa própria linguagem, salvo
exceções, porque ainda somos viajantes nessa travessia
em direção a nós mesmas, à nossa identidade que
passa, necessariamente, pela reconquista de nosso
corpo que foi confiscado, colonizado, expropriado.
Quando tenhamos destruído a máquina de guerra que
arrebatamos na luta, a máquina da linguagem imperial,
o logos, inventaremos uma palavra que não asfixie a
outras línguas, mas que as desate, uma palavra que
reconheça e valorize a alteridade.
Os costumes não
admitem a paixão
para as mulheres.
Permitem-lhes
somente o amor. É
talvez por essa
razão que elas amam
tão totalmente.

Quando se gosta da
vida, gosta-se do Marguerite
passado, porque ele é Yourcenar, “primeira
o presente tal como mulher” a ser aceita
sobreviveu na memória na Academia de
humana. Letras Francesa.

Não é uma mulher que ali ingressa pela primeira vez


desde a criação, em 1635: é Yourcenar que, como
destacaram todos os críticos, escreve como um homem.
Seus pares a reconheceram.
“Quando escrevemos e
quando lemos, é fácil
esquecer que no princípio
não é o verbo, é o grito. grito (...)
O ponto de partida da
reflexão teórica é a
oposição, a negatividade, a
luta (…). O grito é
bidimensional: não é apenas
um grito de raiva, é também
de esperança.
esperança É uma
esperança ativa (...) de que
podemos mudar
John Holloway, “Cambiar assincoisas,
el mundo é
tomar el poder”
um grito de rechaço ativo,
(...) que aponta ao A razão
fazer.
fazer pode
” ser universal?
O pensamento, o conhecimento, os valores podem ser universais?
O universal é possível num universo de diferenças?
Minhas queridas hermanas, os perigos
que enfrentamos como mulheres de cor
não são os mesmos das mulheres
brancas, embora tenhamos muito em
comum. Não temos muito a perder –
nunca tivemos nenhum privilégio.
Gostaria de chamar os perigos de
“obstáculos”, mas isto seria uma
mentira. Não podemos transcender os
perigos, não podemos ultrapassá-los.
ultrapassá-los
A mulher de cor iniciante é invisível
no mundo dominante dos homens brancos
e no mundo feminista das mulheres
brancas (...). Nosso discurso também
não é ouvido. Nós falamos em línguas,
como os proscritos e os loucos.
O homem branco diz: (...)Parem de
falar em línguas, parem de escrever
com a mão esquerda. Não cultivem suas
peles coloridas, nem suas línguas de
fogo se quiserem prosperar em um
mundo destro.
(...) talvez se formos à
universidade. Talvez se nos
tornarmos mulheres-homens ou
tão classe média quanto
pudermos. Talvez se deixarmos
de amar as mulheres sejamos
dignas de ter alguma coisa para
dizer que valha a pena.
A mulher do terceiro mundo se
revolta: (...) Quando você vier
bater em nossas portas e
carimbar nossas faces com
Filha de camponeses do sul do Texas
que tiveram suas famílias separadas por ESTÚPIDA, HISTÉRICA, PUTA
uma fronteira imposta, Gloria Anzaldúa PASSIVA, PERVERTIDA, quando
tornou-se ativista desde jovem. Nos você chegar com seus ferretes e
anos 1950 participou dos protestos de marcar PROPRIEDADE PRIVADA em
camponeses do sul do Texas. No fim dos
anos 1960 teve contato com a literatura nossas nádegas, nós vomitaremos
feminista e, nos anos 1970, inicia sua de volta na sua boca a culpa, a
produção literária quando escreve peças auto-recusa e o ódio racial que
de teatro, poemas, contos, romances e você nos fez engolir à força.
autobiografias. No começo dos anos
1980 defende a posição de que as
Joguem fora a abstração e o
aprendizado acadêmico, as regras, o
mapa e o compasso. Para alcançar
mais pessoas, deve-se evocar as
realidades pessoais e sociais – não
através da retórica, mas com
sangue, pus e suor. Desenterrem a
voz que está soterrada em vocês.
Não a falsifiquem, não tentem
vendê-la por alguns aplausos ou
para terem seus nomes impressos.
Especialmente a partir da década
de 60, especialistas da Ciência
Política, Sociologia, Antropologia,
Filosofia, História, Economia e
Ecologia, entre outros campos,
unem-se a ativistas e movimentos
sociais feministas, étnico-raciais,
de classe/trabalho,
ambientalistas, pacifistas,
campesinos, comunitários e de
outras bandeiras para denunciar
aspectos destrutivos da nossa
racionalidade instrumental; do
utilitarismo impregnado na
racionalidade que
produz/reproduz nossas
condições de existência.
Ciência e Tecnologia???
A emergência dos Estudos de Ciência e Tecnologia (“vertente europeia”) ou
Ciência Tecnologia e Sociedade (“vertente norte-americana”), ambos
conhecidos pelo acrônimo “STS” (em inglês Science and Technology Studie e
Science, Technology and Society), é localizada, não coincidentemente, neste
mesmo período entre 1960-70.
O desenvolvimento de teorias preocupadas com a relação ciência, tecnologia e
sociedade teve origens sócio-históricas num sentimento social e político
de alerta, correção do otimismo do
pós-guerra, o que culminou num
movimento de contracultura e
descontentamento com as
guerras recentes e o militarismo.

Melba Roy Mouton (1929-1990) atuou


como Chefe Assistente de Programas de
Pesquisa na Divisão de Trajetória e
Geodinâmica da NASA na década de
1960, e chefiou um grupo de
matemáticos da NASA chamado
"computadores humanos“.
...Neste momento, os movimentos sociais antissistema fizeram da tecnologia
moderna, dos Estados (e suas políticas científico-tecnológicas) objetos de
crítica e luta.

O campo de estudos CTS surge não


apenas buscando compreender o
fenômeno científico e tecnológico,
no contexto social e em relação aos
seus condicionantes, mas também
entender e atuar em relação aos
impactos sociais e ambientais.

Perspectiva pós-estruturalista de
B.S. Santos e suas 5 ecologias:
pensar o mundo sem reproduzir
assimetrias entre
conhecimentos: popular
camponês x acadêmico científico;
Perspectiva situada/parcial (Donna
Haraway): parcialidade (lugar
“corpo-espaço” de produção) dos
conhecimentos.
Movimentos Populares de Base
Comunitária Indígena e Camponesa
Aproximações Teóricas
buen vivir (“buenos vivires”) enquanto princípio ético,
práticas sociais e epistemologias – alternativa a própria noção
de desenvolvimento...
Atores/as- Alberto Acosta (equatoriano) e Eduardo Gudynas
(uruguaio) e de Silvia Rivera Cusicanqui (boliviana) e
Catherine Walsh (professora titular da Universidade Simon
Bolívar no Equador).

Recolocam o tema das violências e “horizontes históricos


do colonialismo cultural interno” da América Latina (teorias
pós-coloniais) a partir de uma perspectiva ambientalista,
indígena e também feminista, nomeada na América do Sul
como perspectivas “descoloniais” ou “decoloniais”.
Aproximações Teóricas

Autoras dos Estudos Feministas da C&T


...dando continuidade a aproximações já iniciadas durante
a pesquisa de doutorado...

Feminismo: movimentos e epistemologias; teorias e


políticas...

- críticas ao androcentrismo e patriarcado e ao


antropocentrismo na formação do pensamento, ciência e
teorias-práticas sociais.
-epistemologias feministas como lentes (conjuntos de
abordagens, categorias e conceitos) pertinentes para
entender processos de colonização e desconolização em
curso...
Aproximações Teóricas
Estudos Feministas da C&T
Vertentes dos ESCT contribuíram para pensar formas de
ir além do construtivismo da C&T, distintas abordagens:
etnográfica, a crítica de base marxista e a feminista...

Estudos Feministas da Ciência e Tecnologia (EFCT) ou


Estudos de Ciência, Tecnologia e Gênero (CTG):
“foram pioneiros em abordar a tecnologia e sua relação
com corpos, processos biológicos e relações de poder; e
uma leva crescente de autores interessados em práticas
ligadas à genômica e outras biotecnologias emergentes”
(Monteiro, 2012: 143).
Aproximações Teóricas
Perspectiva parcial ou situada
Donna Haraway (1995) e Sandra Harding (1993) e sua
noção de “objetividade forte” e “empirismo
Stand Point Feminism, esboça uma “ciência sucessora,”
como aquela que tornaria não conflitivas a produção
científica e parcialidade ou viés x objetividade.
Feminismo Descolonial: questionam as categorias sociais
o gênero como uma categoria relacional e contextual,
tomando como responsabilidade a invenção de novas
categorias e metodologias para diálogos reais entre
conhecimentos localizados - objetividade forte ou
conhecimento situado, parcial e corporificado em termos
das correntes feministas.
Aproximações Teóricas
*Harding e Haraway, assim como Boaventura Sousa
Santos, partem de uma crítica à “ciência moderna” e de
grande parte do discurso sobre a tecnociência
contemporânea e suas prática de redução da diversidade
epistemológica do mundo...
- também trabalham com possibilidades de traduções,
diálogos entre distintos e múltiplos...
Boaventura – proliferar as epistemologias, pluralidade
epistemológica do mundo
Harding e Haraway: “ciência sucessora” - capaz de fazer
“traduções críticas do mundo”
Aproximações Teóricas
Economia Feminista: dimensão reprodutiva é crucial
para a produtiva e para manutenção da vida - continuum
produção-reprodução.
-lares e comunidades como centro da organização e gestão
da vida humana – atividades de cuidado, afetivas, nutrição
-a exploração do trabalho feminizado é o que viabiliza o
sistema de produção capitalista.
-evidente o conflito capital/vida e a necessidade de
colocar a sustentabilidade da vida no centro da vida
econômica e social.
(Amaia Orozco, 2014 e Cristina Carrasco, 2003)
Aproximações Teóricas
Economia Feminista: recupera a dimensão afetiva do esta
bem - cuidado - que exceden as análises de custo-benefício

O sistema capitalista-patriarcal se apropria tanto o


trabalho de cuidado e reprodutivo como os bens da
natureza…

Aproximações com Ecofeminismo

Ecofeminismo: questiona à violência e exploração


direcionada ao que é entendido social e culturamente como
feminino e próximo à natureza (Vandana Shiva, Alícia Puleo,
Ynestra King…feministas indígenas e camponesas).
Aproximações Teóricas
Ecofeminismo propõe um racionalidade que seja
integrada a ética, uma ética amorosa e comprometida com
todos os seres - biocêntrica - e com a igualdade entre os
seres humanos (entre gêneros e respeito as diferentes
sexualidades) – incompatível com a lógica do
«desenvolvimento» a qualquer custo.

“Ambas visiones dan valor a elementos, procesos y sujetos que han


sido designados por el pensamiento hegemónico como inferiores
y que, mismo siendo absolutamente cruciales para la existencia
humana, han sido invisibilizados (...) Las dimensiones ecológica y
feminista son imprescindibles para transformar la concepción y la
gestión del territorio y para reorganizar los tiempos de la gente...”
(Yayo Herrero).
Aproximações Teóricas
Ações coletivas na América Latina e potências epistêmicas
e éticas para pensar caminhos alternativos à crise
socioambiental ou mesmo um “novo paradigma
civilizatório”.
- As dimensões do bem viver - como Alberto Acosta
Eduardo Gudynas , Guido Galafassi e Vasapollo -
explicam parte desta “ascensão” do bem viver à rejeição
ao sistema capitalista e sua crise atual, acompanhada
por um fortalecimento de movimentos populares, lutas e
governos na América Latina que se atribuem valores e
ancestralidades indígenas.
Aproximações Teóricas
Buen Vivir /Vivir Bien
“Uma noção colocada como fundamento étnico de um
padrão de desenvolvimento ou romper com a ideia de
desenvolvimento” (Acosta, 2016).
- conceito aplicado em políticas e por movimentos sociais -
surgiu em países onde existe uma densidade de
organização social comunitária “andino-amazônicos”.
Não baseada no lucro, mas na produção de satisfação
em harmonia com a natureza. Uma noção de natureza
que inclui humanidade e território vivente. Surge como
fundamentos der uma crítica ao capitalismo na transição
de sociedades agrárias às modernas, não é estranho
que ressurja em diferentes lugares do planeta” (FARAH
e VASAPOLLO, 2011: 18, tradução livre).
Bem Viver como semântica ocidental, é fruto de um
primeiro esforço para compilar conceitos, experiências e
práticas existentes nos Andes, na Amazônia e outros
povos do planeta. Um dos pontos fundamentais é que
“supera o tradicional conceito de desenvolvimento e
seus múltiplos significados, introduzindo uma visão muito
mais diversificada e complexa” (ACOSTA, 2016: 24).
Na Constituição de 2009 da Bolívia “Constituición Política del
Estado de Plurinacional de Bolívia” em sua introdução
(escrita por Evo Morales), coloca:
Natureza e seus bens como sagrados e a pluralidade de
povos que constituem o país, fazendo crítica a colonização
Os princípios do Estado Boliviano: soberania, dignidade,
solidariedade, busca do bem viver, pluralidade cultural,
social, política, entre outros, que fariam parte do agora do
“Estado Unitario Social de Derecho Plurinacional
Comunitario”.
No entanto, entre a assunção destes princípios e diretos
dos povos e Natureza pelo governo e sua prática
social como fundamentos reais dos países existe
desafios e atualmente ainda uma distância.
Desafio da “pluriculturalidade”: levar a sério a dívida
histórica e o significado não meramente decorativo da
pluralidade cultural.

“Certas matrizes disciplinares hegemônicas tendem a


suprimir ativamente outras práticas de produção
intelectual; elas impõem seu universalismo abstrato ao
pluralismo real dos discursos e das práxis intelectuais
vigentes em lugares e tempos determinados. (...)
(MORAES e COELHO, 2013: 7).
Parcialidade – Universalidade
Toda a produção de conhecimento implica um ponto de
partida, uma origem que se relacionada com faz parte do
exercício da produção e do que será produzido.
Para Haraway e Stand Point Feminism, esta origem deveria
ser parte explícita da produção do conhecimento e não
oculta pelo “truque divino” (god trick), que buscar
transformar o conhecimento situado em universal.
. A ideia deste locus não significa uma filiação a um grupo,
mas que toda teoria parte de uma motivação, de
experiências, conexões e reflexões particulares
(Haraway, 1995: 17).
Tal proposta teórico-metodológica não evoca uma
perda da objetividade como tal; pelo contrário, a
“objetividade forte” feminista considera que
tornar presentes no momento da pesquisa os
múltiplos aspectos que constituem o mundo, a
ciência e os seres humanos pesquisadores/as
(valores, emoção, contexto cultural e histórico,
etc.), tornaria este tipo de ciência mais objetiva
e não menos.
Santos também afirma: o reconhecimento da diversidade
epistemológica do mundo não significa negar a
objetividade ou racionalidade como componentes
centrais de várias formas de conhecimento, claramente
do científico

Esta perspectiva também não implica adotar uma posições


relativistas - todos os conhecimentos igualmente
aplicáveis em todos os momentos.
O desafio intelectual é entender e dialogar com
práticas e discursos de comunidades e grupos
étnicos específicos sem utilizar discursos
relativistas ou noções essencializantes de
tradição e cultura
(Rita Segato, 2011).

- Exigência de praticar uma intensa “ginástica


mental” (suas palavras), principalmente, quando
se pensa na formulação de políticas públicas e
intervenções do estado ou outras instituições.

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