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■Delinear
■ as características principais da prática pedagógica medieval a partir do contexto histórico;
■Identificar
■ as principais contribuições da Patrística e da Escolástica para a pedagogia medieval;
■Analisar
■ o contexto de surgimento das universidades e sua influência na prática pedagógica.
Considerações iniciais
Prezado(a) aluno (a), seja bem-vindo (a) à terceira parte da viagem pelos tempos da História da Educação.
Nas aulas anteriores, fizemos uma incursão pela Antiguidade, passando pelo Egito, pela Índia, pela China e
pela Palestina e pudemos observar como esses povos foram construindo o processo educativo.
Depois, chegamos à linda e ensolarada Grécia, considerada o berço da civilização ocidental e ali nos
deparamos com um ideal de educação que passou a privilegiar a formação integral do homem e vimos que
essa concepção trouxe contribuições decisivas e permanentes para as teorias educacionais. Ao passar por
Roma, entendemos que o seu papel histórico não foi o de criar uma nova civilização, mas sim amalgamar
e solidificar no mundo mediterrâneo a civilização helenística, ao adotar, como modelo, as instituições
educativas gregas e, com elas, sua cultura.
Contextualização
A Idade Média abarca um período de mil anos, desde a queda do Império Romano,
em 476, até a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453. As sucessivas
invasões bárbaras vão dividindo o Império em diversos reinos. O escravismo,
modo de produção da Antiguidade greco-romana, lentamente vai cedendo
espaço ao feudalismo, uma vez que o medo leva as pessoas a buscar proteção
dentro dos muros dos castelos. Assim, as cidades se despovoam, a sociedade se
torna agrária e o comércio local fica restrito. É nesse contexto fragmentado que a
religião surge como elemento agregador (ARANHA, 1996, p. 70).
Como afirmamos acima, é comum ouvirmos que a Idade Média foi um período obscuro, caracterizado por
uma profunda regressão da civilização e pelo retorno às condições de vida do tipo arcaico: economia de
subsistência, sociedade regulada pela dependência a formas de quase escravidão, relações internacionais
raras, conflitos de etnias. Embora essas afirmações tenham um fundo de verdade, também é certo que
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a Idade Média não é absolutamente a época do meio entre dois momentos altos de desenvolvi-
mento da civilização: o mundo antigo e o mundo moderno. Foi, sobretudo, a época da formação da
Europa cristã e da gestação de pré-requisitos do homem moderno (formação da consciência indi-
vidual; do empenho produtivo; da identidade supranacional, como também um modelo de socie-
dade orgânica, marcada por forte espírito comunitário e uma etapa da evolução de alguns saberes
especializados como a matemática ou a lógica) [...] (CAMBI, 1999, p. 142).
Assim, pode-se afirmar que a Idade Média foi uma época de grandes discussões em nome da cultura. A
herança cultural greco-latina fica resguardada nos mosteiros, sendo os monges os únicos letrados num
mundo em que nem nobres nem servos sabem ler. Num primeiro momento, há uma grande dependência
do clero para se conseguir uma formação intelectual. No século IX, são fundadas escolas e o ensino é
reformulado. A partir do século XI, a ascensão da burguesia provoca o reaparecimento das cidades, e a
fermentação intelectual favorece o surgimento das universidades, nos séculos XII e XIII.
No contexto fragmentado do Império Romano é a religião que surge como o elemento agregador,
não apenas espiritual, mas também político, tanto que os chefes dos reinos bárbaros se convertiam
ao Cristianismo para contar com a influência da Igreja nas decisões. Grande mentora e dominadora do
conhecimento, a Igreja Católica o considerava sinônimo de austeridade e privilégio somente daqueles que
Nesse contexto, o homem se viu cerceado e vigiado em suas ideias e em sua capacidade de produção, pois
viveu à sombra das ideias cristãs, o que não impediu, no entanto, que se propusesse a explorar aspectos do
conhecimento humano por uma ótica diferente, fazendo uso da fé para erigir a razão. Nessa época,
Ressalte-se que para os gregos antigos, não existia a noção de criação nem de providência divina, já que
Deus era tido como um princípio ordenador, impessoal e indiferente ao destino dos homens. Já os cristãos
subordinam os valores mundanos aos supremos valores espirituais, tendo em vista a vida após a morte, e
por isso as noções de mal e pecado tornam-se centrais. Assim, os parâmetros educacionais da Idade Média
vão se fundar na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela terra e que deve cuidar,
em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida eterna.
Tendo em vista as possíveis contradições entre fé e razão, recomenda-se respeitar sempre o princípio da
autoridade, que exige humildade para consultar os grandes sábios e intérpretes, autorizados pela Igreja,
sobre a leitura dos clássicos e dos textos sagrados. Para garantir que não houvesse os desvios da fé,
estudiosos começam a adaptar o pensamento grego ao novo modelo de homem adequado à concepção
de vida cristã. Nesse sentido, o ponto de partida é a verdade revelada por Deus, a autoridade indiscutível
do texto sagrado a que se adere pela graça da fé. Na luta contra os pagãos e no trabalho de conversão, é
necessário demonstrar que a fé, embora seja mais importante, não contraria a razão, que é seu instrumento.
E assim as mudanças vão lentamente ocorrendo, exacerbadas pelas angústias humanas, pelas paixões e,
principalmente, pela necessidade de se explicar os conhecimentos à luz da fé e não da razão.
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3.2 O sistema feudal e as classes sociais
Como vimos no início desta aula, o escravismo greco-romano vai lentamente cedendo espaço ao
feudalismo na longa época da Idade Média. Trata-se de uma nova organização da sociedade, estruturada
em torno do feudo, que pode ser definido como “uma unidade territorial, governada por um senhor que
age dentro dele como fonte de direito, que se empenha na sua defesa militar, que impõe aos habitantes do
feudo sua obrigação à fidelidade e à submissão, em troca de proteção” (CAMBI, 1999, p. 155). A cultura, no
feudo, além de desenvolver-se apenas no castelo ou nas Igrejas, caracteriza-se por poucos intercâmbios e
é devotada à fé cristã, aos seus dogmas e aos seus mitos. A sociedade feudal, essencialmente aristocrática,
se estabelece sob os laços de suserania e vassalagem que entremeiam as relações entre os senhores de
terra. É uma sociedade fixa, com escassa mobilidade social e pouca reciprocidade, uma sociedade de
ordens, em que os homens se acham estavelmente colocados e têm um papel social bem determinado. A
condição desses homens era determinada pela sua relação com a terra. No alto da pirâmide estava o rei,
cujo poder, com o tempo, se viu enfraquecido pelos senhores feudais, que detinham o poder financeiro
e, mais tarde, pela supremacia do papa. O clero vinha em seguida, depois os cavaleiros, senhores menos
poderosos que recebiam terras dos grandes senhores em troca de lutar a seu favor. No outro extremo, se
encontravam os servos da gleba, os despossuídos, impossibilitados de abandonar as terras do seu senhor,
a quem eram obrigados a prestar serviços. Diferentemente do sistema escravista, o senhor feudal não
tinha responsabilidade de sustentar os servos: eles recebiam um pedaço de terra para plantar e com ele
deviam se manter.
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Nessa sociedade hierárquica e estática, predomina a ideia de que Deus determinara a cada um o seu lugar,
seja religioso, seja nobre ou camponês. “No ideário medieval, essa divisão está orientada para fins comuns:
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alguns rezam para obter a salvação de todos, outros combatem para todos defender, e a maioria trabalha
para o sustento de todos” (ARANHA, 1996, p. 81). Sendo assim, não se julga necessário ensinar as letras aos
camponeses, basta formá-los cristãos.
Durante a Idade Média, a Igreja vai organizando suas próprias práticas educativas e suas próprias teorias
pedagógicas, tendo a cultura helenística como base e também a própria evolução das comunidades
cristãs. A Patrística, ou filosofia dos Padres da Igreja, teve início no período decadente do Império Romano,
no século II, num momento em que a sociedade estava desagregada, devido às invasões bárbaras. Essa
filosofia surgiu, pois, no movimento de unir as pessoas em torno da necessidade comum, a da fé absoluta
em Deus, e se caracterizava pela intenção de defender essa fé, converter os pagãos e combater as heresias
por meio de textos em defesa da Igreja Católica e do Cristianismo. Assim, a Patrística propagava uma
teoria do conhecimento que unisse a fé e a razão, sendo a razão entendida como auxiliar da fé e a ela
subordinada. A educação patrística estimulava, acima de tudo, a obediência aos mestres, a resignação e a
humildade diante do desconhecido. O objetivo era treinar o controle das paixões para merecer a salvação
numa suposta vida após a morte. Convém ressaltar a figura de Santo Agostinho, que demonstrou que há
limites para a razão, quando se trata de questões religiosas. O pensamento de Santo Agostinho pode ser
assim explicado:
Santo Agostinho propõe uma nova perspectiva para a pedagogia através de suas obras: nas Confissões,
ele delineia o processo de formação do cristão; no De Magistro, ele trata do tema educar/instruir; em A
Cidade de Deus, traça um itinerário educativo para a humanidade; em outros textos, expõe um programa
de cultura e de instrução e fixa os graus de formação espiritual do cristão: ler, meditar, orar, contemplar.
O projeto educativo de Santo Agostinho surge, pois, como um dos grandes modelos da pedagogia cristã,
uma vez que seu pensamento transformou a crença em doutrina para orientar a educação, consolidando
o papel da Igreja e propagando os ideais do cristianismo.
Saiba mais
Nesse link você terá acesso a uma breve biografia de Santo Agostinho. Acesse e
confira!
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3.4 Diretrizes da Pedagogia Escolástica
Na primeira metade da Idade Média, vemos que era grande a influência das obras dos Padres da Igreja.
Naquele momento, era importante retomar a cultura antiga e adequá-la às verdades teológicas. Pensadores
desse período consultavam manuais de estudo, liam as obras clássicas, selecionavam textos, copiavam,
traduziam, adaptando-os à fé cristã e, dessa forma, difundiam a crença e estabeleciam parâmetros de
interpretação. As obras da filosofia grega eram traduzidas e comentadas. No século VI, o Organon, a lógica
de Aristóteles, é traduzido e passa a dar subsídios ao desenvolvimento do gosto pela disputa intelectual.
Prezado (a) aluno (a), você viu até aqui que os parâmetros da educação na Idade Média estavam alicerçados
na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela terra, e que deveria cuidar, em primeiro
lugar, da salvação da alma e da vida eterna. Nesse momento, recomendava-se o respeito ao princípio da
autoridade, que exigia humildade para consultar os grandes sábios, autorizados pela Igreja, sobre a leitura
dos clássicos e dos textos sagrados. Tal comportamento buscava evitar a pluralidade de interpretações e
manter a coesão da Igreja. Após o trabalho enciclopédico dos sábios da primeira parte da Idade Média,
a Escolástica inicia a sistematização da doutrina, recorrendo cada vez mais ao recurso da razão. Para
esclarecer:
a Escolástica é a mais alta expressão da filosofia cristã medieval. Desenvolve-se desde o século IX,
tem seu apogeu no século XIII e começo do século XIV, entrando em decadência até o Renascimen-
to. Chama-se Escolástica por ser a filosofia ensinada nas escolas. Scholasticus é o professor das artes
Nos séculos XII e XIII, período áureo da Escolástica, tendo em vista a fermentação intelectual trazida pelo
ressurgimento das cidades, torna-se mais difícil impor a crença. Assim, os teólogos passam a apoiar a fé
na razão, para justificar essa crença, converter os pagãos, combater os infiéis. Faz-se necessário o uso da
argumentação, sustentável por sistema lógico de exposição e defesa dos pontos de vista. Para embasar
essas argumentações, é usada a lógica aristotélica, ou silogismo, forma acabada do pensamento dedutivo,
tipo de raciocínio que parte de proposições gerais para chegar a conclusões particulares.
E assim, os textos sagrados bíblicos e os escritos dos Padres da Igreja passam a ser comentados sob uma
ótica mais racional, alargando a reflexão pessoal, criando o método escolástico, cujas etapas eram a leitura,
o comentário, as questões e a discussão. Ainda que a reflexão pareça ser o ponto alto desse método, vale
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ressaltar que nem sempre as discussões avançavam a ponto de colocar em risco as verdades reveladas,
visto que estas estavam vinculadas ao estrito controle da ortodoxia religiosa.
A Escolástica tem como principal expoente Santo Tomás de Aquino (1225-1274), que ao divulgar e comentar
a obra de Aristóteles, faz adaptações à verdade revelada. De fato, Santo Tomás tentou conciliar a filosofia
aristotélica com o Cristianismo e, nesse caso, sua tentativa era “harmonizar a experiência dos sentidos e do
intelecto com as exigências da fé, fazendo justiça a ambas” (SOUZA, 2006, p. 76).
Quanto à pedagogia, Santo Tomás contribuiu escrevendo De Magistro ou “Sobre o ensino”, obra homônima
à de Santo Agostinho, na qual
Com uma pedagogia embebida de fé na razão, esse pensador defendia que o ensino dependia das Santas
Escrituras e da graça da providência divina, uma vez que o homem tinha a natureza corrompida. O ideal de
verdade e do bem, assim como a superação das tentações do pecado, só seriam alcançados por meio da
educação. Sua doutrina educacional não se baseava em apenas um único aspecto da realidade humana,
mas buscava levar em conta todo o conjunto, unindo elementos dos variados saberes: da Filosofia, da
Teologia, da Educação, contrapondo-se à visão fragmentada do conhecimento e do próprio ser humano.
No período final da Idade Média, século XIV, a Escolástica entra em declínio, uma vez que essa época
é marcada por uma série de tensões e rupturas, no que diz respeito à própria hegemonia da Igreja. O
aparecimento dos estados nacionais e a burguesia em ascensão traziam consigo novas ideias e aspirações
já não compatíveis com aquelas pregadas pela religião oficial.
Saiba mais
A partir do século XI, observa-se uma fase de renascimento comercial, caracterizada pela retomada da
atividade comercial. A relação social de produção estabelecida entre o senhor feudal e o servo passa
por mudanças e, aos poucos, a manufatura e o comércio trazem um movimento de urbanização, que dá
origem a uma nova classe social, fortemente individualista e autônoma, atenta à produção de bens e ao
incremento da riqueza. Trata-se da burguesia, que alarga seu raio de intervenção, dinamiza toda a vida
social, pressionando os organismos políticos e religiosos e produzindo uma transformação da mentalidade
dos grupos mais dinâmicos dentro da Europa.
Assim, a sociedade se torna mais complexa, as heresias aumentam, prenunciando as rupturas na unidade
secular da Igreja. Também o gosto pelo racional se torna evidente e todo o universo da educação sofre
uma transformação no sentido burguês: articula-se, socializa-se e dá asas a uma fermentação intelectual
que culmina com a criação das universidades, nos séculos XII e XIII. “Ainda que a palavra universidade não
significasse inicialmente um estabelecimento de ensino, mas sim qualquer assembleia corporativa, seja
de marceneiros, curtidores ou sapateiros” (ARANHA, 1996, p. 79), esse modelo de instituição educativa, no
curso de três séculos, se impôs em toda a Europa e tornou-se o principal instituto de instrução ocidental,
continuando a dominar a cena da atividade educativa pelos séculos futuros. Foram daquelas assembleias
corporativas, portanto, que surgiram as pessoas que se interessavam pela ampliação dos estudos, não
só das artes liberais (Gramática, Dialética, Retórica, Matemática, Geometria, Música, Astronomia), mas de
Saiba mais
A priori não houve um modelo para se constituir a universidade. De fato, por todas as partes da Europa,
o que ocorria era a reunião de mestres e estudantes, que estabeleciam seus próprios estatutos, elegiam
representantes, organizavam-se para garantir o auxílio mútuo. Os estudos universitários organizavam-se
segundo o modelo da Escolástica e em torno da figura dos clérigos vagantes, um grupo urbano, crítico
da ordem social, tanto religiosa quanto laica e que exprimia uma concepção de vida desencantada e
mundanizada. Apesar disso, a formação dos estudantes nas universidades medievais ocorria por meio de
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um rigoroso método de ensino, que privilegiava o comentário de textos, tanto teológicos quanto jurídicos,
médicos ou outros, submetendo-os ao rigor do método escolástico.
Como em qualquer corporação, havia a exigência de provas para obter os títulos de bacharel, licenciado
e doutor. Ao longo da Idade Média são fundadas mais de 80 universidades na Europa Ocidental. A
universidade torna-se, assim, centro de fermentação intelectual, funcionando como centro de grande
atividade intelectual, ameaçando o dogmatismo da Igreja Católica, que mantivera a hegemonia da cultura
e da espiritualidade no Ocidente até então. Afrontada com frequência e, conservadora, a Igreja instala
a Inquisição ou Santo Ofício, cujos tribunais se espalham a partir do século XII na Europa para apurar os
desvios da fé. As ordens religiosas assumem o trabalho de manter a ortodoxia religiosa, com censura e
rigor, punindo os dissidentes, queimando livros e seus autores.
Considerações finais
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final de mais uma etapa de nossa viagem intelectual. Dessa vez, visitamos,
ainda que rapidamente, o contexto histórico e educacional da Idade Média. Em nossa passagem por esse
período, pudemos observar que o advento do Cristianismo operou uma profunda revolução cultural no
mundo antigo ao propor um novo tipo de homem que, moldado pelo âmbito religioso, vem modelar toda
a visão da sociedade, agora inspirada e sustentada pelos valores do Evangelho. Vimos que a produção
Até breve!
Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna, 1996.
JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário Básico de Filosofia. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 10. ed. São Paulo:
Cortez, 2002.
SOUZA, Neusa Maria Marques de (org.). História da educação: Antiguidade, Idade Média, Idade
Moderna, Contemporânea. São Paulo: Avercamp, 2006.